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Atravessando o maior rio da Irlanda, a beleza inconfundível dos mundialmente famosos Cliffs of Moher – e de muitos outros cliffs – em county Clare; e mais, cultura, ilhas, fiordes e castelos de contos de fadas em county Galway.
No post anterior sobre o trajeto do Wild Atlantic Way, nossa viagem foi de Dublin até Killarney, rodou os belíssimos roteiros no condado de Kerry, e parou na cidade de Tarbert, antes de atravessar o estuário do rio Shannon e passar para County Clare.
Para atravessar o histórico rio da Irlanda, e chegar na segunda parte da viagem, é possível pegar um ferry em Tarbert e atravessar o rio em 20 minutos até Kilrush. A outra opção é dirigir 60km para dentro do território pela N69, e atravessar o rio na sua primeira ponte, que fica na cidade de Limerick, terceira maior cidade da Irlanda – e que também merece uma visita. Quem opta por fazer este caminho, retorna por mais 80km pela N18 e N68 até Kilrush, passando pela cidade de Ennis, capital do condado de Clare.
Limerick
Limerick e Ennis são as duas principais cidades em County Limerick e County Clare, respectivamente, mas não fazem parte do roteiro do WAW. Limerick abriga a importante University of Limerick, uma das maiores do país, e tem, portanto, uma população jovem e excelentes pubs. Destacam-se como principais pontos turísticos a St John’s Cathedral e o King John’s Castle. Entre os pubs, o Flannery’s Bar para quem curte um bom whisky, e o Dolan’s Pub, com agitadas bandas irlandesas.
Kilrush é uma cidadezinha irlandesa de ritmo lento que, apesar disso, oferece muito de cultura local. O destaque na cidade é o pub Crotty’s Pub, querido pela população local e turistas habituais, onde se apresentam músicos irlandeses da região. Com staff super simpático, lá uma lareira fica permanentemente acesa durante os dias frios.
Outro destaque da cidade é a feira Kilrush Farmers Market, que acontece toda quinta-feira na Market Square bem no centro. Vale ainda uma rápida visita a pontos como a igreja de St. Senan’s Church, e o Shannon Dolphin and Wildlife Centre, que realiza passeios para avistar e nadar com golfinhos na região do estuário do Rio Shannon.
De abril a agosto, partem de Kilrush barcos em excursão para Scattery Island. O passeio inclui uma visita ao farol, uma round tower e as ruínas de um monastério construído no século VI. O mais especial nesse passeio é poder ter a companhia dos golfinhos do Rio Shannon todo o tempo durante o trajeto. Os golfinhos do Shannon são uma espécie que habita apenas esta região do mundo, e é fortemente protegida pelo governo nacional.
Embora seja muito difícil afirmar isso, o condado de Clare é a região da Irlanda onde as falésias, ou cliffs, assumem as suas formas mais espetaculares, dignas de figurarem em um filme do Tolkien.
Entre Kilrush e Kilkee, o cabo de Loop Head Drive é mais um roteiro bastante tradicional do turismo irlandês, figurando entre um dos melhores European Destinations of Excellence. O road ring é feito pelas pequenas estradas locais, passando por entre as fazendas, e é guiado pelas placas de tráfego com a identificação de Loop Head CycleWay.
Entre os pontos de paradas imperdíveis na península está o Bridges of Ross, uma série de arcos esculpidos na rocha. É um lugar completamente deserto, frequentado por pássaros que procuram tranquilidade para montar seus ninhos, e que parecem não se incomodar com a ação constante do mar contra os paredões rochosos. A vila de Carrigaholt oferece um ótimo ponto para se admirar o Rio Shannon, de onde, com sorte, é possível avistar os seus golfinhos. No canto da praia, pare o carro para caminhar no pier da vila e para conhecer o Carrigaholt Castle, construído para proteger a baía do Shannon. A enseada tem ótimas opções de restaurantes e pubs, servindo peixes e frutos do mar pescados localmente.
Na ponta extrema da península, uma pequena trilha leva até o farol de Loop Head Lighthouse, de onde se tem um vista incrível para o encontro agitado das águas do Rio Shannon com as águas do Oceano Atlântico. Além disso, é mantido até hoje um curioso monumento que forma a palavra EIRE (Irlanda, no idioma gaélico). Montado em pedras, o letreiro informava aos aviadores da Segunda Guerra Mundial que aquele era o território neutro da República da Irlanda.
