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AfrikaBurn, o charmoso irmão africano do Burning Man

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

08 de May, 2016

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Apresentado por

Ensaiei várias vezes a minha ida ao Burning Man, mas ela nunca aconteceu, pois nunca me senti preparada fisicamente para tudo que o festival exige. Há alguns poucos anos, eu ouvi falar do AfrikaBurn, sua versão africana, que me atraiu pelo seu formato mais compacto e por ser em um continente no qual eu nunca tinha me aventurado. Com o projeto “Dando a Volta ao Mundo em Festivais de Música” eu precisava encontrar uma opção na África e a primeira delas foi justamente o Afrikaburn. Coloquei na agenda, estremeci com algumas condições que ele impõe, mas decidi que seria o momento de finalmente pisar num deserto pela primeira vez, acampar por uma semana e estar em condições que, bem, eu não sabia exatamente quais eram.

Eu no meu primeiro AfrikaBurn por Alexandre Nino
Eu no meu primeiro AfrikaBurn por Alexandre Nino

São 7 dias (de 25 de Abril a 1 de Maio) no meio do deserto com direito a escassos banhos, comida e bebida racionadas, e muita criatividade e troca rolando em volta. Com a ajuda da Vanessa eu consegui meu ingresso e meu espaço numa das várias tendas do festival, o Desert Magic. Música não é o foco do festival, mas ela o permeia do começo ao fim e, mesmo indo sem qualquer expectativa, eu me surpreendi com as ótimas festas que rolam praticamente 24 horas por dia no Afrikaburn durante os 7 dias em que ele fica em pé. A área do festival é dividida em “Quiet Zone” (o que é meio enganoso, porque silêncio mesmo só rolou quando queimaram o templo e tudo foi desligado, pois o som no deserto ecoa por todos os lados) e o “Loud Zone” (muita gente acampa lá, eu fugiria da área, pois aí é “noisy” mesmo).

Onde fica?

Afrikaburn nascendo em Stonehenge, Tankwa. Foto: Lalai Persson
Afrikaburn nascendo em Stonehenge, Tankwa

O festival acontece numa fazenda privada chamada Stonehenge, em Tankwa. Diferentemente do deserto Black Rock, onde rola o Burning Man, a areia em Tankwa não é tão fina, a terra é mais dura, as tempestades são menos constantes e, por ser outono, o calor menos intenso, mas as noites extremamente geladas. Para chegar lá, nos aventuramos numa mistura de ônibus com caminhão, sem nenhum conforto, sem ar-condicionado e amontoados entre malas e muita, mas muita bebida alcóolica levada por nós participantes. Afinal de contas, não se leva bebida apenas para si, mas também para dar para as pessoas.

São 5 horas de estrada que separam a Cidade do Cabo do deserto onde o Afrikaburn acontece, numa viagem linda (vimos até um elefante correndo num campo entre as montanhas), mas cheia de pulos e poeira, o que não permite abrir as janelas enquanto torramos no interior do “ônibus”. Nos arredores, muitos carros parados por conta de pneus furados, mas também muita animação e excitação em chegar lá. Como passaríamos uma semana juntos, tratamos logo de nos apresentar, saber quem, como eu, era marinheiro de primeira viagem, de onde vem, o que espera. Quase metade do nosso grupo de 40 pessoas era de outros países, como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Israel e nosso grupo brasileiro.

O que levar e onde ficar?

O quarteto fantástico: Nino, eu, Fábio e a Van
O quarteto fantástico: Nino, eu, Fábio e a Van

Viajamos em 4 amigos, um deles tendo decidido a ida uma semana antes do festival. Nos dias livres que tivemos na Cidade do Cabo, corremos para comprar todo o equipamento necessário na Cape Union Mart: roupas mais quentes, saco de dormir, travesseiro, toalha, cobertor, copo, lanterna, garrafas para água, baby wipes, shampoo e sabonete para banho seco e mais uma porção de coisas que eu sequer sabia que existiam. O frio também parecia mais implacável que o esperado, o que fez a maioria procurar por casacos e meias que fizessem com quem tivéssemos algum conforto à noite. Eu tenho sérios problemas para dormir com barulho, o que me fez tomar um dramin diariamente para poder “apagar” e descansar. Não posso reclamar, pois dormi bem todas as noites. Além de toda a parafernália para sobreviver num acampamento, vale caprichar na indumentária para entrar no clima total do festival.

