Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Em condições normais, a cidade de Nova York costuma ser um caso sério na vida dos amantes das artes. A Times Square, além de ser o lugar dos famosos musicais da Brodway, tem uma alta concentração de galerias de arte, entre elas a Orion Gallery, John Noott Galleries e a Priory Gallery (nelas, existe arte para todos os gostos e bolsos incautos). Na verdade, a presença das galerias de arte pela cidade não tem limites: elas estão de leste a oeste, de norte a sul, dentro e fora da ilha de Manhattan.
Não é atoa que Nova York também foi escolhida por artistas, como Frank Stella, Richard Serra, Cindy Sherman e outros do mundo inteiro. Esses artistas moram e têm estúdios em hangares e depósitos abandonados, e espalhados pelos subúrbios da cidade.
E neste verão/outono, parece que museus, como o MoMA, Guggenheim e o Metropolitan, resolveram quebrar tudo com suas exposições. Por esses lugares, já rolou e está rolando mostras incríveis, tais como Edgar Degas: A Strange New Beauty, Picasso Sculpture, Bruce Connor: It´s All True, Transitional Object (PsychoBarn), Moholy-Nagy: Future Present e Paul Gauguin´s Stunning Illustrations of Tahitian Folklore. Viram? São muitos os atrativos que levam aqueles que amam arte para Nova York.
No meio destas opções fantásticas, existe um museu, ali na região do Lower East Manhattan e perto do Washington Square Park, que é incrível: o New Museum ou The New Museum of Contemporary Art.
Fundado em 1977, é o único museu da cidade destinado exclusivamente à arte contemporânea; um centro de documentação e exposições dedicado unicamente a artistas vivos – sua coleção privilegia artistas emergentes e sua política de acervo por muito tempo teve como regra comprar obras e vendê-las 10 anos mais tarde. Assim, sua coleção sempre seria novíssima! A inovação não cessa por aí: desenhado pelo escritório de arquitetura SANAA, em 2007, o edifício do New Museum é dos mais arrojados de Nova York.
Tudo isso já valeria a visita, mas tem mais! A nova exposição em cartaz, The Keeper (toscamente, seria algo como “O Guardião”), mexe com nossa obsessão por coletar, manter e organizar os objetos que julgamos importantes para as nossas memórias. O desejo que consiste em recolher para lembrar é a ideia que percorre as mais de 4.000 peças dispostas em instalações artísticas, imagens e fotografias distribuídas em três andares e no lobby do New Museum.
Esqueça os métodos tradicionais de curadoria; intencionalmente não existe qualquer hierarquia. The Keeper não segue partidos de organização, tais como artistas, tempo ou geografia, mesmo as obras que têm relações históricas semelhantes estão distantes uma das outras. Segundo a equipe do New Museum, na exposição “o tempo e a história não fluem em linha reta”.
Outra questão que perpassa todas as instalações artísticas diz respeito às escolhas do que colecionar: o que nos leva a mantermos alguns objetos e descartar outros? A resposta está nas lembranças que queremos guardar (não distinguindo as boas das ruins). Os “museus imaginários” de cada indivíduo são construídos a partir dos objetos que eles escolheram guardar e proteger. Há memórias, histórias e realidades que os indivíduos e a própria sociedade preferem silenciar.
A instalação artística mais impressionante de The Keeper chama-se Partners (The Tedy Bear Project), de Ydessa Hendeles, 2002 (foto do destaque). Ela ocupa dois andares do Museu e é composta por cerca de 3.000 fotografias de álbuns de família unidas pela presença do urso de pelúcia – que se tornou a figura representativa da infância a partir do início do século XX. Há ainda vitrines com ursos de pelúcia antigos, mais uma vez mostrando que os objetos mais comuns podem ser fonte de afeto e guardiões da memória.
Já Susan Hiller apresenta o vídeo The Last Silent Movie (2007–08), realizado a partir da coleta de sons e histórias contadas em 25 idiomas perdidos ou em vias de extinção, como os dialetos Comanche e K’ora. Roger Caillois tem uma intervenção artística formada por uma coleção de rochas, vistas pelo artista como detentoras da história cósmica. Por último, merece destaque Henrik Olesen que, em Some Gay-Lesbian Artists and/or Artists Relevant to Homo-Social Culture Born Between c. 1300-1870, 2007, a partir de textos, fotos, aquarelas e gravuras, nos mostram as descrições históricas de repressão violenta contra gays e lésbicas ao longo do tempo.
No fim, a mostra é o grau máximo da arte contemporânea desta temporada em Nova York. A exposição é um testemunho de que as coleções e as memórias se relacionam e tentam aprisionar o tempo. No fundo, a exposição nos diz que as coleções só foram criadas e preservadas porque guardam nossos afetos. Quer mergulhar no cenário das artes da Big Apple, percorrer os andares do New Museum e se jogar nas instalações de The Kepper? Pois é, você tem até o dia 25 de setembro, corra Lola!
Foto do destaque: o trabalho de Ydessa Hendeles (Wallpaper.com)
Rata de galerias e museus, não perde a oportunidade de ir procurar aquela tela, escultura ou monumento famosos que todos só conhecem pelos livros.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.