Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
A edição de 2018 do Festival Path contou com uma presença especial: as conexões holandesas, formadas por um time de 9 palestrantes que representam muito bem a tradição do país em criar design de ponta. Os integrantes desse time aplicam o design em áreas variadas como arquitetura, medicina regenerativa e construção civil passando pela arte com o propósito de questionar a relação dos humanos com a tecnologia.
O que faríamos se pudéssemos sentir os dados? Com este questionamento, Leanne Wijnsma trouxe o cheiro dos dados e o conceito de tecnologia instintiva. A artista acredita que agiríamos de forma diferente, caso as tecnologias nos despertassem os sentidos, tal qual um cheiro de queimado nos deixa alertas. “Achamos que somos livres para fazemos nossas próprias escolhas, mas somos menos livres do que pensamos, e ainda menos no universo digital, o qual não podemos sentir. Os vazamentos de dados não têm nenhum sinal instintivo” provoca.
O artista Ruben van de Ven se intitula um maker crítico e questiona a nossa percepção acerca da tecnologia e a noção de que algoritmos sejam completamente objetivas e imparciais. Em entrevista exclusiva para o Chicken or Pasta, van de Ven falou de seus questionamentos: “Desafio essa ideia de objetividade [dos softwares de análise dados]. Quando examinamos como funcionam esses softwares, ocorre que vieses [culturais] estão dentro dos procedimentos automatizados. Os sistemas de classificação produzidos por esses sistemas algorítmicos não deixam espaço para o diferente. Geralmente, levam a uma baixa representação de pessoas de minorias ou condições econômicas desfavoráveis.” Ruben define seu processo método de trabalho como “dramatização de dados” – “ao contrário da ciência e visualização de dados, esse método visa estabelecer uma relação emocional com o trabalho. Desta forma ele permite um entendimento das implicações da tecnologia num nível maior do que o de uma publicação textual, por exemplo”, explica.
Você já ouviu falar em “pesquisador especulativo”? É assim que Arne Hendricks se define. Arne se engaja em ideias incomuns e vê isso como “uma forma de se libertar dos poderosos e destrutivos paradigmas existentes”. No Path, Hendriks trouxe o projeto “The Incredible Shrinking Man” [“O Incrível Homem Que Encolheu” em tradução livre] no qual, do alto de seus quase 2 metros de altura, questiona se a nossa obsessão pelo aumento da estatura é realmente desejável uma vez que indivíduos de menor estatura se mostram melhor adaptadas ao meio ambiente. E quais são grandes desafios da humanidade para alguém tão questionador quanto Arne? “Nosso infinito desejo por mais; Nosso crescente medo do outro; E nossa inabilidade de nos vermos como parte de uma entidade viva maior” respondeu ao Chicken Or Pasta.”
Arne curtiu bastante São Paulo – “Felizmente tivemos alguns dias para experienciar o quão incrível é São Paulo. Poderia morar aqui.” Que bom que gostou, Arne! Volte sempre e traga seus amigos inventivos holandeses quando quiser!
Participaram da Conexão Holandesa: Chloé Rutzverld, Leanne Winjsma, Ruben Van de Ven, Ward Massa, Eric Geboers, Ermi van Oers, Arne Hendriks, Pim van Baarsen e Emma van der Leest.
Fotos e Agradecimentos a Ron Santing.
*Foto destaque: Mauritsstad, capital da Holanda no Brasil, e hoje em dia a cidade de Recife (Pernambuco). Pintura de Frans Post (1657) by TheShowaDaily
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.