De volta ao roteiro pela rodovia N67, o caminho até Kilkee, não à toa, recebe o nome de Scenic Drive. A todo momento é possível parar na estrada para observar o oceano batendo nos grandes e belíssimos cliffs. Não deixe de descer em Kilkee beach para caminhar sob a sua formação rochosa peculiar conhecida como Pollock Holes. Na maré baixa, os buracos na rocha formam grandes piscinas naturais. Ali ao lado, o pub Diamond Rocks Cafe é a dica para aquecer os que entram na água fria.
Continuando pela rodovia N67, há ainda diversos outros pontos em que vale a pena dar uma parada para observar o oceano. Na pequena vila de Spanish Point, há pubs bem aconchegantes com ambiente bem familiar e local, ótimo para uma pausa no trajeto e ver o mar. Um pouco mais a frente, em Lahinch, a estrada cruza o Rio Inagh e sua grande extensão de areia que segue até a praia de Lahinch Beach, formando um lugar de beleza surreal.
E como se os cliffs desde o Loop Head Drive até aqui não fossem dramáticos o suficiente, em County Clare fica um destino turístico cuja beleza já alcançou fama mundial: o Cliffs of Moher. Um dos mais importantes cartões postais da Irlanda e uma de suas atrações mais visitadas, o lugar é parada mais do que obrigatória. Mesmo estando sempre lotado de turistas do mundo inteiro que, muitas vezes, vem de Dublin até aqui apenas para ver estes cliffs. Se você é o tipo de pessoa que se incomoda com esse tipo de crowd, não se preocupe, no restante do Wild Atlantic Way não vai faltar lugar igualmente – ou até mais – espetacular e completamente deserto de turistas, como em Galway e Donegal.
A fama e a importância desse lugar não são para menos. A vista é inacreditável para qualquer lado que se olhe. O parque tem 8km de extensão e os penhascos chegam a alcançar 214m acima do mar. Na entrada do parque, o centro de visitantes, construído dentro da rocha do solo para não alterar a paisagem, é totalmente environment-friendly.
Há dois decks principais de visualização. A Main Platform oferece a vista para os penhascos ao sul e ao ponto conhecido como Hag’s Head, a formação rochosa que se assemelha a um rosto feminino e que dá origem a diversas lendas do folclore irlandês. A North Platform oferece a vista perfeita para An Branan Mór, uma rocha pontiaguda no mar, deixada lá pela erosão da encosta; e para as Aran Islands. Se o tempo estiver bom, é possível ver as ondas gigantes formadas na laje de Aileen, apelidadas de The Celtic Mavericks.
O parque de Cliffs of Moher é daquelas experiências que todo mundo que curte viajar tem que ter na vida. É, sem dúvida, item importantíssimo na bucket list de qualquer viajante. Mesmo que você não esteja disposto a fazer um roteiro turístico do WAW por completo, vale muitíssimo a pena sair de Dublin apenas para conhecer o parque e voltar.
Ao sair do parque, fica aqui outra dica pessoal. Com menos fama e sem status de ponto turístico, na parte mais ao norte do condado de Clare, fica a Carnsefin Mountain, na região do The Burren National Park. A montanha é uma curiosíssima formação rochosa que aperta a estrada contra o mar, fazendo dali um cenário encantador. Em vez de pegar a rodovia principal N67, rumo a Ballyvaughan, prefira alongar o caminho e pegue a rodovia local R477 que acompanha o mar, conforme indicado no mapa.
A rota que passa pelo condado de Clare termina na cidade de Ballyvaughan. E, para complementar a experiência da vista da Carnsevin Mountain, vale muito a visita às grutas de calcário de Aillween Cave, próximas a Ballyvaughan e parte do parque do The Burren.
Chegando na terceira parte do roteiro, só uma palavra chega perto de tentar definir o condado de Galway: peculiar. Isso porque o litoral de todo o condado é formado por três cadeias de montanha, o que compõe um imenso emaranhado de ilhas e fiordes que desafiam o mar todo o tempo. Mistura-se a isso uma população orgulhosa de suas tradições e uma importante região An Ghaeltacht*, o que faz de Galway um microcosmo do que é ser irlandês na essência.
