Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Imagine um festival de teatro cercado por muralhas medievais, em pleno verão europeu e, mais ainda, numa cidade que foi residência de papas da Igreja Católica em 1309! Agora, confesso, fui muito malvada! Não dá para imaginar, não! O Festival de Avignon, no sul da França, é algo surpreendente e extraordinário. É preciso ver o que acontece naquelas ruas, vielas, becos, bares, restaurantes e teatros para se ter uma pequena ideia do que é uma cidade inteira viver intensamente a arte e, em particular o teatro, por cerca de duas semanas, 24 horas por dia.
Sua primeira edição foi em 1947, por iniciativa de Jean Vilar, ator e um dos diretores mais influentes do teatro contemporâneo francês. A proposta era fazer com que o teatro realmente fosse uma arte coletiva, com uma linguagem diferente do teatro que era praticado em Paris, atingindo um público jovem e entusiasmado. Quem anda pelas ruas de Avignon durante o festival hoje tem certeza de que Vilar e sua trupe conseguiram realizar o sonho. São inúmeros grupos que se apresentam em diversos teatros espalhados pela cidade. Dos clássicos, passando pelo drama e pela comédia, até encenações experimentais. Tem teatro para todos os gostos.
Porém, o mais impressionante é que nem só de palco vive o teatro em Avignon. Atores, atrizes, dançarinos, cantores e performáticos de toda a ordem invadem as ruas daquele cenário medieval. O festival literalmente toma de assalto o lugar. Todos transformam-se em atores e performáticos (mesmo aqueles que nunca passaram nem perto da ribalta). Ao mesmo tempo, todos também se tornam público. Fica difícil a distinção entre os dois papéis. Os espetáculos acontecem a todo instante. Uns têm hora marcada e outros pegam de surpresa quem está passando nas ruas. É preciso estar preparado e se divertir com o susto.
A promoção dos espetáculos é feita por cartazes espalhados pelas fachadas dos edifícios, mas os promotores são uma atração à parte. Eles interceptam as pessoas nas ruas e iniciam um diálogo (na verdade, um processo de convencimento) sobre o seu espetáculo teatral – não pense que não saber francês é um obstáculo. Nem um pouco! Os diretores, atores e promotores esforçam-se para serem compreendidos, surgem daí, falas em inglês, alemão, espanhol, mímica e até português. É nessa hora que se entende que a arte é uma linguagem universal (parece chavão, mas não é mesmo!).
E não é só de teatro que vive o festival. Nas ruas da cidade, acontecem apresentações públicas de dança, poesia, artes plásticas e artes do circo – e o melhor, tudo grátis. São geralmente pockets para promover o espetáculo principal que ocorre em outro horário num teatro ali perto. As ruas ficam repletas de gente que dança, canta e conversa entre si.
Os restaurantes ficam nas ruas principais com mesas e cadeiras nas calçadas. Tudo regado a vinho e comida francesa. Aqui deixo uma dica: os restaurantes servem refeições das 11h às 14h e das 18h às 22h, antes ou depois disso, nada feito! É só suco, água, vinho e petiscos. Além deste detalhe curioso e importante, poucos serão os brasileiros encontrados por lá (eu mesma não vi nenhum). E os franceses de lá? Quanta diferença! Eles são alegres, amáveis e divertidos.
Outro detalhe: hospede-se na cidade medieval. Há uma Avignon moderna, mas é entre as muralhas que o festival acontece e onde a diversão é garantida. Lembre-se que é uma cidade medieval. As ruas são estreitas e revestidas com pedras, as casas têm infinitas escadas, mas estão adaptadas a quase todo o conforto da vida contemporânea. Organize sua viagem e arrume suas malas. Tudo precisa ser feito agora, c’est la vie! D’accord? O festival em 2016 acontece de 6 a 24 de julho. A programação, as informações gerais e a compra antecipada de ingressos podem ser encontradas em www.festival-avignon.com.
*Foto destaque: Elaine Maziero
Rata de galerias e museus, não perde a oportunidade de ir procurar aquela tela, escultura ou monumento famosos que todos só conhecem pelos livros.
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