Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Todo mundo quer inovar. ‘Todos querem experimentar, trazer algo diferente, algo significativo para as pessoas.’- começou a falar Daan Roosegaarde em São Paulo no Wired Festival – ‘mas basta você trazer uma nova ideia para seu chefe, sua mulher ou sua avó, a resposta é normalmente “Sim, mas…”‘.
‘Essas duas horríveis palavras são as mais irritantes do vocabulário. São destruidoras da criatividade e esperança humana.’ É assim que ele lidera um dos estúdios de design mais inovadores do mundo. Tanto esse conceito é implementado no seu dia a dia que, em um de seus projetos inusitados, ele criou uma cadeira que dá um choque cada vez que alguém fale “Yes, but…”. É uma prova do conceito do que ele acredita. Em vez da tendência de colocar obstáculos a boas ideias, as pessoas deveriam focar em como irão fazer acontecer: “OK, e como vamos fazer isso?”.
Roosegaarde acredita em design como ferramenta de inovação social – o design útil e para as pessoas. E seus projetos tem um certo quê excêntrico.
Em sua última empreitada, Smog Free, ele levou à China uma grande torre que literalmente suga fumaça e poluição ao seu redor. Não é apenas funcional para a pequena comunidade ao redor da torre, mas também traz atenção a um assunto extremamente relevante: quando foi que abrimos mão do direito a respirar? A poluição não deveria ser aceitável. Por que aceitamos? A torre é tanto uma escultura pós-moderna como um “captador” de poluição e dejetos.
Olhando para todos os baldes de poluentes que estavam coletando, Roosegaarde e sua equipe tiveram uma outra ideia. Mais de 40% dos poluentes eram de carbono, e ‘colocando o carbono sob alta pressão, você pode fazer diamantes’, pensou, ‘e isso é deveras interessante.’ Ou seja, eles começaram a produzir jóias a partir desses dejetos, e o retorno financeiro da venda das jóias (nada mais que vidro com poluição empacotada) voltou para o projeto, com o objetivo de construir mais torres anti-poluição. ‘Muito mais romântico pedir alguém em casamento com uma jóia que gerou impacto positivo no planeta em vez de guerras sangrentas na África, não?’ ele questiona.
Outro projeto dessa linha é o Smog Free Bike – com bicicletas “anti poluentes”. Essas bikes sugam o ar poluído, e criam impacto positivo em uma escala urbana maior. Ainda falando em bicicleta, você pode ter visto um dos projetos dele mais famosos (que até falamos aqui): o caminho iluminado e estrelado de bicicletas, inspirado em Van Gogh:
Em outra inovação extravagante, ele transformou o centro de Amsterdã em um oceano através da iluminação. O objetivo era resgatar o DNA intrínseco do povo holandês: lembrando que o país fica abaixo do nível do mar. Roosegarde transformou essa sensação em arte. Waterlicht foi uma instalação lúdica no centro da cidade, que combinava poesia e água, e consistia em linhas onduladas de luz feitas com LEDs, um software e lentes. A inovação é uma parte natural do DNA da paisagem holandesa, de um lado com seus diques, e do outro com o pensamento e design criativo.
Procurando mais uma forma de falar sobre design e energia, dessa vez indoor, ele também construiu uma pista de dança interativa que gera eletricidade através dos clientes dançando. Foi o estúdio Roosegaarde que criou o design e conceito de interação do primeiro Dance Floor Sustentável, que foi copiado ao redor do mundo. A ideia por trás é que as atividades humanas diárias devem gerar energia.
No Wired Festival tivemos a oportunidade de bater um papo rápido com o designer.
Como é que você tira essas ideias do papel? Há financiamento, cliente por trás?
“Qualquer inovação passa por 3 etapas: na primeira as pessoas falam que não vai dar certo. Assim que você prova o conceito, elas falam “Sim… mas…”. Há poucos loucos que passam dessa fase, e o mundo precisa de mais pessoas obstinadas. Por último, a terceira frase é “Por que não pensamos nisso antes?” Depois que a coisa está feita, é fácil pensar retroativamente.. Precisamos de mais gente querendo de verdade mudar o mundo, resilientes e persistentes. Nesse sentido, financiamento e cliente é o de menos. Pessoas obstinadas vem primeiro.”
E o quais problemas sociais você poderia resolver em São Paulo através do design?
“A melhor pessoa para resolver o problema através do design é quem tem o problema. A pergunta que eu faria é: o que é que os paulistanos, ou mesmo seus amigos, poderiam resolver na cidade através do design?”
Touché, Mr. Roosegard. Ficamos mais fãs ainda.
Imagem destaque: Studio Roosegaarde
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
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