A despeito da imensa quantidade de ilhas, falaremos aqui apenas das famosas Aran Islands.
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Partindo de Ballyvaughan, 15km adiante fica a pequena cidade de Kinvarra. Mas antes de chegar lá, pare rapidamente para conhecer o Dunguaire Castle, um castelo de pedras do século XVI majestosamente em ruínas a beira da baía de Galway. O acesso é gratuito e o castelo fica bem às margens da rodovia N67.
Mais 30km pela mesma estrada e chegamos à cidade de Galway, nomeada Capital Europeia da Cultura para o ano de 2020. Apesar de pequena, Galway é a quarta maior cidade do país e abriga duas importantes universidades. Por isso, é lar de um grande número de jovens e estrangeiros, o que garante um certo ar cosmopolita, pubs animados e agitação cultural o ano todo.
A cidade funciona ao redor das duas ruas principais: a Quay Street e a High Street, região na qual se concentram o comércio e os melhores pubs. Ali fica o principal ponto de encontro da cidade, o Galway Latin Quarter. O Rio Corrib corta a cidade ao meio e encontra o mar na Galway Bay, em cuja margem ficam lindas casinhas e pubs coloridos. Ali também está o interessante Galway City Museum, aberto em 2006, que mostra o desenvolvimento da cidade. O acesso é gratuito.
Colado ao prédio do museu, o Spanish Arc é um dos principais pontos históricos da cidade. É o remanescente da muralha construída em 1584 para proteger o cais da cidade. Seguindo pela margem do Rio Corrib, e cruzando a Salmon Weir Bridge, chega-se até a imensa Galway Cathedral, uma construção em pedra cujo domo toma conta da paisagem da cidade e se destaca das casas e pequenos edifícios ao redor.
Voltando em sentido ao centro da cidade, não deixe de visitar a Eyre Square e os pontos históricos que ficam ali próximo: a Browne doorway, resquícios da moradia com os brasões da família Browne – que exercia importante influência política na região; a estátua em homenagem ao escritor irlandês Oscar Wilde, e a St Nicholas Collegiate Church.
Por fim, a visita à cidade termina com uma caminhada pela Salthill Promenade, seguida por um Pub Crawl à noite. Como Galway é uma cidade de jovens, opções de pubs não faltam. Siga o crowd e a música, e a diversão é garantida.
Menlo Castle
Lar de uma tradicional família desde 1569 até 1910, Menlo Castle é um castelo em ruínas nos arredores de Galway. O local foi palco de festas populares que a família Blake abrigava em sua propriedade para a população da região. Em 1910, um incêndio pôs fim à história do castelo, hoje coberto pela vegetação e transformado em um parque à beira do Rio Corrib. Uma vez em Galway, vale muito a pena a visita.
Seguindo viagem, o trecho compreendido entre Galway City até a próxima principal parada em Clifden abriga a maior e mais importante região de An Gaeltacht de toda a Irlanda. Dica: apesar do caminho entre Galway e Clifden ser menor pela estrada regional N59, prefira ir pelas estradas locais R336 e R340, que contornam a retorcida linha do litoral. O caminho fica mais longo, mas também é muito mais bonito e o percurso passa todo por dentro da região An Ghaeltacht. Então prepare-se para parar em pubs no meio do caminho e experimentar o mais genuíno da hospitalidade irlandesa.
Para os mais interessados em cultura gaélica e na tradição irlandesa, o Cnoc Suain é uma vila do século XVII preservada como centro histórico-cultural no coração da região An Ghaeltacht de Galway.
O arquipélago de Aran Islands é composto por três ilhas rochosas: Inishmore, Inishmaan e Inisheer. A beleza peculiar desse lugar faz do arquipélago um lugar de grande importância para o turismo irlandês. Apesar da idéia de isolamento, as ilhas Aran compõem parte importante do folclore irlandês e suas ruínas atraem visitantes de todo o mundo. Apesar de fluentes em inglês, os poucos habitantes das ilhas utilizam o idioma gaélico para se comunicar.