A montagem da barraca, nossa casa por 7 dias
A montagem da barraca, nossa casa por 7 dias

O slogan do festival é “welcome home” e de fato é, pois todos constróem juntos o festival. É como se o festival não tivesse “um dono”. Todos são responsáveis por tudo. Por montar e desmontar e essa parte foi bem interessante. Como chegamos no 1º dia, pudemos assistir o festival crescendo ao nosso redor. Não existe transação comercial, as coisas simples ganham um valor especial. As emoções vão desde o pôr do sol, que diariamente é de tirar o fôlego (já viu pôr do sol no deserto?), a lua surgindo laranja no céu foi de me fazer sentar na areia e querer abraçá-la, o céu estrelado com a Via Láctea preenchendo o céu. Um banho tem um valor significativo, assim como um prato de comida quente e uma bebida gelada dada por um estranho e, até mesmo, um abraço inesperado. No último dia eu ganhei um pouco de café especial e quase chorei de tanta felicidade, assim como sorri com os olhos ao ganhar um gole de gin tônica gelada no meio da pista de dança, um abraço, um colar, uma pulseira, um anel que brilhava. A generosidade ganha formas como não costumamos ver no nosso dia a dia. As pessoas sorriem uma para as outras, dão bom dia, boa noite e perguntam se você está bem. Carão raramente tem espaço, mas ele existe (e a gente ignora).

Qual foi o tema de 2016?

Olha o X ali atrás
Olha o X ali atrás

As edições tem sempre um tema e o de 2016 foi “X“, que pode ter vários significados. X, o numeral romano ou simplesmente a letra x que pode significar qualquer coisa “x”. É o momento para refletir olhando para trás e imaginando as possibilidades do futuro. Essa foi a 10ª edição do AfrikaBurn, então o X não deixa de ser também uma homenagem à sua história e ao que está por vir. O número 10 significa também a conclusão de um ciclo. No Tarô, o dez é a roda da fortuna, que simboliza o início de um novo ciclo. Nas tradições místicas, X significa nascimento e morte. O X pode representar várias coisas, mas o lembrete foi da cidade ser construída pelos participantes e cada um interpretou e traduziu à sua maneira. O X esteve presente em várias obras, tendas e discussões.

Como funciona?

A nossa querida cozinheira (maravilhosa) Ine. Foto: Lalai Persson
A nossa querida cozinheira (maravilhosa) Ine

O AfrikaBurn é sobre compartilhar. É um festival em que se convive em comunidade à base de trocas. Venda somente de gelo. O restante é tudo racionado para durar a semana toda. Cuida-se para não gastar água e nem mesmo energia elétrica em excesso, que é fornecida por geradores e placas solares (levados pelos participantes), e o banho foi permitido a cada dois dias (no caso da nossa tenda). Em 7 dias eu consegui tomar apenas 2 (e bem gelados porque a água quente não rolou nem por decreto na minha vez). Por mais freak que eu seja com banho, confesso que me acostumei e sofri menos do que achei que sofreria.

Eu no tapete mágico, um dos veículos mutantes mais legais do festival. Foto: Alexandre Nino
Eu no tapete mágico, um dos veículos mutantes mais legais do festival. Foto: Alexandre Nino

Wi-fi não existe, mas existe o “Burning Mail“, em que você pode escrever um cartão postal à mão para enviá-lo para qualquer lugar do mundo ou mesmo para alguém de uma barraca ao lado da sua. Você escolhe. E o “Burning Mail” é também um gift de uma das várias tendas do festival. Cada tenda tem seu gift aos participantes e eles são diários. O AfrikaBurn é também sobre doar. Pode ser um simples chá quentinho acompanhado de boa música, um capuccino com panquecas pela manhã, uma sessão de yoga, uma palestra de criatividade, um bate-papo sobre sexo, um banho de piscina acompanhado de sangria gelada e até uns bons tapas na bunda se essa for a sua praia. Caronas são sempre bem-vindas. Pode ser ela num trem, num tapete voador, num rinoceronte ou na garupa de uma bicicleta, ou quem sabe na calda de um caramujo ou dentro de um “Smile” amarelo colorindo o deserto. As surpresas estão sempre presentes.

Nossa tenda: espaçosa e confortável, bem melhor do que esperávamos
Nossa tenda: espaçosa e confortável, bem melhor do que esperávamos

No dia em que chegamos a tenda estava em pé, mas o restante teria que ser montado. Acordamos cedo no dia seguinte e passamos a manhã organizando tudo: espalhando tapetes, montando cadeiras, luzes, placas e enfeites. Todo mundo colabora. Todo mundo cuida do seu próprio lixo. Todo mundo lava sua própria louça. Todo mundo ajuda a manter a ordem e limpeza do lugar. É essencial olhar sempre além do próprio umbigo.

