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Quem reclama que a arte não deve se meter em política não entendeu nada e tem que voltar para o começo do jogo. A arte nunca foi uma forma de mostrar coisas bonitas e bichos fofos e coloridos que nos fazem sorrir. Desde sociedades primitivas chinesas de 3 mil anos atrás, a arte sempre foi um veículo de contestação de si própria. Mas a discussão na arte é muito mais ampla e profunda que o xingar-muito-no-twitter, e é isso que se pode ver perfeitamente na exposição ‘Ai Weiwei – Raiz’, em cartaz na Oca, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Ai Weiwei é um dos maiores e mais reconhecidos artistas da atualidade, justamente por ter uma obra toda calcada no discurso político. O trabalho do artista chinês aborda temas caros para todo o mundo, como a crise dos refugiados, a luta por democracia, a perda de liberdade e individualidade, e a degradação do meio ambiente. Só que no lugar de usar um discurso agressivo e combativo, Ai Weiwei aborda esses temas espinhudos com poesia.
A exposição no Brasil é a maior individual do artista já feita no mundo, ocupando os mais de 8 mil metros quadrados da Oca com 70 obras entre as históricas e uma série de inéditas feitas aqui mesmo. Estão lá algumas das mais famosas, como a foto Study of Perspective – Tiananmen Square (1995-2003), em que ele mostra seu dedo do meio para o parlamento chinês, e Dropping a Han Dynasty Urn (1995), em que ele se fotografou quebrando propositalmente um vaso de 2000 anos, e aqui reproduzido em bloquinhos de Lego. A impressionante instalação Straight (2008-2012), um amontoado de barras de ferro retificadas retiradas dos escombros de escolas de Sichuan depois de um devastador terremoto em 2008, chega ao Brasil na versão mais completa já apresentada ao público. Já as delicadas sementes de girassol feitas uma a uma em porcelana da obra Sunflower Seeds (2010) veio para cá com ‘apenas’ 34 milhões de peças (a original, no Tate Modern em Londres, tinha 100 milhões).
Para a mostra Raiz, Ai Weiwei fez uma série de viagens pelo Brasil desde 2017, onde desenvolveu trabalhos junto com comunidades locais e artesãos. Nessas obras fica fácil para nós perceber como ele usa a subversão de métodos ancestrais, raízes culturais e suportes tradicionais para abrir um diálogo abrangente e contundente. Em Ex-Votos, por exemplo, ele contou com escultores da Juazeiro do Norte (CE) para criar mais de 200 bonecos que contam sua história. Root Land é um conjunto de esculturas feitas com raízes mortas de pequi-vinagreiro, uma árvore original da Bahia que, mesmo tendo uma vida média de 1200 anos e sendo pouco usada para a marcenaria, está correndo risco de extinção.
O artista chinês vive hoje em exílio voluntário em Berlim. Em 2011, ele foi preso por 80 dias em um local secreto, sem direito a defesa ou comunicação com o mundo exterior. Uma vez liberado, passou a viver sob forte sistema de vigilância, em uma quase prisão domiciliar. Depois de sair do seu país de origem, passou a acompanhar de perto os movimentos migratórios que estão causando uma crise social sem precedentes na África e no Oriente Médio. Com esse histórico, ele entende muito bem o que é lutar contra regimes autoritários. Ele sabe o que é viver sob a sobra da guerra. E é por isso que sua arte é e sempre será política. Mas o que ele consegue ensinar melhor que ninguém é que a melhor forma de luta pela democracia é pacífica e amorosa.
Ai Weiwei – Raiz
Oca – Parque Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, s/n
De terça a sábado, das 11h às 20h. Domingos e feriados, das 11h às 19h.
Até 20 de janeiro de 2019
Ingresso $20. Compra antecipada aqui.
*Foto do destaque: Jo Machado
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.