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Cusco trouxe uma pincelada do que teríamos pela frente nos próximos dias no Peru, mas numa escala menor e mais agitada. No domingo começamos a esperada viagem pelos Vales Sagrado e de Lares, rumo a Machu Picchu, com a Mountain Lodges. A ansiedade estava a mil. Foram dadas duas opções para o nosso dia em Pisaq (ou Pisac): uma caminhada de três horas de Amaru até Viacha, ou um passeio cultural por Awana Kancha, vilarejo têxtil onde é possível conhecer de perto todo o processo de trabalho das tecelãs.
O grupo todo decidiu pela primeira opção. Eu temi pelo meu sedentarismo somado à dificuldade que eu poderia ter para percorrer os cinco quilômetros iniciais (seriam oito no total até Pisaq), passando por uma elevação de 4.328 metros. Quem já caminhou por essas altitudes sabe bem o quanto essa tarefa não é tão simples. Mas ou testávamos esse primeiro desafio, ou ficaríamos restritos aos passeios culturais.
O domingo amanheceu nublado e chuvoso, mas mantivemos o plano original. As saídas diárias acontecem bem cedo. Às 7h já estávamos a postos na recepção do El Mercado com as mochilas que levaríamos a partir dali. Um ponto importante: como seguiríamos até chegar em Machu Picchu e lá só é possível chegar de trem ou caminhando, há uma restrição de bagagem, que é preferencialmente uma mochila.
A viagem de Cusco à Pisaq dura cerca de 2 horas, já nos transportando para um ambiente distinto de Cusco. Mais sereno, mais inóspito, menos cheio. De lá seguimos para Amaru, região montanhosa com praticamente nada em volta além da própria natureza, lagos e vales. A chuva fina não permitiu boa visibilidade, mas éramos apenas nós caminhando pela região. Neste momento fica nítida a exclusividade dos passeios que a Mountain Lodges of Peru oferece. Só voltamos a cruzar com hordas de turistas em Águas Calientes, a cidade onde fica Machu Picchu, de onde é impossível fugir (ainda assim conseguimos um pouco).
A caminhada por Amaru foi em meio à névoa e chuva fina, que deixou o lugar bem dramático. Quase faltou fôlego até nossa chegada em Viacha. Na chegada, um grupo de pessoas da comunidade e o líder local nos esperavam para uma pachamanca, refeição andina tradicional em que legumes e carnes são preparados debaixo da terra, cozidos com o calor das pedras quentes. A chuva deu uma trégua nos possibilitando assistir a retirada dos alimentos antes deles seguirem para o bufê. Parece uma cerimônia de tão belo o momento. Desenterra-se pouco a pouco até não restar mais nada. O almoço foi servido com uma variedade de grãos, batatas e milhos, todos bem saborosos, carne de porco e cuy, o famoso porquinho da índia, e salada. Para acompanhar, cervejas cusquenhas geladas, chás e sucos.
Em Viacha, a agricultura de subsistência continua de maneira comunitária e a cultura andina é bem presente. Quechua é o idioma oficial e as pessoas se vestem tradicionalmente com roupas coloridas. O rosa a cor predominante, nas roupas e nos belos enfeites na cabeça. Eu, na minha santa ignorância, acreditava que as pessoas se vestiam assim para atrair turistas. Não, elas se vestem assim no dia-a-dia, adultos e crianças. Isso é realmente emocionante, pois mostra o quanto da cultura antiga ainda é preservada. Nas roupas, na língua, nos costumes e até mesmo na agricultura de subsistência. Para uns pode ser falta de opção, para mim é resistência.
Tivemos uma longa conversa com o líder de Viacha, com tradução simultânea do quechua feita pela nossa adorável guia Silvia. O entusiasmo com que ele fala sobre cada um dos tubérculos que nasce naquela terra fértil chega a comover. Paralelamente as mulheres da comunidade mostram seus artesanatos. Aos poucos vamos entendendo o quanto é complexo e trabalhoso fazer cada uma das bolsas, dos ponchos, toalhas, cachecóis. Tudo a mão, do tingimento à fiação. O que achávamos caro enquanto percorríamos os mercados de Cusco, passa a ser barato pelo tempo que elas levam para produzir cada peça feita.
Depois dessa imersão inicial, foi a vez de seguirmos para o sítio arqueológico de Pisaq, que um dia foi um dos principais centros administrativos do Império Inca. Seu sítio arqueológico é um dos mais importantes do Vale Sagrado. É o único lugar possível de ver um cemitério inca, encravado nas montanhas. A ideia era chegar lá caminhando a partir de Viacha, o que não fizemos por conta da chuva. Acabamos perdendo a melhor vista do sítio, oferecida num mirante. E, ainda assim, nos impressionamos. O lugar estava isento dos nossos amigos turistas.
Entramos pelo setor Callacasa (ou Q’Allaqasa), por onde dá para chegar de carro até o portão. Fizemos um ótimo e longo passeio pelas ruínas incas de residências, plantio e locais para cerimoniais. A vista dali também é espetacular. O pensamento que vem é “se já estou boquiaberta com esse lugar, imagina como será quando eu avistar Machu Picchu, que sempre povoou meus sonhos, pela primeira vez?”. Guenta coração!
Após uma ótima aula sobre Pisaq dada pela Silvia, foi a vez de visitar o mercado, na área central da cidade quase no fim de tarde. Rodamos o mercado, já vazio, com um cansaço visível. Algumas comprinhas e rumamos para o Lamay Lodge, que conta com algumas lhamas residentes em seu quintal. Havia a vontade de se entregar a um longo banho e àquela cama gigante se oferecendo, mas tínhamos um encontro com um xamã local, o Fredy Castilla, para celebrar conosco uma cerimônia Ccoymi. Já que estávamos ali, por que não participar da oferenda para a Pachamama (“Mãe Terra” em quechua)? Até ali só tínhamos mesmo a agradecer. Foi um jeito sublime e bonito de terminar o dia. Nos desligamos e nos entregamos às orações e canções do Fredy. Sorrimos, nos abraçamos e, juntos, celebramos a sorte de estar ali.
Explorando o Peru com a Mountain Lodges of Peru – Cusco: Parte 1
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsbom dia, meu nome é ricardo e trabalho com viagens ao Peru.
Eu perdi meu contato com a Silvia e estou a produra dela.
Vi no seu blog que ela guiou vcs.
Por acaso vcs teriam o contato dela?
Cool people.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.