Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Se alguém se aproximar de você com trompetes, a regra é clara: dance. De preferência, suba em cima da mesa ou se jogue no chão. Essa é a melhor forma de demonstrar seu apreço por todo o oxigênio liberado de pulmões gastos, suados, e cheios de energia dos trompetistas sérvios.
Esqueça Coachella, Glastonbury ou Roskilde: se você quer um festival verdadeiramente “muito louco”, esse é o Guca. Troque uma metrópole européia por uma pequena cidade no interior da Sérvia, o eletrônico por sopro, óculos da Persol por meia-calça 3/4, a droga sintética do momento por rakja de ameixa, envoltos por uma pluralidade de rostos, idades e pessoas que duvido que tenha visto antes em um mesmo metro quadrado.
A vila de 2.000 pessoas recebe, durante um fim de semana, mais de 600.000 visitantes, que consomem mais de 300.000 litros de cerveja, cem porcos e cem carneiros, queimados pelas ruas da cidade. A rota não é das mais fáceis, já que são pelo menos dois ônibus diferentes conectando em Čačak (pronuncia-se tchatchak) para chegar à cidade. Mas nada que um Blablacar não resolva. Afinal, a grande maioria é de sérvios, combinados com uma pitada de franceses, polacos e italianos.
Em uma cidade com opções limitadas de hospedagem, as pessoas abrem as casas para hospedar os vários turistas. As camas nas casas custam de 10 a 35 euros, para aqueles que querem experimentar a vida por lá. É possível chegar facilmente sem planejamento e encontrar abrigo, mas se é do tipo “planejadinho”, essa agência escolhe uma família para você chamar de sua. Mas se você quer a experiência mais real, acampe: em todos os lados da cidade, por 5 a 7 euros por noite, você tem chuveiros e toaletes relativamente utilizáveis, acompanhados de festa quase non-stop entre os plásticos e colchões das barracas. Nem precisa reservar antes, mas há várias opções aqui.
O cheiro de churrasco é acompanhado pelo som das mais de 50 bandas de sopro balcânicas que tocam pelas ruas, e competem entre si pelo título de mais importante do ano: o ganhador do festival de trompetes de Guca.
Durante quatro etapas regionais, as bandas estudam com seriedade e paixão no olhar que você só encontra no patrono de uma escola de samba. As ruas são tomadas por bandas de todos os tipos, mas apenas 11 são boas o suficiente para chegarem à final. O som vai tomando conta quase que sem querer, e no segundo dia você se encontra sabendo cantar e dançar um kolo sérvio.
Andar em Guca é mais do que uma viagem no espaço. Acho que ali nos arredores de Čačak você também atravessa um buraco no tempo, chegando à uma época nostálgica para quem viveu nos anos 80.
Vegetarianismo, como é possível perceber, é um conceito um tanto quanto difícil na comunicação já entravada em qualquer restaurante: mais fácil pedir com o porco mesmo e deixá-lo de lado.
Se você não fuma, sugiro começar. Existe algo de libertador na sensação ao frequentar qualquer bar, restaurante, banheiro (ou até hospital), pois sua roupa sairá com aquele cheirinho típico de cortina de boteco na Augusta em 1991.
E prenda, gente? Quem não gostava de uma boa prenda na festa junina do colégio? Acerte a argola na garrafa e ganhe algum personagem cuja pelúcia lembra o sofá da sua tia Maria Cláudia.
Ou olhar com carinho nos olhos de uma criança que não sabe que terá seu futuro eternamente condenado pela escolha politicamente incorreta de brinquedos dos pais. E que os adesivos de carro indicavam a cautela a ter com o carro da frente com um bebê a bordo.
Se você optar por hospedagem familiar, pode ter a chance de tomar o café da manhã dos campeões: uma rakja de ameixa pra abrir o apetite. Porque essa coisa de granola e gojiberry é invenção de pelo menos vinte anos pra frente.
Não esqueça de provar pljeskavica, o hambúrguer sérvio sensação das ruas. Com alguma sorte, você será convidado por alguma das casas para provar o kiseli kupus, repolho fermentado durante dias que é feito para casamentos e ocasiões especiais.
E nada mais especial do que 4 dias de festa. O programa durante o dia é bastante simples: saia com o coração aberto, escutando as bandas pelas ruas. Já a noite, a festa é no estádio… de graça, durante as competições.
Entre as músicas de trompete, discursos fervorosos dos júris e bandas, declamando seu amor à música, à Sérvia e ao mundo. Ou dando receita de como fazer bolo de fubá, já que efetivamente eu não entendi bulhufas.
Se for organizar uma viagem aos Balcãs, cogite dar uma olhadinha no calendário do festival. O retorno às raízes, as cores e a simplicidade do ar vibrando dentro de centenas de tubos de bronze podem facilmente levar você a se apaixonar pela Sérvia.
Até lá, sugiro aprender a arriscar umas notinhas no trompete.
Foto destaque: Wikipedia
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.