Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Durante a cerimônia de encerramento das Olimpíadas no Rio de Janeiro, todos ficamos com um gostinho do que será um dos maiores eventos esportivos do mundo na Terra do Sol Nascente, daqui a quatro anos. Japão. Não é surpreendente que um país que se manteve fechado a influências exteriores por milênios seja um mistério para muita gente. Certamente, a atenção que Tokyo receberá com o evento ajudará a desconstruir um pouco o estereótipo injusto que muitas pessoas aqui no Brasil têm do Japão, um país frequentemente mal interpretado. Mas, para mim, são os segredos que essa nação-arquipélago guarda que a tornam um dos destinos mais interessantes no planeta.
Um desses segredos são os ryokans japoneses. Aqueles que visitam o Japão têm também a possibilidade de se hospedar em hotéis ou Airbnb’s, mas uma noite em um ryokan – que é quase uma cruza entre uma pousada e um museu – deve estar na lista de Top Things To Do de qualquer viajante. Essas hospedarias são a quintessência da tradição japonesa, algumas chegando a carregar séculos de história em seus tatames e shōji (aquelas portas deslizantes feitas de madeira e papel de arroz translúcido que traduzem perfeitamente a graça dos japoneses). Esse é o caso de um dos ryokans mais célebres do Japão, o Tarawaya, no qual tive a oportunidade de me hospedar em uma viagem ao Japão no ano passado.
O Tawaraya opera há mais de três séculos no centro de Kyoto, próximo ao Palácio Imperial, ao lado da estação de metrô Kyotoshiyakusho-Mae. No dia em que faríamos o check-in, chegamos atrasados para o jantar. Em alguns ryokans, costuma-se incluir um jantar kaiseki (uma epopeia gastronômica, representando a “haute cuisine” japonesa) ao valor da diária da acomodação como parte da experiência. Logo na entrada, percebemos que éramos ansiosamente esperados. Depois das saudações costumeiras, com direito a reverências cerimoniosas, nos foi solicitado que deixássemos nossos calçados no pequeno foyer na área de entrada. Depois de uma checagem rápida dos nossos documentos, Atsuko (se a memória não me falha, era esse o seu nome), nossa “governanta/mordoma pessoal”, nos guiou para dentro do prédio. Levou-nos diretamente para os nossos quartos, sem parar para fazer qualquer tipo de comentário sobre as premissas ou história do local, atitude bem em tom com a discrição japonesa. Nosso quarto era no segundo andar, com uma antessala moderna, a área do tatame onde a mesa do jantar estava disposta, e um banheiro ao lado. O ambiente era o de uma mansão na qual éramos convidados de honra. Atsuko parecia estar ansiosa para nos servir o jantar, então logo nos sentamos à mesa, sobre o chão de tatame. Durante a refeição, pudemos confirmar a veracidade do conhecido “sexto sentido” desses anfitriões: bastava deitar nossos hashis ou talheres sobre a mesa após termos terminado um dos múltiplos pratos servidos individualmente, que logo ouvíamos, em nossa porta, as suaves batidas de Atsuko trazendo a próxima iguaria a ser provada.
Na tradição dos ryokans japoneses, depois do jantar, os hóspedes deixam o quarto para tomar seu banho. No Tawaraya, todos os quartos têm um banheiro privativo, no estilo ‘mini-onsen’: o ofurô espera com a água já quente logo depois da sobremesa. Nesse meio tempo, Atsuko retirou a mesa do quarto e a substituiu com os futons para uma noite de descanso em meio a lençóis de linho. Depois do banho, já vestindo os nossos yukatas – roupões tradicionais japoneses oferecidos a todos os hóspedes – fomos nos deitar em completa tranquilidade para dormir o sono mais zen das nossas vidas.
De manhã, após o café servido no quarto, tivemos uma chance melhor de explorar o local com calma. No estilo da tradicional arquitetura japonesa, com feixes de madeira e painéis de vidro para todos os lados, o Tawaraya é recheado com um mobiliário precioso de peças antigas e modernas, cuidadosamente selecionadas e mantidas pelos proprietários da casa. Todos têm ainda acesso à biblioteca privada dos donos, um espaço especial para os amantes da leitura. Em todos os cantos, percebe-se a onipresença da natureza na arquitetura, uma união extremamente valorizada pelos japoneses. Grande parte do prédio é construído com materiais naturais, como madeira, terra, papel, grama, bamboo e pedra. Cada quarto tem vista para o seu próprio jardim, e de todas as áreas comuns do ryokan vê-se o jardim central, cujas plantas são delicadamente arranjadas para provocar um instantâneo sentimento de serenidade naquele que as contempla.
A reputação do ryokan Tawaraya – considerado por vezes como “o melhor ryokan do Japão” – resulta nas suas diárias altas: uma noite, com jantar e café da manhã inclusos, varia de ¥42,263 a ¥84,525 por pessoa (de R$1.300 a R$2.700). A tarifa alta, no entanto, justifica-se pelo que será, sem sombra de dúvida, uma experiência memorável.
Informações:
Tawaraya Ryokan (sem website oficial)
278 Nakahakusancho, Nakagyo-ku, Kyoto 604-8094, Kyoto*
Tel. +81 75 211 5566 | Fax.+81 75 211 2204**
*Fácil acesso pela linha Tōzai, estação Shiyakusho-mae, saída 8.
**Eles não possuem email, reservas são feitas por telefone. Devido à dificuldade na comunicação, o fax é a melhor opção, quando disponível.)
O carioca Gabriel gosta de viajar sem pressa. É daqueles que ao invés de planejar seu itinerário prefere ler tudo o que acha sobre o seu próximo destino e que depois da volta adora curar as lembranças das suas expedições em fotografias e textos. Odeia turbulência e paus-de-selfie. Escreve também no Caderno do Desassossego.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.