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O quê? René Magritte não tão surrealista assim? Pois é, eu também fiquei passada com essa perspectiva. Mas, creiam! A ideia que percorre a nova exposição do artista no Centro Georges Pompidou, na capital francesa, é justamente desconstruir o seu processo criativo e oferecer um novo olhar sobre sua produção, muito mais próxima da filosofia de Michel Foucault (estudioso das relações entre conhecimento e poder) do que do automatismo de André Breton – o papa do surrealismo. Ficou difícil? Não se desespere! Vem comigo que a gente desvenda essa exposição juntos.
Na verdade, a exposição Magritte, a traição das imagens, é mais uma de uma série de mostras que o Pompidou tem dedicado aos grandes nomes da arte do século XX. Por lá, já rolaram individuais de Edward Munch (O olho moderno), Henri Matisse (Pares e Séries) e Marcel Duchamp (Pintura, mesmo). Em todas essas exposições, as curadorias questionaram o que já se sabia destes artistas e colocaram por terra o senso comum que costuma existir na leitura destes trabalhos. As obras dos mestres da arte moderna foram revistas e apresentadas de modo inovador. Imagina se pensar a obra de René Magritte não iria abalar convicções?!
Em cinco salas temáticas, organizadas não cronologicamente (mas, por ordem analógica), com mais de cem obras, entre pinturas, desenhos e documentos de arquivos, a exposição traz alguns trabalhos emblemáticos. Porém, a curadoria privilegiou obras pouco conhecidas do grande público, pertencentes às coleções públicas e privadas. Na sua maioria, as obras são datadas pós-1930 – quando o artista belga (sim, Magritte não é francês) admite que sua produção, de fato, sofreu uma reviravolta: o pintor abandonou o automatismo e o acaso do surrealismo para se dedicar ao que ele chamou de “problema”. Ficou puxado agora? Calma, explico um pouco mais.
Magritte era fascinado pela simulação e por criar perturbações na arte. Quando ele propôs a tela Ceci n’est pas une pipe (Isto não é um cachimbo), 1929, que integra a série La trahison des images (A traição das imagens), ele desafiou a convenção linguística de identificar a imagem de algo como a coisa em si. O pintor nega o que estamos vendo, ocasionando um “problema”, um conflito de mensagem. Olha aí, a traição da imagem! Pensamos que ela é o espelho do objeto, mas ela é somente uma ideia, um simulacro. Suas telas nunca são o que parecem, cuidado!
Os motivos que Magritte coloca em suas obras – entre eles: cortinas, sombras, guarda-chuvas, palavras, chamas e corpos em pedaços – são vistos como os desafios filosóficos frente à representação visual. São motivos cruéis porque estão no cotidiano de cada um de nós. Não pertencem ao terreno do onírico ou do psiquismo. Eles são explorados pelo pintor de forma rigorosa e lógica – não são de modo algum aleatórios ou arbitrários. No fundo, seria como suas obras fossem fórmulas matemáticas com as soluções embutidas nas imagens.
Confesso leitor de filósofos da pesada, como Heidegger, Merleau-Ponty e Foucault (inclusive deste último era tão amigo que trocava continua correspondência, nos anos de 1950), Magritte, dono de uma biografia intensa e de um reconhecido humor negro, expressou seus pensamentos filosóficos através de suas telas, desenhos e documentos. Sua arte ainda hoje tão atual nos faz perguntas terríveis sobre coisas que tomamos como concedidas e não são. Na sua arte, embora as coisas pareçam perfeitamente normais, percebem-se as estranhezas por toda a parte.
Ficou curioso? Quer tirar a prova do que estou falando? Então, organize-se! Você tem até 23 de janeiro de 2017 para ir ao Pompidou (agora, que já somos íntimos, pode chamar de Beauborg) e conhecer o filósofo da arte moderna René Magritte.
Centro Georges Pompidou
Place Georges Pompidou, 75004 – M° Rambuteau (11)
De 21 setembro de 2016 a 23 janeiro de 2017
Diariamente (exceto terça-feira) das 11h às 21h
Até às 23h na quinta-feira e toda segunda a partir de 3 outubro de 2016
Rata de galerias e museus, não perde a oportunidade de ir procurar aquela tela, escultura ou monumento famosos que todos só conhecem pelos livros.
Ver todos os postsAlecsandra…..que post foi esse….. Como continuar vivendo o dia a dia sem ir ver essa exposição?? Teletransporte já pro Pompidou!
Bia, às vezes, rolam privações que temos que suportar! Mas, a exposição sobre Magritte, no Centro Pompidou, é mesmo imperdível. Não dá para passar a vida com essa vontade. Acho que já é hora do teletransporte ficar mais acessível para todos! Beijos.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.