Para passeios noturnos é necessário uma lanterna, preferencialmente presa à cabeça, já que luz não tem, mas tem escorpiões e muitas pedras grandes soltas em qualquer canto que se caminhe. Eu perdi um “pedacinho” da sola do meu pé numa dessas andanças numa pedra que não enxerguei. Boa parte das pessoas levam fios com luzes (estilo natal) e enrolam eles nas roupas, cabeça, em guardas-chuvas, paus de câmeras go-pro, acessórios luminosos. Parecem árvores de natal ambulantes.

Tem horários?

Nino no seu horário de trabalho: servindo chá pra galera.
Nino no seu horário de trabalho: servindo chá pra galera.

Cada tenda tem seus horários. A nossa tinha horário para tomar café da manhã (às 8h), almoçar (às 13h), jantar (às 19h30) e tomar banho (às 9 ou às 16h), já que para tudo é necessário uma estrutura e pessoas responsáveis para cada uma das atividades. Nas tendas também temos os horários de trabalho. No nosso foi uma média de 3 diferentes escalas no decorrer da semana para cada participante. Eu perdi meu horário como assistente do mágico, pois ganhei uma desidratação no primeiro dia, mas tive que limpar a grande tenda numa das manhãs logo após o café e trabalhei no serviço de chá por 3 horas lavando xícaras. Perdeu o horário? Leva bronca, além, claro, de se sentir mal porque alguém teve que te cobrir. E não pense que isso é raro. As pessoas se jogam e acabam desaparecendo, por isso o senso de comunidade é importante, pois nada pode parar.

Caso vá sozinho e fique numa tenda, é provável que tenha que dividir uma barraca com um estranho. E isso pode ser bom. Aprende-se (ou reaprende-se) a dividir o espaço e a respeitar os poucos metros quadrados do outro. Aprende-se a andar em silêncio, a reconhecer no olhar do outro que ele precisa de ajuda ou, quem sabe, um abraço, apenas um pouco de água ou uma luz para acompanhá-lo até algum lugar.

E essa é uma das coisas mais legais de ter ficado numa tenda: aprender a ter disciplina em meio a um festival tão surreal quanto o Afrikaburn e entendê-lo melhor.

Nossa tenda: Magic Desert
Nossa tenda: Desert Magic

É possível achar acampamentos menores, mas a estrutura pode ser deficiente e o mínimo possível de conforto pode não existir. As tendas temáticas são as melhores opções para quem está indo pela primeira vez, pois nela se experimenta bastante sobre os princípios do festival. Apesar de não ser tão confortável ir de caminhão-ônibus ou um 4×4 potente faz toda diferença. Enquanto dirigíamos a 60km/h, os carros no geral iam a 10, pois são cerca de 120km de estrada sofrível, cheia de pedras e alguns bancos de areia. Furar pneu é algo bem comum.

Estrutura

O banheiro é uma experiência a parte, já que tem todo o conceito sustentável. Feito à base de madeira, é fechado apenas nas laterais com a frente aberta para um deserto infinito à sua frente. Ao invés de descarga, serragem. Um vaso sanitário e um buraco feito no chão, onde se pode jogar tudo que é biodegradável. Em alguns momentos você está lá sentado tentando colocar suas necessidades para fora quando alguém resolve cruzar a sua frente de bicicleta. Com o tempo a gente se acostuma e ri da situação.

The Lighthouse, nossa pista favorita, a mais longe de todas lá aos fundos.
The Lighthouse, nossa pista favorita, a mais longe de todas lá nos fundos.

As festas não tem bar e nem banheiro. Muitas vezes, numa festa, andamos 1km para ir ao banheiro ou 3km para buscar uma bebida “em casa”, pois a que levamos nunca é suficiente. E o que leva, traz de volta para a barraca, seja lata de cerveja, garrafa plástica ou qualquer outro lixo. Cada um joga seu próprio lixo no espaço onde está “hospedado”, já que todo o lixo produzido volta conosco para a cidade. Não se deixa passar sequer uma lantejoula perdida no chão, já que o lema é também “Leave no trace“. É tudo olhado e revirado para que não fiquem rastros. E tem que levar a cabo. Todo mundo respeita? Não. Muitos saem tanto de si que mal conseguem cuidar de si próprio, mas aí nós ajudamos a cuidar deles.

