Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Aposto que pensou nas cidades mineiras, não foi? Aí, devo dizer que você lembrou só um pedaço da história. Surgido na Europa, no século 15, o barroco atravessou oceanos e seus monumentos estão espalhados por várias cidades do mundo ainda hoje. Dramático, o estilo valoriza as cores, os contrastes entre claro e escuro, os efeitos decorativos, as curvas e o movimento. Une arquitetura, escultura e pintura, com temas que variam entre a mitologia, as passagens bíblicas, a vida da nobreza, o cotidiano da burguesia e as naturezas-mortas. Financiados pelos monarcas, burgueses e pela Igreja Católica, muitos artistas barrocos dedicaram-se à construção e à decoração de castelos, catedrais, igrejas e mosteiros. O barroco, então, tem um caminho e tanto até as igrejas de Ouro Preto, Tiradentes e Mariana.
Na verdade, dá para planejar uma viagem incrível pela América Latina acompanhando esse movimento artístico. Quer saber quais seriam as principais paradas nesta jornada? Vamos lá!
O primeiro ponto de parada é a Catedral Metropolitana do México. Ela foi construída sobre o Templo do Sol – lugar sagrado para os astecas – e demorou três séculos para ser finalizada. Ela é gigantesca: possui 4 fachadas, 25 sinos, 16 capelas laterais, das quais 14 são abertas à visitação. Os espanhóis queriam mesmo apagar a cultura asteca, mas acho que não deu muito certo. Os arredores da Catedral é cheio de outras construções da antiga civilização.
No centro histórico de Quito, a estratégia dos colonizadores foi outra. Construída com pedra vulcânica e interior decorado com folhas de ouro, a Igreja da Companhia de Jesus foi inspirada na Basílica de São Pedro, em Roma. Porém, na porta de entrada e por todo o templo, é possível ver os símbolos do sol, da lua e das culturas pré-colombianas. O sol era o ícone mais importante para os incas e os espanhóis acreditavam que a decoração da igreja com essas imagens poderia atrair novos fiéis.
A Catedral da Virgem Maria da Conceição Imaculada de Havana, Cuba, é a nossa terceira parada. Construída entre 1748 e 1787, a igreja tem duas torres desiguais. Seu interior não é barroco, isso porque a decoração externa demorou tanto para ser acabada que, quando começaram a trabalhar a parte interna, o estilo da moda já era o clássico. Os afrescos acima do altar, por exemplo, são do final do século 18 e as pinturas que decoram as paredes são cópias de originais de Murillo e Rubens dos séculos 16 e 17.
Depois de Havana, partimos para o “umbigo do mundo” – era assim que os incas chamavam Cusco. Na Plaza de Armas, duas construções chamam a atenção: a primeira é a catedral, com planta em forma de cruz latina, construída em 1559 sobre o antigo palácio inca Viracocha e finalizada em 1669. A segunda construção é a Igreja de la Compañia, erguida pelos jesuítas a partir de 1576, no local onde ficava o palácio Amarucancha do rei inca Huayna Cápac. Em 1650, a igreja foi seriamente abalada por um terremoto e sua reconstrução durou 17 anos. Ainda, no Peru, só que agora, em Lima, o Convento e Igreja de São Francisco é a próxima visita. A decoração é toda trabalhada em ouro e madeira. Mas o que impressiona são as grandes telas que mostram cenas da vida de São Francisco e as catacumbas com centenas de crânios expostos.
Agora, vocês vão me perguntar: E o Brasil, nessa viagem pelo barroco? E eu vou responder: é quase um capítulo à parte. O barroco trazido pelos portugueses era mais simples e não tinha preocupações com a cultura anteriormente existente. Em Salvador, o grande destaque é a Igreja dos Jesuítas, hoje a Igreja Catedral Basílica. Os traços barrocos estão na capela, com seus cachos de uva, pássaros, flores tropicais e anjos-meninos. A partir de 1759, com o grande crescimento econômico, Recife e Olinda também investiram em construções barrocas. Dentre as mais bem conservadas, destaca-se a igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife. A fachada barroca de pedra e a verticalidade do edifício são incomuns nas igrejas brasileiras do século 18.
A terceira parada é o Rio de Janeiro, cujo principal representante do estilo barroco é a Igreja e o Mosteiro de São Bento, decorados com centenas de folhas de ouro, uma multidão de anjinhos e muitos pássaros. O Rio de Janeiro se diferencia das outras cidades pela tendência ao rococó (período final do barroco, com menos curvas e ornamentos). O Passeio Público e o Chafariz da Pirâmide do Mestre Valentim são rococós, sabia?
Algumas cidades paulistas (Santos, São do Luiz Paraitinga, Iguape, Bananal e São Paulo) têm um barroco mais simples ainda: as imagens e esculturas são em geral rústicas e primitivas, feitas de barro cozido. O pintor paulista mais conhecido deste período é Jesuíno do Monte Carmelo. A igreja de Nossa Senhora da Luz, construída por volta de 1600, é um dos poucos exemplos da arquitetura colonial na cidade de São Paulo.
Por último, como ponto final nessa viagem, colocamos a região de Minas Gerais, destacando a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência, que tem planta, pinturas, esculturas, altar e púlpitos de autoria de Aleijadinho. No teto, há uma pintura ilusionista de Manoel da Costa Athaíde. Outra grande parceria desses dois artistas é o conjunto de esculturas Passos da Paixão de Cristo para o Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos em Congonhas do Campo. É nesse mesmo santuário que Aleijadinho deixou os seus 12 profetas de pedra-sabão.
Foto do destaque: Shutterstock – Curioso
Rata de galerias e museus, não perde a oportunidade de ir procurar aquela tela, escultura ou monumento famosos que todos só conhecem pelos livros.
Ver todos os postsViajar com Alecsandra Matias é sinônimo de aprender sem, se quer, se dar conta. Sempre uma boa pedida.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.