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A lojinha do Memorial de 11 de Setembro e os limites do capitalismo

Quem escreveu

Vanessa Mathias

Data

11 de September, 2016

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Já estamos acostumados. Das pelúcias coloridas na Disney às cópias fotográficas e agendas do Rijksmuseum, a passagem obrigatória pela lojinha tenta a mão dos mais suscetíveis a levar “só uma lembrancinha”.  Ao ter visitado o Museu do Apartheid recentemente na África do Sul, em um gift shop no Museu do Holocausto, e ao ler recentemente sobre o museu do Memorial de 11/09 em Nova Iorque, me pergunto: há lembranças que realmente queremos guardar? Qual o limite do lucro em cima de tragédias?

No recém-aberto Museu do 11/09, milhares de camisetas, blusas, mouse pads, camisetas, bonés, broches e capas de celular são vendidas para recordar o dia fatídico. Não é para menos que a venda dos uniformes de policial, corações feitos com parte dos prédios, cães de salvamento de pelúcia, entre outras recordações de gosto bastante duvidoso, gerou polêmica:

 

O NY Post fala sobre o ultraje para as famílias nesse texto“Para mim, é a coisa mais insensível e rude ter uma empresa lucrando no lugar onde meu filho morreu”– Diane Horning, mãe de uma das vítimas. O Washington Post fez também uma crítica contra a comercialização crassa em cima do museu, mas comenta que, se a demanda é alta, deve passar pela “aprovação” da maioria das pessoas.

Já a CNN também foi meter o bedelho, com uma entrevista com familiares, que, em opinião unânime, comentam que ganhar dinheiro em cima de algo tão recente, no mesmo local, é similar a abrir uma lojinha em um cemitério. Os repórteres do canal acreditam que está tudo bem, afinal, “o Museu do Holocausto também um gift shop“. Na mesma entrevista, o responsável pelo comércio no museu comenta com aquela arrogância típica: “Estamos nos Estados Unidos da América, se você não gosta do que estamos vendendo, apenas não compre”.

É a máxima expressão do capitalismo: se há alguém que compra, por que pensar em quem se ofende? Aproveitamos então para sugerir items com mais significado: que tal um boneco do Osama Bin Laden enforcado? Um jogo de tabuleiro de caça ao terrorista? Ou um aviãozinho que parte em dois? Certamente as crianças aprenderiam muito remontando pequenos esqueletos, não? Não gostou? Apenas não compre.

Se o 11 de setembro nos deveria lembrar de algo, é como o radicalismo e a falta de consideração pela opinião do outro pode ser catastrófica. E se essa era uma das missões do museu, começaram bem errado. Perderam, aí, uma excelente chance para abrir espaço e oficinas que incentivem o diálogo, entendimento de culturas, e a prática de empatia – aí sim, talvez, a lembrança e a memória teria real significado.

 

Todas as fotos: Museu do Memorial 11/09

Quem escreveu

Vanessa Mathias

Data

11 de September, 2016

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Vanessa Mathias

Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.

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