A Playa e o "Egg", uma das instalações mais bonitas
A Playa e o “Egg”, uma das instalações mais bonitas

A divisão da cidade que se forma é a “avenida principal”, que contorna a “playa” onde ficam as instalações, que serão queimadas no fim do festival, as ruas laterais e traseiras e, por último, os banheiros, que ficam todos na mesma posição formando um arco no espaço do festival.

Quem vai?

A galera da nossa tenda
A galera da nossa tenda

No deserto se misturam várias raças, mas os holandeses, ingleses e alemães dominam a área, além, claro, dos sul-africanos que vêm de todos os cantos do país.

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Mood Mad Max

No festival se reúnem jovens, velhos, família, casais, grupo de amigos, assim como também todo o estilo de pessoa. Tem iogues, festeiros, intelectuais, hippies, hipsters e alguns lunáticos. O clima perfeito para traduzi-lo é um encontro entre Star Wars, Game of Thrones e Mad Max com uma pitada de Woodstock. Ter uma bicicleta à mão é, sem trocadilhos, uma mão na roda, para atravessar o deserto o tempo todo de um lado para o outro. Não tenho a menor ideia do quanto andei por dia, mas não foi pouco. A animação é maior que o cansaço, que só senti no dia seguinte em que retornei à Cidade do Cabo.

O que tem para fazer?

Uma tenda com biblioteca
Uma tenda com biblioteca

Durante o dia rolam várias atividades e também trabalho voluntário, já que somos nós que ajudamos o festival a acontecer. Tem os “líderes”, que ajudam os novatos, mas com todo mundo trabalhando junto o tempo todo. E, sim, tem gente que não entra no clima do festival e fica apenas na jogação. Tem sempre algo acontecendo à sua volta.

Show improvisado no Atelier, onde só ouvi música boa
Show improvisado no Atelier, onde só ouvi música boa

A nossa história envolveu vários momentos únicos: refeições espetaculares, festa de divórcio com direito a brinde com champagne, várias festas de casamentos, caronas em carros mutantes, conversas com muita gente incrível, cinema, show com piano ao vivo (de chorar de tão lindo, feito pelo público que passava em frente à barraca que deixou um piano à disposição), ótimas festas, jogos e, claro, as queimas das instalações que são bem simbólicas e emocionantes. Você convive dias com elas, acompanha a construção de algumas, se apega à várias e, de repente, está sentado esperando o ritual para que ela seja queimada.

E as queimas?

Queima do Templo, quando o silêncio absoluto reinou pelo deserto
Queima do Templo, quando o silêncio absoluto reinou pelo deserto

As duas principais queimas são o San Clan, que é o símbolo do festival, na sexta-feira, e o Templo, no sábado. Sentamos num círculo em volta dele, onde ficamos por 2 horas assistindo a noite cair e o céu ficar coberto por estrelas. Mais um espetáculo de chorar de tão lindo.

Ao redor do Clan foram juntando os carros mutantes com DJs a bordo tocando. O “Spirit Train“, a pista ambulante mais aclamada do festival, foi o responsável pela projeção no Clan. As pessoas não paravam de chegar dando a impressão de ter milhares de pessoas por lá. Um grupo ficou por quase uma hora fazendo performance com fogo em volta do Clan, um caminhão se aproximou, checou se havia alguém escondido na instalação e então jogou jatos de querosene. Na sequência os performers jogaram suas lanças de fogo no Clan. O fogo começa aos poucos a consumir a obra e o espetáculo é realmente lindo. O espaço fica todo iluminado pelas chamas, as pessoas gritam, aplaudem e vibram quando a estrutura finalmente cai. Eu chorei emocionada. No fim do espetáculo, várias pessoas começam a tirar a roupa e a correr peladas em volta do fogo que ainda resta.

Já na queima do templo, é mandatório desligar qualquer som no festival. É outro momento muito único. Algumas pessoas teimam em conversar ou mesmo gritar, mas são todas repreendidas pelos demais. O espetáculo acontece às 20h do sábado, penúltimo dia do festival. A estrutura, contrária do Clan, é baixa. Não há performance e o fogo começa a ser feito sem alarde. Olhar em volta é um espetáculo a parte, já que todos olham fixamente para o fogo que se espalha lentamente e ilumina o círculo que, até então, estava relativamente escuro e silencioso pela primeira vez em dias. Foi tão emocionante quanto o Clan. Foram 4 dias de queimas de obras e sempre tem público para cada uma delas. Elas começam na quinta-feira e vão até o domingo. Algumas são mais simples, mas ver um trabalho ser tomado por chamas é sempre emocionante. Tivemos alguns momentos de êxtase assistindo a diversos burns.

