Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Com três noites de duração, aconteceu no último dia 02 de julho o encerramento do evento mais badalado da região Norte do Brasil, o Festival Folclórico de Parintins. A festa que trava uma disputa acirrada entre os Bois-bumbás Garantido, representado pelas cores vermelho e branco, e Caprichoso, representado pelas cores azul e branco.
O Festival e Sua História
O “bumba meu boi” nasceu no Maranhão, mas foi no Amazonas que ele evoluiu para boi-bumbá e virou toada. São mais de 50 anos de festa na floresta e é sempre no último final de semana de junho que ela acontece.
Ao longo das três noites de Festival, 21 itens são colocados à prova: história, religião, lendas amazônicas, muito mistério e muita emoção em uma competição criativa e colorida.
Todo ano a premissa é a mesma: a história de uma mulher grávida (Mãe Catirina) que deseja comer a língua do boi favorito do dono da fazenda (o amo do boi), então o marido (Pai Francisco) mata o boi para realizar tal desejo. Ao descobrir que o boi foi morto, o amo chama um padre (representado pela figura do pajé – índio feiticeiro da tribo) que então ressuscita o boi e todos são perdoados, o amor prevalece. Nesse ínterim é que o festival acontece mas, a cada ano, uma nova temática é proposta.
Para 2017, o Boi Garantido (vermelho e branco) – campeão do ano anterior – apresentou “A magia e fascínio no coração da Amazônia”, descrevendo por meio de alegorias e coreografias a história do nascimento e encantamento, exploração e escravização, resistência e beleza dessa terra, cujo valor é imensurável.
Já o Boi Bumba Caprichoso (azul e branco) – que fascinou a platéia desde a primeira noite – apresentou “A poética do Imaginário Caboclo”, que mostrou por meio de luzes, efeitos e muito encantamento, a história do caboclo da Amazônia, sua constituição, os contextos que moldaram essa figura e uma ilustração dos fatos que compõe a história de Parintins, onde toda essa beleza nasceu.
Uma curiosidade sobre as apresentações é que, durante a apresentação de cada boi, o lado contrário não pode se manifestar. Desobedecer a essa regra pode gerar penalidades e perda de pontos, um incentivo e tanto ao respeito às apresentações de cada boi.
Sem dúvida, o Festival do “boi-bumbá” é sim uma guerra, mas de imaginação e reconstrução histórica… Um evento exótico e enigmático que desperta verdadeiro fascínio em todos aqueles que têm oportunidade de assistir. Essa é a edição de número 52 do Festival Folclórico. Os resultados saíram no dia 03. Até agora o Boi Garantido acumulou 31 títulos e o Boi Caprichoso – campeão de 2017 – acumula 24.
Os 21 quesitos da disputa
Em uma competição entre as cores do coração (Garantido) e da estrela (Caprichoso) – símbolos que os bois trazem na testa – tudo é minuciosamente avaliado. São 21 quesitos, divididos em três blocos: musical, cênico coreográfico e artístico.
A toada (como é chamada a música oficial do festival), o apresentador, considerado o anfitrião do espetáculo, a Porta Estandarte, a Cunhã Poranga, mulher que representa a beleza feminina, a torcida e a evolução do próprio boi-bumbá, o ícone principal do Festival, são alguns dos destaques do evento nesse sentido. Os itens são julgados por seis jurados dotados de conhecimentos mais variados (arte, cultura e folclore brasileiro) de diferentes regiões do país, selecionados dias antes do evento, por meio de votação. Uma responsabilidade e tanto!
Para quem não quer ou consegue assistir às apresentações no Bumbódromo – espaço criado especificamente para a disputa – o que não falta é programação na ilha. O evento divide a cidade em duas e tem festa para todos os estilos, mas é importante lembrar que, por ali, a cor que cada boi representa é levada mais a serio que futebol.
Claro que é possível apreciar as duas cidades (cidade Garantido e cidade Caprichoso, como dizem), mas, nesse caso o aconselhável é vestir uma cor neutra e assim não incomodar o contrário (expressão que cada boi utiliza para se referir ao outro).
Conhecida como “Ilha Tupinambarana” em função do seu histórico de grande migração de etnias indígenas, Parintins é a ilha de 7.069 Km² de superfície, localizada há 534 km de Manaus. Uma ilha que desabrochou no coração do Amazonas e há meio século apresenta para o Brasil e para o mundo seu festival caboclo. A cidade, cujo número de habitantes é de 112.716, fica pequena, pois a cada edição recebe quase que o dobro de sua população.
É possível chegar à cidade de avião e também de barco – que é comum para quem mora na Região Norte, e uma experiência incrível para quem aprecia a natureza. Além de um meio de transporte, o barco é também uma opção de hospedagem, especialmente para aqueles que pretendem aproveitar mais que dormir.
Basicamente, é o Festival Folclórico de Parintins que impulsiona o fluxo de trabalho e renda na cidade. O movimento começa logo depois do Carnaval e só acaba na Festa da Vitória, que acontece na segunda-feira. São mais de 3000 pessoas envolvidas nos preparativos, isso sem contar o comércio local, hotéis e restaurantes que lotam e rendem em uma semana o equivalente a meses de trabalho. O Festival é também uma vitrine para os artistas que produzem todo o espetáculo, que eventualmente são convidados a emprestar seu talento ao Carnaval carioca.
Se você gosta de novas experiências e sabores, esse é um evento que vale a pena conhecer. Quem nunca ouviu a Fafá de Belém cantando “Vermelho”? Ou o sucesso mundial “Tic, tic, tac” da Banda Carrapicho? Vermelho ou Azul, o Festival Folclórico de Parintins é uma excelente oportunidade de romper paradigmas e ver que a arte é a expressão universal de toda cultura, e que, às vezes, para isso é preciso apenas um dois pra lá e dois pra cá.
Jornalista por formação e Produtora Cultural por propósito. Direto da Amazônia, Ana viaja o Brasil trabalhando em shows, festivais e pesquisas. Focada em desbravar sons, costumes, sabores e experiências, é assim que ela pretende dar a volta ao mundo: aprendendo novas músicas e conhecendo novas culturas. Acredita que o sentido da vida é a troca. Pensadora profissional e escritora amadora, ela anda por aí capturando momentos únicos, revelando belezas essenciais e compartilhando tudo isso escrevendo aqui.
Ver todos os postsNossa identidade para o mundo ver, mas tenho que dizer que eu amo o meu Boi Caprichoso, campeão de 2017..???
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.