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São quase 500 quilômetros que separam o Etosha National Park de Swakpomund, uma das cidades mais populosas da Namíbia, na costa litorânea do país. A cidade, fundada em 1892, tem raízes germânicas e é um dos melhores exemplos de arquitetura colonial alemã mais bem preservada do mundo. As manhãs amanhecem sempre cobertas por uma névoa fina, engolindo assim o mar, que vai se desfazendo pontualmente até o relógio bater 10h.
Dirige-se por horas em estradas de terra bem conservadas, onde a velocidade máxima pode chegar a 100km/h. Vegetação baixa, pequenas plantações e, de vez em quando, animais selvagens atravessando a estrada a galope quando nos veem.
Já na estrada principal, uma das poucas pavimentadas, avistamos Spitzkoppe, um maciço rochoso e majestoso de 1700m de altitude, a 90km de onde estamos. Estacionamos à beira da estrada para fotografá-lo. Na nossa frente passam velozes 4×4 e contrastantes charretes com famílias inteiras. Enquanto estamos ali sem fôlego com a vista, tentamos decidir se seguimos para o famoso Moon Landscape, ou vamos ao encontro das montanhas que nos atraem. Optamos pelo primeiro.
A estrada aos poucos vai mudando até virar um grande deserto. A rodovia e os terrenos laterais se confundem. A paisagem fica marrom e empoeirada. Baixamos um pouco a velocidade enquanto cruzamos usinas plantadas no meio do nada. Uma placa indica o Moon Landscape, lugar tão inóspito, árido e fascinante, que é difícil descrevê-lo. Dirigimos por cerca de uma hora completamente envolvidos com a paisagem. O céu está azul e sem uma nuvem sequer, o sol brilha sob nossas cabeças. Entramos numa nova estradinha e dirigimos por um lugar mais lunar do que qualquer outro que eu já tenha ido. Não existe exatamente uma estrada, mas marcas de pneus de carros, os quais seguimos e dirigimos escalando pequenos vales arenosos. O sol começa a baixar no horizonte sinalizando que era hora de ir embora, pois não seria uma boa ideia estar ali sem a luz do dia. Chegamos no topo do vale a tempo de ver o sol se por no mar 44km distante de nós. É espetacular. Por-do-sol daqueles cinematográficos. Assistimos até ele sumir completamente. A escuridão vem a toda velocidade antes mesmo de alcançarmos o nosso hotel em Swakopmund.
A viagem de Swakopmund a Sossusvlei é, provavelmente, uma das mais fascinantes do país. Passamos novamente pelo Moon Landscape, e uma neblina espessa cobria parte dele. Não é hora de dirigir por lá e há bastante para ver no caminho antes da chegada no nosso destino final do dia. São 400 quilômetros que temos pela frente, parte deles em estradas menores, onde a velocidade não ultrapassa 60km/h.
A estrada asfaltada de repente termina, dando lugar a uma estrada de terra, onde dirigimos por horas e horas numa região completamente deserta e árida. Antes, porém de sair da cidade, vale a pena passar no escritório de Turismo da Namíbia, em Swakopmund, para pagar a permissão que dá acesso a diversas atrações da natureza no caminho. O Hotsas Waterhole é um deles. O pequeno lago artificial foi construído em meio ao nada para garantir água na época de seca aos animais que passam por ali. Câmeras são disparadas automaticamente quando eles se aproximam, mostrando a variedade de espécies que matam sua sede antes de seguirem em frente. Não temos sorte. O máximo avistado ali é uma ossada de um provável avestruz. Assim como os arredores, ali também parece a lua, e a água um oásis.
A paisagem vai mudando e cânions começam a surgir no horizonte. Uma placa sinaliza Kuiseb Canyon e decidimos desviar do caminho e segui-la. Dirigimos cerca de seis quilômetros até avistar do alto um desfiladeiro de cânions aos nossos pés. A vista é de tirar o fôlego, mas mal sabemos que de volta à estrada, atravessaremos essa região num estrada estreita, com subidas e descidas, com cânions surgindo e sumindo da nossa frente formando uma notável paisagem. Muitos carros estacionam onde dá para tirar fotos e retomar o fôlego. Infelizmente não foi nessa viagem que conhecemos o segundo maior cânion do mundo, ao sul da Namíbia já quase na África do sul, o Fish River Canyon, que aí sim deve fazer cair o queixo no chão.
Em todo o trecho que dirigimos não há sequer um posto de gasolina ou mesmo qualquer lugar para comer, e muito menos banheiros. É sempre obrigatório ter água (muita água), comidinhas e se certificar que o tanque dá conta de centenas de quilômetros à frente. Viu um posto de gasolina? Para e completa o tanque. A fome já bate, mas dirigimos mais uma hora até a solitária Solitaire, uma pequena vila que tem tudo que você precisa: um posto de gasolina, um café e banheiro. Ali descubro o real significado de oásis, mesmo ele não sendo realmente um.
A estrada a partir dali muda completamente. O deserto de Sossusvlei começa a apontar no horizonte, animais correm nos campos, uma cadeia de montanhas nos seguem por quilômetros. O pôr-do-sol é assistido do carro já chegando em nosso destino final, o Sossusvlei Desert Lodge, hotel (maravilhoso) fincado no meio de um imenso deserto com nada em volta, com todo o luxo que merecemos após dois dias viajando ininterruptamente. Deitar à beira da piscina, com drinques à distância de uma esticada de mão, com o deserto infinito assistido entre os pés, era tudo que eu queria.