E a música?

The Spirit Train
The Spirit Train

São várias pistas, algumas delas comandadas por carros mutantes. Não há a menor dúvida de que o “The Spirit Train” é uma das favoritas. São 5 vagões com o DJ num deles. O trem é lindo, iluminado e solta fogo durante suas apresentações. Tem também todo um sistema incrível de iluminação. Ele tem um lugar fixo no festival durante à noite, mas no restante do tempo, ele está sempre transitando por todo o deserto e formando grandes pistas por onde quer que passe. O “Spirit Train” é encabeçado por DJs e produtores da Cidade do Cabo, que convidam DJs internacionais para tocarem. A música é o gift deles para o festival, já que as pessoas não recebem para tocar.

The Lighthouse, que foi queimada no último dia do festival
The Lighthouse, que foi queimada no último dia do festival

O segundo palco mais festejado foi o “The Lighthouse“, uma instalação fixa feita em colaboração por uma galera de San Francisco e da Suíça. Era a mais distante de todas, mas estava sempre lotada. Foi nela que praticamente moramos à noite. O bacana é que rola um intercâmbio dos DJs de uma “pista” para outra. O som por lá era house e mais cabeçudo. A pista iluminada fazia toda a diferença, pois possibilitava ver o público e conversar com as pessoas. A “Lighthouse” foi queimada no domingo à noite, sendo um dos últimos burn do festival. Eu não fiquei pra ver, mas sei que se ficasse, choraria por todos os bons momentos que ela me proporcionou.

O Rinoceronte é um carro mutante com cabine de DJ.
O Rinoceronte é um carro mutante com cabine de DJ.

Tinha também um palco ao lado da nossa tenda, que funcionava durante o dia esticando até às 22h30. Ela teve altos e baixos, mas nos últimos dias levou DJs incríveis para animar a pista, incluindo o alemão Seth Schwarz, que animou uma das nossas noites. E vários outros palcos se espalhavam por todos os cantos do AfrikaBurn, agradando a qualquer estilo. Tinha rock, música eletrônica, reggae, pop, inclusive shows de música ao vivo. Só não dançava quem realmente não queria.

E essa é a graça do festival, pois onde quer que se ande, vai ter uma trilha sonora para acompanhar.

Tem wi-fi?

Eu e o Fábio tendo que conversar
Eu e o Fábio tendo que conversar

Não e não ter wi-fi é uma grande benção nesse momento, pois nos faz olhar para a frente, para trás, para os lados. Faz com que a gente preste mais atenção no mundo. Faz com que as experiências se tornem mais intensas e únicas. Assim como é também uma benção ficar uma semana sem se preocupar com o que está acontecendo mundo afora, se estão dando like na sua foto ou não. O tal FOMO some completamente. O único que você poderá sentir é estar num lugar do festival e saber que está acontecendo algo muito incrível em outro canto dele.

Mas muda alguma coisa na vida ou não?

Voltei assim: vibrante. Foto: Alexandre Nino
Voltei assim: vibrante. Foto: Alexandre Nino

Quando as pessoas vão ao Burning Man e afirmam que a experiência é “life-changing”, ela é realmente de fato, mas você pode optar em mudar só por lá ou trazer essa mudança para a sua vida. Essa mudança tem a ver com generosidade, simplicidade, compartilhar e doar mais, se preocupar com o próximo, ficar feliz com as pequenas coisas da vida, estar mais aberto para o mundo. Quando olhamos à nossa volta e assistimos às mudanças que estão acontecendo no nosso mundo, o modelo “burning” é um bom exemplo para onde podemos caminhar. É quase uma viagem à infância, onde você cria os personagens que quiser, se desliga do mundo e se conecta com quem estiver à sua volta.

Fácil não é, mas é especial e viciante. Eu trouxe uma bagagem incrível e muitos novos amigos queridos. Já me sinto “afrikaburn sick”. Let’s come back home!

*Fotos: Lalai Persson

*O AfrikaBurn faz parte do projeto A Volta ao Mundo em Festivais de Música, patrocinado pela KLM Brasil, que faz parte do SkyTeam, oferecendo voos para 1.052 destinos em 177 países. #fly2fest

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

08 de May, 2016

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Apresentado por

Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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Comentários

  • demais seu depoimento! Bem completo e detalhes que dá para sentir um pouquinho do que deve ser!! obrigada! estou querendo ir esse ano, devo ir sozinha (seu depoimento deu mais vontade ainda de ir).. indica alguma contato de lá ou do evento ?

    - Raíra Yuma

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