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No meio da exposição Portinari Popular, que está rolando no Museu de Arte de São Paulo desde agosto, olhando as obras de um dos pintores mais famosos do país, você se pergunta: como será que ele fez isto? Ou ainda: onde será que ele fez estas telas? Ah! Você ainda não foi na exposição no MASP? Faz assim: não conta para ninguém. Deixa este como um segredo nosso e vá o mais rápido possível. Mas, mesmo não indo (ainda), você ficou curioso: como seria a casa de Cândido Portinari? E se eu te contar que para conhecer a vida e a casa da família do artista, basta ir a Brodowski, a quatro horas de São Paulo, região noroeste do Estado?
É verdade. A pequena cidade guarda as memórias mais caras de Cândido Portinari e marcou, de modo profundo, seus trabalhos mais conhecidos. Filho de imigrantes italianos, Cândido Portinari nasceu em 1903, na Fazenda Santa Rosa, onde seu pai trabalhava na lavoura de café. Candinho, como era chamado carinhosamente por sua família, viveu em Brodowski durante a infância – antes de partir para o Rio de Janeiro, aos 15 anos de idade, em busca de estudos na Escola Nacional de Belas-Artes.
Da infância em Brodowski, Portinari trouxe as lembranças de menino para suas telas. São figuras e cenários do universo infantil (como as cenas de brincadeiras das crianças), do mundo campesino (como os trabalhadores da tela Café, 1934/35) e do mundo da fome e da exclusão (como as mulheres e os homens esqueléticos da série Retirantes, 1944, acompanhados de suas crianças famintas e doentes). A cidade de Candinho fica às margens da Estrada de Ferro Mogiana onde, no início do século XX, a produção de café e o fluxo migratório eram intensos.
Dá para sentir todas as influências e sentimentos que moveram a arte de Portinari no hoje Museu Casa de Portinari, sua antiga residência, localizada na Praça Cândido Portinari, número 298, no centro da cidade. O Museu composto pela casa principal e construções anexas, resultantes de sucessivas reformas e ampliações. Suas paredes revelam surpreendentes murais pintados pelo artista.
Nos espaços da Casa estão móveis e utensílios utilizados pela família Portinari, indicando sobretudo um modo de vida. Os trabalhos do pintor presentes na Casa são murais nos quais surgem especialmente as técnicas do afresco e da têmpera, além dos temas predominantemente religiosos. Há ainda uma coleção de desenhos e notas sobre sua vida e obra.
Os lugares mais destacados do museu são o ateliê do artista, a Capela da Nona e os jardins. Algumas dependências permanecem com suas funções originais e outras foram adaptadas para espelharem a produção artística de Portinari, sua vida e sua relação com a casa, a família e a cidade.
O ateliê do artista conserva os seus objetos de trabalho: pincéis, tintas, paletas, carvão, espátulas, telas, cavaletes, entre outros; inclusive uma tela que o artista deixou preparada, falecendo antes de finalizá-la. Aliás, em 1962, Portinari morreu intoxicado pelas tintas que usava em seus trabalhos, justamente quando preparava uma grande exposição em Milão (trágico, não?). Por essa e muitas outras razões, visitar seu ateliê é entrar no lugar mais secreto de seu processo criativo.
Outro detalhe da vida íntima de Portinari é possível ver no Museu é a Capela da Nona, construída em 1914, porque a avó de Portinari não poderia ir mais à missa pela idade avançada. Candinho fez pinturas murais em têmpera que representavam os santos prediletos de sua avó com as fisionomias de seus familiares e amigos.
O artista tinha uma forte religiosidade. Em frente ao Museu Casa de Portinari, na Praça Cândido Portinari, está a Igreja Santo Antônio, para a qual Portinari fez uma pintura sobre o padroeiro. Era uma promessa, acredita!? A tela foi entregue à Paróquia local em um domingo de páscoa, dia 12 de abril de 1942, com recomendação do artista de que a obra nunca saia da capela.
Então, a exposição Portinari Popular, no MASP, nos mostra trabalhos incríveis do mestre modernista, mas o Museu Casa de Portinari dá protagonismo a Candinho (o menino e o homem simples do campo). Vale a pena viajar pela intimidade da vida e da família de Portinari. Caso queira embarcar nessa viagem, o Museu fica aberto de terça a domingo, das 9h às 18h.
Foto do destaque: Fachada Museu Casa de Portinari. Foto: Alexandre Moreira/A2 FOTOGRAFIA
Rata de galerias e museus, não perde a oportunidade de ir procurar aquela tela, escultura ou monumento famosos que todos só conhecem pelos livros.
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