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Ao norte da França, quase fronteira com a Bretanha, a Normandia é recheada de história, arte e belezas naturais – até o mais insensível dos seres humanos é capaz de cair de amores por uma das paisagens que integram a região (que por sinal, é enorme). A Normandia foi terra de peregrinações nos tempos medievais e passou por batalhas que envolveram França e Inglaterra na Guerra dos Cem Anos. Joana D’Arc, a heroína francesa, foi queimada na região, sabia? Na Revolução Francesa, a prisão mais barra pesada ficava por ali.
No final do século XVIII, a Normandia tornou-se berço do impressionismo a partir da instalação de Claude Monet e seus amigos naquele pedaço. Não bastasse tudo isso, ainda por cima, suas praias foram ponto de resistência durante a II Guerra Mundial, lembra o Dia D? Ufa! É muita história! E olha que ainda não desfiei o rosário dos cenários bucólicos e da natureza espetacular daquelas paragens!
Mas, no meio desta “orgia de história e arte”, tem um lugar que mexe com as emoções de todos, creiam! Pelo menos, ainda, não conheci ninguém que não tenha se debulhado em lágrimas ao ter a visão do Monte Saint-Michel ao longe. Por isso e por outras razões, qualquer roteiro de viagem pela Normandia que se preze precisa incluir, ao menos, uma noite neste ilhote rochoso. Quer saber por quê? Segue comigo.
Segundo contam, no início o lugar era chamado de Monte Tombe (em francês, a tradução pode ser túmulo ou elevação) e era habitado por ermitões cristãos que buscavam a solidão e a pobreza. Agora, o nome faz todo sentido, não é?
Porém, em 708, o bispo de Avranches, a cidade mais próxima dali, recebeu três aparições do Arcanjo São Miguel. Nos sonhos do bispo, a ordem era clara: “Consagre o monte ao meu culto!”. O Arcanjo foi radical, na última aparição, ele furou o crânio do bispo com o dedo para que ele finalmente acreditasse em suas visões. No ano seguinte, a abadia estava consagrada e chamada de Monte Saint-Michel em Perigo do Mar (também, o Arcanjo era persuasivo, não?).
No topo da abadia, existe uma estátua de São Miguel Arcanjo matando o dragão – símbolo de todo o mal. Desta construção foram surgindo outras que formam, hoje, uma vila medieval. Da sua consagração até os dias atuais, a abadia é local de peregrinação de fiéis de todo o mundo. No século X, os monges beneditinos instalaram-se por ali e numa pequena vila que foi se formando aos seus pés e no século XIII, o mosteiro foi fortificado, sobrevivendo às constantes invasões que assolaram a região.
O histórico bélico do lugar não para por aí não: durante a Guerra dos Cem Anos, o Monte Saint-Michel resistiu a todas as tentativas inglesas de invasão, tornando-se símbolo da identidade nacional francesa. A vocação de fortaleza inexpugnável foi aproveitada durante a Revolução Francesa. Isto porque as ordens religiosas foram proibidas e o lugar virou uma cadeia para presos políticos e demais desafetos da Revolução.
Toda essa história está registrada na arquitetura da abadia e do vilarejo que fica em seu entorno. Para sentir tudo isso com mais intimidade, fica aqui minha dica: hospede-se na cidade intramuros. Curta o seu dia que é repleto de turistas, restaurantes e lojinhas simpáticas. Porém, à noite o lugar será só seu! É uma das experiências mais incríveis da vida, acredite!
Porém, o mais fantástico é a força da natureza que atua sobre aquele lugar. Estava escondendo e deixando o mais impressionante para o final. Mas, acho que você já sabia disto, não? A subida e a descida da maré foram o grande trunfo contra os inimigos históricos. Era difícil vencer a natureza. Na verdade, Saint-Michel pode ser ilha ou península desde que se perceba se é maré alta ou baixa. Por lá, a subida da maré é muito rápida e intensa. Em poucas horas, o cenário muda completamente. Na maré baixa, é possível atravessar a baía caminhando. Atenção: não faça sem um guia local! A coisa é traiçoeira para os forasteiros.
Caso você seja menos aventureiro e se contente em ver a maré baixar e subir, de uma das janelas da abadia ou de uma hospedagem da vila, a visão é tão ou mais espetacular do que ver o Monte Saint-Michel ao longe (sabe aquele teste à sensibilidade que mencionei no início do texto?). Depois de tudo isso, prepare o coração e passe uma noite neste lugar inesquecível.
Foto destaque: Brad Hammonds (CC BY-NC 2.0)
Rata de galerias e museus, não perde a oportunidade de ir procurar aquela tela, escultura ou monumento famosos que todos só conhecem pelos livros.
Ver todos os postsTem dica de hospedagem por lá?
Oi Evandro, tenho sim! Olha só, o Les Terrasses Poulard é um pouco mais caro, mas tem conforto. Tem albergues super bacanas também, neste quesito recomendo o Auberge Saint Pìerre e o Le Mouton Blanc. O La Vielle Auberge é o mais bacana, mas ele é super requisitado. Difícil achar vaga. Todos eles estão na cidade intramuros.
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