Aquela imensidão vazia proporciona um céu indescritível. É noite de ver as estrelas forrando o escuro do céu, e depois a lua subindo lentamente, podendo assisti-la com a cabeça enterrada no travesseiro. Tudo é tão perfeito, que a vontade é nem sair dali. Sossusvlei é um dos lugares mais visitados da Namíbia e estando lá é totalmente compreensível o porquê. O espetáculo já começa com o nascer do sol atrás de suas dunas vermelhas. Por ali se encontram algumas das mais altas do mundo, com duna chegando a ter 400m de altitude. São vários os pontos de interesses, mas Deadvlei, uma “bacia de argila branca” com acácias petrificadas, em meio às dunas é o mais concorrido.
A região reúne vários tipos de hospedagem, de camping ao mais luxuoso. Para quem quiser ver a beleza das dunas encontrando-se com o mar, o único jeito é passeio de balão ou avião. Caso contrário, é dirigir pelo Parque Namib-Naukluft, lembrando que é necessário atentar aos lugares permitidos apenas aos carros 4×4. Nosso 4×2 atola tão logo ultrapassou a área do estacionamento, rendendo um “certificado de culpa” e uma multa de 500 dólares da Namíbia. Foi assim que descobrimos que não estávamos a bordo de um 4×4.
A programação é ver o nascer do sol de cima das dunas, intensificando ainda mais o vermelho das dunas. Para isso é necessário cair da cama bem cedo, estando hospedado dentro ou fora do parque. Se estiver dentro do parque, o ideal é sair 1h30 antes da hora em que o sol nasce, pois são 40 minutos até o estacionamento (caso não esteja de 4×4, é necessário deixar o carro estacionado e pagar um transfer ida e volta em dinheiro. São 150 dinheirinhos) e uma hora para subir a duna que cerca o Deadvlei. A visão de Deadvlei com seu chão circular branco, impedindo que a areia o cubra, e as poucas árvores petrificadas é de outro planeta. Não dá para descrever. É tão majestoso e único que até mesmo as fotos parecem não fazer jus de tamanha beleza.
Para os mais animados que queiram dar a volta completa nas dunas em torno de Deadvlei, são três horas de caminhada. Lembrando que água não pode faltar, além de um bom chapéu e protetor solar. Em dias quentes, não é recomendado fazer o passeio após às 11h (mas ainda assim, muitos fazem).
Outra parada ali é a Duna 45, de 80 metros de altura, onde o público vai para assistir ao pôr-do-sol. Nos contentamos em assisti-lo da varanda do nosso hotel, já que nos hospedamos estrategicamente dentro do parque e uma duna poderosa se erguia alguns quilômetros à nossa frente. Também foi possível assisti-lo da varanda do quarto, mas preferimos nos juntar com nossos amigos e celebrar aquele fim de tarde inesquecível com um bom vinho branco.
A hora de ir embora não é fácil, afinal é deixar muitos lugares mágicos para trás. Madrugamos para não corrermos o risco de perder o nosso voo, que partia para Cape Town às 14h. O dia chuvoso nos deixa temerosos de não conseguirmos ultrapassar algum alagamento no caminho, fazendo-nos voltar quilômetros para a estada principal de Solitaire e de lá tentar outra estada para Windhoek. São cinco horas dirigindo com uma paisagem linda à nossa volta. Horas sem cruzar uma pessoa ou carro sequer. Montanhas, animais, o sol tentando despontar no horizonte e a chuva são nossos companheiros nessa despedida de um dos países mais lindos do mundo.
O melhor é fugir da época das chuvas, entre novembro e março/abril. Julho e agosto são alta temporada e deve-se evitar, especialmente porque os preços sobem muito e é necessário um ano para planejar a viagem. Para os locais, a melhor época é setembro e outubro, apesar de ser muito, mas muito quente e seco.
Não é imprescindível alugar um 4×4, mas vale a pena investir num carro bem confortável. Também vale a pena se munir de boas garrafas de vinho, snacks e muita água. Caso tenha uma boa máquina fotográfica, não deixe de levá-la. A Namíbia é o lugar perfeito para fotografar.
Caso possa investir, um passeio de balão deve valer bastante a pena, ou mesmo um de avião para sobrevoar toda a costa do país. Não exploramos Damaraland, Skeleton Coast, Sandwich Harbour, Fish River Canyon e a cidade fantasma Kolmanskop, que são lugares que valem muito a pena caso tenham mais dias para explorar o país.
A Namíbia é segura e bem estruturada para o turismo, mas ainda assim dirige-se por horas sem sinal de celular e sem passar por uma pessoa ou carro sequer. É o país que exploramos por nossa conta e risco, entramos em lugares sinalizados, mas que podem requerer cuidados. É também um lugar difícil para vegetarianos, pois a carne de caça é o prato mais comum em qualquer lugar.
Recomenda-se ter dinheiro em espécie, pois muitos lugares, inclusive posto de gasolina, não aceitam cartão de crédito. Tem duas empresas de telefonia no país, então caso esteja em duas pessoas, vale cada uma ter um diferente para alguma emergência, já que o sinal é bem irregular e não funciona em muitos lugares. Não precisa investir num grande planos de dados, pois provavelmente não vai conseguir usar, já que celular mesmo só pega próximo à cidades maiores (nem mesmo em Solitaire o meu plano funcionou).
Um bom mapa de papel pode salvar a vida em alguns momentos ou um GPS à moda antiga. E muito amor, porque a Namíbia é o país para se apaixonar. A primeira parte da nossa viagem, você pode ler aqui.
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.