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Mendoza é uma das minhas cidades preferidas, daquelas que você sempre quer voltar. Como muitas das cidades que ficam na região da Cordilheira dos Andes, Mendoza possui uma história fascinante de ocupação e resiliência. Ao mesmo tempo que a Cordilheira serviu para as antigas civilizações como barreira contra os invasores, também os obrigou a viver em zonas sísmicas de clima hostil e em altitudes elevadas.
Os Huarpes, que habitavam a região antes da ocupação espanhola, eram basicamente agricultores e encontraram no degelo das águas das montanhas, trazidas pelo Rio Mendoza, a oportunidade de irrigar suas plantações e prover água à população. O clima seco, devido ao bloqueio da umidade do Pacífico pela cordilheira, não os impediu de transformar aquela região num verdadeiro oásis. Essa herança deixada pelos Huarpes – e continuada pelos espanhóis – pode ser vista em qualquer parte da cidade. É só observar: entre a calçada e a rua há sempre uma valeta onde corre água limpinha e gelada. Mas cuidado, as valetas variam de tamanho e nem todas possuem grelhas, então, ao sair do carro e cruzar a rua, atenção para não cair em nenhuma delas. Curiosidade: existem comportas nas valetas que fecham a circulação das águas de tempos em tempos e, por isso, nem sempre estão com água. Pelo fato de se localizar em uma região árida, Mendoza valoriza a água e a utiliza de forma racional e eficiente.
O principal parque da cidade, Parque General San Martín, possui um lago artificial enorme, com as valetas por toda parte. No verão, quando o Rio Mendoza fica mais cheio, estar no Parque com toda aquela abundância de água é um refresco! No final da tarde, o parque fica lotado com grupos de pessoas tomando “el mate” (o chimarrão argentino) e fazendo piquenique. Claro que, da hora do almoço até umas 16h-17h, a cidade faz a famosa “siesta”, principalmente no verão, quando o sol se põe lá pelas 21h. Vale a pena entrar no ritmo da cidade e dormir um pouquinho depois do almoço, enquanto o sol ainda está a pino, pois a noite vai ser longa.
Os bares e restaurantes de Mendoza se concentram na Avenida Aristides Villanueva, localizada no centro. É o lugar onde todos vão passear à noite, jantar, tomar um sorvete ou umas cervejas geladas. As boates ficam nos arredores da cidade, no caminho em direção a Potrerillos.
Não posso me esquecer de mencionar os inúmeros vinhedos nos arredores. Mas não só as uvas são cultivadas lá. Também existem inúmeras plantações de azeitonas, ameixas, cerejas, pêssegos, damascos, entre outros. Muitas dão origem a geleias e azeites, a maioria em escala caseira. É para encher a barriga – e a mala!
O que mais me fascina nessa cidade é a quantidade de coisas para conhecer e fazer, tanto no verão, quanto no inverno. No verão, é possível passear nas bodegas de vinho, observar as uvas quase maduras nos vinhedos, passear pelas peatonais, fazer piquenique e nadar no dique Potrerillos, ir a um spa com águas termais no meio da montanha, fazer rafting, cavalgadas nas montanhas, conhecer sítios arqueológicos (como El Puente del Inca), comer as frutas da estação, passear no parque e, para os mais radicais, muita escalada de montanha. Vários aventureiros tentam subir o Aconcágua, o pico mais alto da América do Sul, localizado próximo à cidade, e escolhem o verão para tal façanha. Como Mendoza está a 746m do nível do mar, no fim de uma tarde de verão pode ficar mais fresco. Aliás, as montanhas, que são vistas do lado oeste da cidade e o Cordón del Plata, com altitudes entre 3 mil e 6 mil metros, estão sempre com os picos nevados, mesmo no verão.
Embora nevar em Mendoza seja raro, durante o inverno há várias atividades envolvendo a neve. Pertinho da cidade fica a estação de ski de Penitentes e, um pouco mais longe, a de Las Leñas. Para os amantes de frio e vinho, as atrações são muitas: o spa com águas termais quentinhas vindas do subterrâneo das montanhas (que já foi atrativo de inverno para a elite bonaerense no começo do século passado), visitas a bodegas e vinícolas, alugar cabanas no meio das montanhas para desfrutar das paisagens à beira da lareira ou até mesmo se aventurar, fazendo caminhadas mais radicais.
Além de tudo que descrevi, seus moradores são cordiais, as ruas são bem arborizadas, a cidade é ordenada e também muito agradável. Motivos não faltam para visitar Mendoza. Mesmo para quem não bebe vinho.
A Marcela é brasileira, mas é filha de argentinos. É arquiteta e hoje vive em Buenos Aires. Se quiser acompanhá-la, é só segui-la aqui.
Foto de destaque: Shutterstock – Matyas Rehak
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