Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Pensar na Bahia é trazer à mente praias paradisíacas, sol e mar. Porém, esse belo estado nordestino esconde um verdadeiro tesouro no meio de seu sertão árido: vinhedos coloridos em meio à sua caatinga. Ali, o Vale do São Francisco surpreende e não é pouco.
O Rio São Francisco é um dos cursos de água mais importantes do Brasil e da América do Sul. Ele passa por 5 estados e 521 municípios. O Velho Chico, como é conhecido, tem 2.800 quilômetros de extensão e sua nascente está situada na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Além da sua importância na produção de energia, ele é responsável também pela fruticultura irrigada nas regiões de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).
O Grupo Miolo, além de sua presença forte no Rio Grande do Sul, é dona também da Vinícola Terranova, em Casa Nova, na Bahia. Eles adquiriram a Fazenda Ouro Verde, onde hoje está a Vinícola Terranova, no ano 2000. Na época, já existia uma pequena vinícola em funcionamento no local, que foi totalmente restaurada e ampliada. A construção da nova vinícola começou em 2002 e levou dez anos para ser totalmente concluída. Hoje 10% da produção é destinada ao mercado internacional.
Desde sua abertura para o público, eles recebem cerca de 2.500 visitantes por mês. São 683 hectares, área que compreenderia uma cidade de 30 mil habitantes. Desses, 200 hectares são dedicados ao plantio das uvas. É horizonte de parreiras a perder de vista.
Diferentemente da maioria dos vinhedos, a Terranova conta com até duas safras e meia de uvas por ano devido ao controle que faz do ciclo das parreiras. Ou seja, o ciclo normal que leva um ano na maior parte do mundo, ali leva apenas 4 meses. De um lado elas estão verdejantes e carregadas de uvas, do outro lado elas estão nascendo ou ainda na fase de poda. Esta é a região mais seca do Brasil. Anualmente contam com 3.100 horas de sol e apenas 400mm de chuvas anuais. O inverno nunca chega diferentemente da maioria das vinícolas ao redor do mundo (incluindo as brasileiras). O que causa tal milagre é a irrigação contínua e localizada por sistema de gotejamento do Rio São Francisco. A plantação é dedicada à uva perfeita para espumantes, vinhos jovens e frutados, e também do melhor suco de uva integral que você encontrará no mercado. Além dos espumantes e vinhos, a Miolo também produz brandy em parceria com a espanhola Osbourne, mas esse eu não experimentei.
De acordo com o Adriano Miolo, enólogo do grupo, o Terranova “é um projeto mais ousado da Miolo, afinal desenvolver um projeto de vinhos vinhos e espumantes numa região tropical é um grande desafio, dado que ainda existem poucos estudos dessas regiões a nível mundial, além de serem poucas as regiões no mundo com essas características.” Além do Vale do Rio São Francisco, algumas regiões da Índia, Venezuela e da Tailândia têm também esse tipo de viticultura. Hoje se orgulham de terem apostado na região. Da Terranova sai o ótimo Moscatel Espumante e uma boa variedade Shiraz, que encontraram seu melhor terroir no Vale do São Francisco. Mas quem ganhou meu coração ali foi Terranova Rosé de Noir Brut, o primeiro espumante elaborado com a uva Grenache.
Fizemos o passeio pela vinícola com o engenheiro agrônomo Adauto Quirino Júnior, responsável pelo processo de irrigação das plantas. Ele nos explicou de maneira didática como funciona o sistema criado para a vinícola simular as quatro estações do ano usando a água e a poda. A cada 60 dias de descanso da planta (para acumular reservas), chega o momento da poda iniciando assim um novo ciclo de produção de vinho. Com ele, visitamos diferentes parreiras, aprendemos a colher as uvas (suculentas e doces) num processo bem delicado para não machucá-las, e seguimos para um dos momentos mais esperados: ver de perto a produção e engarrafamento dos vinhos e, claro, a degustação. Depois do calorão, foi a vez de entrar numa sala congelante e lá degustar 7 tipos de vinhos/espumantes. Dois deles eram apenas bases para a produção do espumante (eu fiquei torcendo para que eles venham a produzir o Chenin Blanc, um dos meus vinhos brancos favoritos), e os demais divididos entre espumantes e vinho tinto.
Degustamos o Terranova Brut, que é leve, tropical e festivo; o Terranova Brut Rosé, com gosto levemente adocicado e de morangos maduros; o Terranova Moscatel, perfeito para acompanhar sobremesas; e, por fim, dois Syrah que me surpreenderam, o Miolo Single Vineyard Syrah e o Testardi, meu favorito de toda essa lista. O Testardi é um vinho mais estruturado, intenso e volumoso. Não é à toa que leva este nome em italiano que, em português, significa “teimoso” e ele custa cerca de R$ 160 a garrafa. Eu nunca imaginaria tomar um vinho tinto tão bom vindo da região nordeste do Brasil.
