Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Depois do Sónar Reykjavik, eu não sabia muito o que esperar do Sónar Estocolmo, edição mais compacta do festival pelo mundo. Por aqui, são 2 dias divididos entre 3 palcos. O lugar t, um galpão industrial reformado e transformado num lugar para eventos, é afastado do centro da cidade, mas pareceu sob medida para a edição sueca do Sónar.
A entrada era um pouco escondida, dificultando o acesso à entrada do lugar. Uma placa muito discreta sinalizava “Sónar Stockholm”, mas ela só poderia ser vista por quem já tivesse achado o caminho. Diferentemente da edição islandesa, eu praticamente não ouvi falarem outra língua a não ser a local.
Os shows foram divididos em 3 palcos: o SonarClub, com bandas e as atrações principais, o SonarHall, dedicado aos DJs e produtores de música eletrônica e, por fim, o escondido SonarLab, uma tenda levantada no quintal aos fundos do espaço, que levou DJs menores. Aqui um playlist para acompanhar o post e mostrar um pouco o que foi o Sónar Estocolmo:
O clima era mais de festa do que de festival, mas isso se deve (talvez) ao tamanho da edição, somado ao espaço e ao lineup. O público sueco é mais contido em todos os sentidos, se comparados aos islandeses. Mais roupa, menos produção e sem rodinhas nos pés.
Dois bares, um para cada grande palco, vendendo cerveja espanhola – a Estrella Galicia era a patrocinadora do festival -, por 59SEK, ou quase R$ 28 na nossa moeda, que está definitivamente quebrada. Coquetéis por 125SEK, ou – chorem – R$59, além de opções de garrafinhas de vinho e cidra. Na área externa, onde ficava o palco SonarLab, um foodtruck foi instalado para dar conta da larica. Nada de banheiro químico, mas apenas uma área com vários banheiros unissex que, aparentemente, deram conta do recado.
No primeiro dia, foram as mulheres que reinaram no palco e fizeram as melhores apresentações. Chegamos no meio do show do sueco Duvchi. Por aqui ele é relativamente conhecido com sua música eletrônica pop, acompanhada da sua voz aveludada e afeminada, o que me fez demorar a perceber quem estava no palco. O show não trouxe nada de novo. Apenas um show bem feito e que colocou as pessoas para dançar.
A melhor experiência da noite começou mesmo com a americana Holly Herndon, que segurou o público com sua música contemporânea e extremamente experimental. E, com certeza, ela foi a artista que mais me impressionou por aqui. A cantora, compositora, artista e doutoranda em composição musical pela Stanford, afirmou que nenhum instrumento é tão emocional quanto seu laptop e isso se traduz em sua música. Holly apresentou seu último álbum “Platform” com uma verdadeira performance artística no palco. Foi muito além de um mero show de música ao vivo. As projeções transformaram o palco em um grande videoclipe sendo produzido ao vivo. O show é visceral e provoca uma inquietude que poucos permitem causar. É estranho, é caótico sem ser, é a música em sua essência como arte. Não à toa, o disco “Platform” está em várias listas de melhores álbuns de 2015. Posso agora colocá-la também, provavelmente, na lista dosdos melhores shows que veremos em 2016. Quando você entende o seu trabalho, você percebe que poucos são tão contemporâneos como ela na música. Foi uma hora hipnotizando o público, que ficou estático olhando para ela.
Depois do som cabeçudo e de ter a alma um pouco fora do eixo, foi a vez de cairmos na pista com a The Black Madonna, que gostei mais por aqui do que em Reykjavik. Talvez a pista mais iluminada e mais aquecida trouxe uma outra percepção da DJ. Quem me impressionou mesmo nas pickups foi a jovem DJ e produtora sueca Toxe, de apenas 17 anos (talvez 18 agora), que começou a tocar e produzir aos 15. Apesar da pouca idade, a gata é do selo Staycore, com quem lançou seu primeiro EP Muscle Memory. Em 2015 ela representou a Suécia no Red Bull Music Academy, em Paris. A moça vai longe ou não? Entramos na pista e, coincidentemente, ela soltou um funk carioca, que mixou perfeitamente com a música seguinte. O sueco Yung Lean, de apenas 19 anos, é uma estrela na Suécia e anda também bombando além do Atlântico, mas, apesar de bem produzido, a impressão que passou foi a de um show ser composto por uma música num espetáculo cheio de clichês e muito auto-tune. A pista tremeu, a galera cantou e dançou junto, mas nós fugimos.
Outra DJ e produtora sueca que nos surpreendeu foi Ida Engberg, que fez um set de tech house caprichado e encheu a pista. Fãs por aqui não faltam. Ida começou a tocar aos 18 anos e está atrás das pickups há 14. O seu primeiro single “Volante” foi lançado junto com a Björk e foi hit no verão europeu em 2007. Desde então, a gata não parou mais e está no lineup de diversos festivais de música eletrônica e tocando nos maiores clubes do planeta. Eu dancei como se não houvesse amanhã.
Fechamos a noite com Squarepusher, que impressiona na entrada, com as luzes e o figurino apocalíptico meio Daft-Punk que usa em suas apresentações. Sua música experimental e barulhenta faz eu achar que ele produz mesmo “música para robôs”, mas o público, a essas alturas, já estava pronto para ele. Quem curte Squarepusher, provavelmente saiu satisfeito com sua apresentação, mas eu fugi de fininho porque sua música não é para os meus ouvidos.
A segunda noite foi dos homens. Chegamos já bem acompanhados com o Oneohtrix Point Never no palco, que lançou “Garden Delete” em 2015, com um show de luzes jorrando na cara da plateia a maior parte do tempo e sua música eletrônica experimental, que traz, em alguns momentos, a sensação de estarmos num show de rock. Palco lotado, com a galera colada na grade para curtir os experimentalismos de Daniel Lopatin, o cara por trás do projeto. Quem gosta de vaporwave foi ao delírio e voltou.
Hudson Mohawke fez a mesma entrada climão que vi em Reykjavik. E aqui na Suécia como na Islândia, o público realmente pira bastante na música dele. Palco lotado, com a galera pulando ensandecida. Para muitos, ele foi A atração da noite. Mas nós queríamos mesmo era dançar e acabamos nos rendendo ao som delicioso e quase “lento” do holandês Fatima Yahama, que já tinha me conquistado com seu live incrível em São Paulo, e que conseguiu aos poucos encher a pista, botando todo mundo para dançar. Foi a transição perfeita para fechar a noite com o escocês Jackmaster, que tocou no palco principal, abrindo com um set mais tranquilo e que foi aumentando o peso ao longo da noite. Encerrou o festival com uma grande festa, o que ele realmente foi.
*A Volta ao Mundo em Festivais de Música é um projeto patrocinado pela KLM Brasil, que faz parte do SkyTeam, oferecendo voos para 1.052 destinos em 177 países. #fly2fest
Foto capa: Squarepusher / Ola Persson
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.