Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Comer bem não é só saciar o paladar e o estômago. Comer bem também é sentir-se confortável, acolhido e obviamente ser bem atendido. É inegável que a gastronomia paulistana – e mundial – vem tomando formas mais caseiras, mais receptivas, aconchegantes e menos pretensiosas. Culpa do tão esperado fim da gourmetização e o começo de um movimento que trata a comida como ela deve ser tratada: como comida!
Caipira que sou, sempre torci por mais lugares com essa pegada “casa de mãe” onde a dedicação e o amor empregados no preparo dos pratos sejam mais latentes que a estrelas renomadas. E felizmente tenho visto isso acontecer cada vez mais em São Paulo. Felizmente!
Foi buscando essa onda de prezar por lugares onde a história, o amor e a dedicação de quem prepara a comida é refletida na mesma, que me deparei com o Borgo Mooca. Que a Mooca é um reduto da comida roots, da italianada feliz e receptiva, todos sabemos. Mas eu nunca imaginei encontrar algo além dos grandes pratos de macarrão da mamma em cantinas cheias de famílias. Tolinho que sou!
Já na chegada, o Borgo surpreende. Em uma ruazinha pacata, em uma das laterais de Clube Juventus, fica esse sobradinho dos anos 50 com cara de casa de vó e que esconde grandes surpresas. Com um atmosfera meio vintage-maluquete o interior é, além de convidativo, muito curioso. Do banheiro ao quintal, da cozinha à varanda, tudo pede uma espiadinha!
Se por acaso houver alguma espera, o que provavelmente não acontece normalmente, a simpatia e o carinho dos atendentes fazem a vez para a experiência continuar a surpreender. E ao sentar-se à mesa, certamente em algum momento o chef Matheus vai passar para cumprimentá-lo. Mas não com pompa de chef estrelinha, mas sim como um amigo que parece te conhecer há anos. É um cara muito legal!
Depois de já ter trabalhado com grandes nomes da gastronomia brasileira, viajado o mundo, feito especializações na Itália, e passado um tempo trabalhando com comida de rua, o Matheus seguiu o sábio conselho da esposa Bianca e voltou para a cozinha. Tirando suas inspirações das receitas da nonna, no jazz, no blues, nas suas diversas experiências mundo afora, e utilizando técnicas gastronômicas muito bem aplicadas, o chef cria pratos fartos e com muita personalidade.
“Eu estou super feliz pois voltei a fazer o tipo cozinha que eu acredito!”
Definir a cozinha do Borgo Mooca é um pouco arriscado para uma primeira experiência. O que dá para afirmar que além do menu curto e objetivo, você vai encontrar muita criatividade e personalidade. Mas também que é uma cozinha muito fresca e sazonal, que muda semanalmente. Então creio que seja mais sensato falar sobre o que eu pude provar naquele dia.
Para abrir os trabalhos, um pão caseiro com azeite de manjericão e uma manteiga coberta com cebola carbonizada. Senhor-pai-do-céu! Poderia viver desse pão com manteiga.
Na sequência, um bolinho de arroz carnaroli atomatado de lamber os beiços.
Já o prato principal, eu fui pessoalmente na cozinha ver do que se tratava. Um tradicional cacio e pepe, feito por anjos e acompanhado de um filé de copa lombo à milanesa que dormiu em uma piscininha de leitelho antes de ser empanado. De morrer pela boca!
Os amigos que acompanhavam ficaram com o Atum Flip Flap, um lombo de atum mal passado, com vinagrete de polvo e purê de favas. Favas, são amor mano! Ah! E o Matheus ainda deu um toque final com pancheta defumada na casa. Salve-se quem puder!
Acompanhando tudo isso, alguns rótulos de vinho, cervejas artesanais bem diferentes ou um delicioso chá preto com limão siciliano bem gelado. Foram 4, no meu caso.
Já para a sobremesa, uma prova do poder criativo e adaptativo da cozinha do Borgo. Recém chegado do Recife, o chef aproveitou o bolo de rolo que trouxe na bagagem para preparar um prato simples e delicioso: a Cassata Siciliana
“Eu derrapo à beça, eu erro. É natural que toda semana eu mude o cardápio.” – assume ele.
Não nego que me peguei muito eufórico e até inflamado com a experiência no Borgo Mooca. Ouvi quem disse ter vivido o contrário do que eu vivenciei. Que achou a comida bem “marromenu” e o atendimento/simpatia do pessoal bem dentro da média paulistana. Discordo 100%! Vivi no Borgo ótimos e inspiradores momentos. Não só no paladar, mas na troca entre quem cozinha e serve, e quem senta e saboreia. Tem mais do que só comida envolvida na arte de servir. E replico: é esse tipo de cozinha que particularmente tenho paixão e fomento sempre que possível. Parabéns, Matheus! Já sou seu fã. Vida longa ao Borgo.
Antes de terminar, o Borgo funciona preferencialmente com reserva. Então se te convenci, liga e reservar para não correr risco de perder a viagem!
Ah! E obrigado Bianca!
Borgo Mooca
Rua Com. Roberto Ugolini, 129 – Parque da Mooca
Quintas e sextas, das 18h30 às 23h; sábados, das 12h às 23h; domingos das 12h às 17h.
Reservas: 11 9704.17543
O Jo é do tipo que separa pelo menos 30% do tempo das viagens para fazer o turista japonês, com câmera no pescoço e monumentos lotados. Fascinado pelas diferenças culturais, fotografa tudo que vê pela frente, e leva quem estiver junto nas suas experiências. Suas maiores memórias dos lugares são através da culinária, em especial a comidinha despretensiosa de rua. Seu lema de viagem? Leve bons sapatos, para agüentar longas caminhadas e faça uma boa mixtape para ouvir enquanto desbrava novos lugares. Nada é melhor do que associar lindas memórias à boas canções.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.