Já virando um pouco os olhos com a quantidade de vinho degustado e o sono violento que me acometeu, foi a hora de seguirmos para visitar a Fazenda Grand Valle, que produz anualmente 5 mil toneladas de mangas. Eu não sou grande fã de manga, mas encontrei ali a minha redenção e o açúcar que eu estava precisando pra acordar. Foi a melhor manga que comi na vida.
Voltamos para o ônibus e seguimos a viagem para conhecer um dos lugares mais bonitos da região, o Lago do Sobradinho, onde navegaríamos no barco Vapor do Vinho, que oferece passeios regulares com parada na Vinícola Terranova. Meia-hora nos separavam de carro da vinícola, mas eu não vi passar o caminho porque adormeci completamente.
O Lago de Sobradinho é um dos maiores lagos artificiais do mundo (e o maior da América do Sul). São 4.214 quilômetros quadrados de área e 320 quilômetros de extensão, ainda assim a área já sofreu secas em que o volume do lago chegou a apenas 1,11% da sua capacidade. Mas, para a nossa sorte, o lago estava com água suficiente para bons mergulhos.
O Vapor do Vinho é um barco gigante de três andares, com capacidade para 332 passageiros, com restaurante, jacuzzi, áreas para relaxar e até um tobogã que sai do último andar e leva corajosos em alta velocidade até a água. Famintos que estávamos, fomos direto para a parte que interessava, o almoço. A comida é típica nordestina e super saborosa, à base de peixes e carnes. Uma tainha gigante assada acompanhada de farofa e arroz era tudo que eu precisava, mas o purê de banana da terra fez eu me sentir abraçada. O menu ainda contava com sarapatel, escondidinho de carne seca, carne de bode, feijão tropeiro e iscas de peixe para comer à vontade. Para beber? Espumante, claro!
A embarcação navegou lago adentro até alcançar a Ilha da Fantasia, uma praia de água doce, onde finalmente eu pude me banhar nas águas do São Francisco. Diferentemente do litoral da Bahia, a água do rio é gelada na medida certa. A praia em volta, com areia fofa, é convidativa para esticar a canga e se entregar ao sol (mas requer cuidado, já que é movediça em alguns lugares, por isso não recomenda sair andando por ela sem um guia a tiracolo).
Terminamos nossa viagem brindando com espumante (claro) e assistindo a partir do convés a um dos pores-do-sol mais bonitos que vi nos últimos tempos, enquanto nosso barco ia se distanciando da água para alcançar a terra de volta.
O Vapor do Vinho oferece o Roteiro Enoturístico saindo de Petrolina (PE). O passeio custa R$ 160 e inclui: transfer rodoviário em Petrolina, navegação pelo Lago de Sobradinho, música ao vivo, almoço a bordo, banho na Ilha da Fantasia, visita à vinícola Terranova com direito à degustação de vinho, brandy e espumante. As saídas acontecem aos sábados e domingos às 8h da manhã e retorna às 17h30.
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A história da vitivinicultura no sertão baiano começou ainda nos anos 1960, produzindo vinhos bases para o vermute. A história é longa, mas só agora o brasileiro começou a descobrir o enoturismo no sertão, hoje responsável por 15% da produção de vinhos nacionais. Petrolina conta até com curso de formação de tecnólogo em Viticultura e Enologia.
Nós ficamos no ótimo hotel Nobile Suítes Del Rio Petrolina, que fica de frente para o rio. Os quartos são amplos, com 37m2, e arejados. Dá até para passar uns dias por lá trabalhando, pois os quartos são bem equipados com wi-fi, e TV LCD. O hotel conta também com uma ótima piscina e academia. As tarifas custam a partir de R$ 240 para quartos Superior Twin a R$ 357, o Premium com vista para o rio e cama king size.
Aproveitando que está em Petrolina, não deixe de conhecer o Restaurante Capivara, onde o seu Sebastião Avelino comanda a cozinha com criatividade. Ele é também dono da maior coleção de vinhos da região, com mais de mil garrafas. O nome do restaurante é uma homenagem ao Parque Nacional da Capivara, que fica a 300km de Petrolina (olha aí mais um ótimo motivo para visitar a região). Além da cozinha regional à base de peixes e carnes, o Capivara oferece também pratos à base de massas de fabricação própria, magret de pato, risotos.
Há voos diários da Gol saindo de Guarulhos para Petrolina (PE), que fica a 50km de Casa Nova (BA). Nos voos de Petrolina para outros destinos nacionais é liberado o embarque com até 6 garrafas de 750ml ou 5 litros na bagagem de mão.
Esta viagem foi feita a convite da Miolo e da Gol, que agora são parceiras no ar em voos internacionais (mas estão se dando bem em terra também).
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.