Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
A Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) começa nesta quarta (25.07), em Paraty, e com ela uma programação que visita temas como amor, morte, desejo e transcendência. Até domingo (29.07), a agenda, como sempre, dialoga com a escolha do autor homenageado do evento, autora neste caso, a multifacetada – and polêmica – Hilda Hilst (1930-2004).
Frequentadora da alta sociedade paulistana, Hilda já abordava homens na rua em 1950 se tivesse vontade. Estava sempre cercada amantes e de uma turma de intelectuais, depois também de seus muitos cães. Explorou um lado místico e ainda escreveu peças de teatro e pornografia, entre elas a ousada história de uma menina que, com apenas oito anos, passa a se prostituir por incentivo da própria mãe em “O Caderno Rosa de Lori Lamby”.
Tamanha a curiosidade em torno de sua persona rendeu a montagem de uma casa inteirinha dedicada a sua vida e obra só para a festa: a Casa Hilda Hilst, criada em uma parceria entre o Instituto Hilda Hilst e a plataforma girl power Hysteria. E, claro, não é só. Há Fernanda Montenegro na abertura, a presença de uma das revelações do ano, Geovani Martins, morador do Morro do Vidigal, uma giga Livraria da Travessa, os autor gringo tudo, a leitura dos livros de cabeceira dos autor gringo tudo, pequenas editoras fofíssimas, como a Lote 42, e Paraty – que por si só é uma atração à parte. Há cults que torcem o nariz, alegando que a festa é pop demais, mas para os amantes de literatura a Flip é um verdadeiro parque de diversões.
Vá além dos destaques da programação principal. O maior evento internacional dedicado à literatura no país é uma oportunidade de conhecer coisa nova. Circule para descobrir a programação Off-Flip, muitas vezes tão disputadas quanto à principal. Para os fãs dos indies, já estamos apaixonados pelo Flipei, uma seleção de livros de pequenas e médias editoras, com uma programação bem boa unindo debates e shows… tudo num BARCO! Já A Casa da Porta Amarela, apresenta a segunda edição de feira de editoras independentes. Para ficar de olho nelas: Casa Bondelê, com programação só de mulheres, tem bate-papo com Noemi Jaffe e a casa Insubmissa de Mulheres Negras, com Conceição Evaristo.
Pela primeira vez em 16 anos de Flip, o autor homenageado terá um espaço próprio em Paraty. Localizada em frente à Praça da Matriz, no centro histórico, a Casa Hilda Hilst convida o visitante a entrar no universo de Hilda. A programação será intensa, com oficinas, mesas, saraus e uma mostra audiovisual idealizada pela Hysteria que apresenta desenhos inéditos da escritora, depoimentos de amigos íntimos dela e uma performance da atriz Tainá Muller, que se prepara para viver a autora no cinema, caracterizada como Hilda pela primeira vez. O espaço ainda terá uma loja-conceito da super crush Livraria da Travessa e o Bar do Bico em alusão a um trecho do livro “Cartas de um Sedutor”. O acesso é gratuito e está sujeito à lotação.
A programação completa – e desesperadamente extensa – está toda aqui. É legal assistir às mesas ao ar livre, inclusive para apoiar o evento. Há ingressos aqui. Mas como não tá fácil pra ninguém… a praça da Matriz tem um espaço aberto reservado para a transmissão dos encontros. Vantagem: o clima é bem mais gostoso e você já pode abrir uma cerveja enquanto ouve seu autor favorito. Desvantagens: não há tradução simultânea e o espaço é disputado. Faz questão de assistir? Programe-se.
A cidade fica lotada durante todos os dias da festa, principalmente no fim de semana. Uma alternativa é levar lanchinhos e comer em horários menos visados, além de explorar as vielas mais distantes da praça da Matriz. Um exemplo bem bom é o Manuê, que oferece açaí, lanchinhos e doces maravilhosos num preço bem ok. Se for tirar pelo menos um dia para comer muito maravilhosamente – e vale à pena, porque há muitas opções incríveis – tente o Quintal das Letras. Fica na Pousada Literária, ou seja, você ainda corre o risco de esbarrar os palestrantes.
A estrutura principal do evento é montada na praça da Matriz. Uma tenda para 500 pessoas receberá as mesas de debates com autores com ingressos a R$ 55 (ainda há alguns disponíveis no site). Em frente, outra tenda, para 700 pessoas sentadas, exibirá os debates em telão gratuitamente.
*Foto capa: A Casa do Sol, em Campinas, onde Hilda morou de 1966 até morrer, em 2004 por Frâncio de Hollanda.
Jornalista, meio camaleão, Natália Albertoni escreve sobre cultura e constrói cenas com linhas, agulha e papel. É, hoje, coordenadora de comunicação da Conspiração, tendo integrado o lançamento da Hysteria, hub de criação formado por mulheres dentro da produtora. Também foi PR e editora da plataforma multicultural MECA, além de repórter cultural no núcleo de revistas da Folha de S.Paulo.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.