Inishmore, a maior das três ilhas, abriga um buraco em formato retangular perfeito formado pela erosão do mar na pedra calcário. Em dias de tormenta, o Poll na bPéist, como é conhecida a formação, emite um som que muitos acreditavam ser o mar acordando um grande monstro que habitaria a região. Outra atração da ilha são as fortalezas de Dún Aengus, construídas com o calcário local há mais de 2000 anos para proteger a região de embarcações piratas. O Aran Heritage Center é o centro de visitação que conta toda a história do lugar.
Em Inisheer, a menor das três, está a carcaça do MV Plassy, um navio coberto em ferrugem, encalhado no banco de calcário desde os anos 60. Além disso, Inisheer abriga as fantásticas ruínas do castelo O’Brien Castle, do século XV, construído no topo de uma colina, rodeado de fortalezas do século I – sim, século primeiro! – e com uma vista surreal para campos cobertos de trevos e para o oceano. Compõem esse cenário de outro mundo as ruínas de St Kevin Church, datadas do século X.
A ida às Aran Islands vale um dia inteiro de viagem, então o ideal é hospedar-se em Galway, de onde partem diversos barcos. Desde a chegada aos imensos paredões de calcário das ilhas até a história das ruínas, a vida selvagem local e a misticidade em que estão envolvidas. Tudo nas Aran Islands está além do inacreditável.
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Seguindo o Wild Atlantic Way, chegando em Clifden, pare para uma rápida visita ao grandioso castelo de Abbeyglen, transformado em hotel de luxo. Prolongue o dia saindo da rota, e contorne os 12km da Sky Road Loop, uma trilha que circula a pequena península. Alugue uma bike na praça central de Clifden e prefira percorrer o caminho da Sky Road no lombo da magrela, parando nos vários mirantes para o mar, começando pelas ruínas majestosas do Castelo de Clifden Castle, já semi-coberto pela vegetação.
A 20km dali, está mais um santuário da fauna e da flora e outro dos principais parques nacionais irlandeses: o Connemara National Park, que se destaca por suas montanhas de quartzito. Diversas trilhas saem do centro de visitantes, acessado pela rodovia N59. Mas uma boa dica é pegar a trilha que leva até o topo da Diamond Hill, de onde se tem a melhor vista para as ilhas do litoral, e para o castelo de Kyllemore Abbey, que fica logo na saída do parque, à beira do lindíssimo lago Pollacapall Lough.
Antes de fechar o trajeto em County Galway e prestes a cruzar para a próxima etapa da viagem em County Mayo, não deixe de contemplar o Killary Fjord, exatamente na fronteira entre os dois condados. Por cerca de 15km, as montanhas Mweelrea, ao norte, e Maumturk, ao sul, formam mais um cenário dos sonhos dessa viagem. No encontro com o mar, caminhe na desolada praia de Glassilaun Beach (Ard Na Mara beach), onde produtores locais criam lagostas na praia, ache um pub no caminho e tome a sua pint na paz daquele local.
Galway é um condado irlandês com muita história e muitos lugares para se conhecer. Se a gente fosse falar de cada detalhe, de cada praia, cada fiorde ou cada lugar da estrada que merece paradas e fotos, esse artigo ficaria imenso. Então tenha a liberdade de conhecer Galway com calma, pare nas praias que formam o litoral pitoresco e contemple a natureza. Pare na região An Ghaeltacht, umas das três mais importantes do país, e conheça a população local, sempre generosa para trocas culturais. Tome uma pint. Observe como o clima ela começa a mudar em relação às regiões mais ao sul do roteiro. O clima fica mais úmido, mais foggy e mais desolador. E, exatamente por isso, mais instigante.
*Foto do destaque: acervo do autor.
Para ler a primeira parte desse roteiro, clique aqui.
O Carlos é carioca e acredita que viajar é aprender. Em todos os sentidos de "viagem" e "aprendizado". Não liga para horóscopo mas é muito canceriano. Siga no instagram: @carlosraffaeli
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Também gostaria muito de saber em quanto tempo fez essa segunda parte do roteiro? quantos idas é necessário?? Obrigada!!
Olá Carlos! Amei seu roteiro e dicas, me diz uma coisa, quanto tempo vc levou pra fazer essa viagem?
Obrigada!
Daniella
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.