Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
The Bollands é uma banda neozelandesa de folk rock que está lançando em primeira mão o clipe da música “Bad Nights” aqui pelo CoP. Eles investiram numa carreira itinerante e optaram por não ter uma cidade base. Vêm trocando de país com frequência e já moraram bastante tempo em Hong Kong, Inglaterra, em países asiáticos, e agora voltaram para passar o ano tocando na Nova Zelândia. Enquanto explico porque esse vídeo é tão legal, eu recomendo dar um play e ir curtindo enquanto lê.
Esse clipe foi filmado pelo casal Leo Longo e Diana Boccara. Eles largaram tudo e se lançaram em uma viagem ao redor do mundo em 30 de março de 2015 e ainda estão na estrada. Mas eles não estão viajando simplesmente. Em cada lugar onde pisam, eles encontram bandas locais e gravam um vídeo de uma música com cada uma delas, publicando um clipe novo por semana no Youtube, sempre às segundas. É o projeto Around The World In 80 Music Videos. Para saber a história desse projeto, eu recomendo a entrevista que a nossa super colaboradora Gaía fez com eles. Mas um ano depois do começo dessa jornada, nós fomos conversar para saber mais sobre como funciona montar um projeto desses, como fazer para não perder o pique na estrada, e quais as lições que eles vão levar para a vida.
Todo mundo quer ser um desses nômades digitais, que são pessoas que estão mais interessadas na viagem, ou seja, eu trabalho de onde eu quiser, para o meu trabalho não importa o local onde estou, então vou aproveitar e fazer isso no mundo inteiro. Vocês, não. O projeto de vocês está atrelado à viagem, mas a viagem na verdade faz parte da produção do trabalho. Como funciona essa dinâmica de trabalhar viajando? Ou pode ser viajar trabalhando, não tem uma definição, as duas coisas acontecem ao mesmo tempo.
É engraçado, porque quando a gente começou a fazer o projeto, as pessoas vinham para a gente e falavam assim: “Ah, agora vocês estão nessa onda aí dos nômades digitais.” Eu falo: “Putz, na verdade não, porque minha vida inteira trabalhando como diretor, sempre foi alguma coisa deste tipo.” Eu trabalhei eu acho que uns 12 anos como diretor em várias emissoras, e na TV Cultura eu dirigi um programa que não me fazia parar em São Paulo, então a coisa de viajar trabalhando, ou trabalhar viajando é uma coisa que já faz tanto parte do meu lifestyle. Ss pessoas falavam: “Ah, então você está nessa coisa de poder viajar e usufruir da viagem, inventar um trabalho que possa sustentar esse sonho de ficar viajando. Não foi exatamente assim, obviamente uma coisa ajuda a outra, mas uma estrutura desta de viagem eu nunca tive na vida. No dia 30.03, a gente completa 12 meses na estrada, fazendo um projeto totalmente diferente do que eu já fiz. Quando a gente pensou no projeto, obviamente nasceu de uma carência pós-férias…
Aquela famosa depressão pós-férias.
Exatamente. Logo depois da Diana e eu termos feito um trabalho também super intenso, eu no History Channel e na Endemol e a Diana na Mix para o Discovery, a gente estava cansado demais e resolveu fazer essa road trip saindo de Nashville, descendo até New Orleans. Era uma viagem para pegar o carro e ver coisas diferentes, conhecer os Estados Unidos, o sul dos Estados Unidos que é muito especial para a música. Então a gente volta para o Brasil e tem essa carência. E a gente fala assim: “cara, como é bom viajar”, viajar no sentido de conhecer pessoas, de estabelecer trocas culturais, sabe? Não de viajar no sentido – que é muito legal também – de conhecer lugares e fazer turismo, mas a gente falou assim: “Caramba, a gente podia tentar fazer um projeto de filmmaking, poder sair e ir atrás das pessoas e das bandas em outros lugares, fazer nossas trocas de experiências.
Mas para desenvolver um trabalho deste, vocês tiveram que fazer alguma preparação especial, tipo levar muita grana, deixar uma grana guardada, ou sei lá, montar um kit de equipamentos específico para trabalhar, correr atrás de visto de trabalho, burocracia, tem alguma coisa específica que vocês tiveram que desenvolver para simplesmente sair na estrada desse jeito?
Eu acho que primeiro de tudo o know-how que a gente tem com a produção audiovisual e com os projetos de viagens que a gente sempre fez, traz uma expertise importante para conseguir estruturar um projeto desse e fazê-lo ser viável. Isso ajudou muito. Mas tiveram outras coisas de preparação que a gente teve que fazer, para poder enfrentar tudo isso. Então, por exemplo, vender um projeto que vai durar um ano e meio e, por mais que este projeto banque só o custo de vida que é comer, dormir e se transportar, em um ano e meio é muito dinheiro! Então é um projeto muito caro, porque ele é de longo prazo, para sustentar duas pessoas.
Mas vocês venderam o projeto para as marcas antes de ir ou enquanto vocês estão já produzindo colocam à venda?
Primeiro, a gente teve que aprender como transformar isso em um projeto viável e entender como fazer dele um produto comercial. Até onde eu paro de sonhar e começo a fazer o meu projeto de artes, super bonito, super conceitual, super revolucionário? E como eu faço isso para vender? Contei com a ajuda de um amigo, super envolvido no mercado do marketing no Brasil. Ele ia lá em casa toda semana e dava uma aula para mim e para a Diana. Sentava do nosso lado, explicava como o projeto era estruturado, ajudando a construir este projeto. Quando a gente entendeu como fazer esse projeto ser comercialmente viável, era a hora de trabalhar para vender. Para conseguir vender um projeto, a gente tinha que ficar fora do nosso trabalho, porque a gente ficava sei lá, 12 ou 15 horas por dia nos nossos projetos de televisão, coisa que consome muito tempo, e a gente tinha que ficar sem fazer nada, só vendendo o projeto. Aí, eu tinha comprado um apartamento na planta, o apartamento ficou pronto e eu decidi não querer mais morar neste apartamento e acabei vendendo esse apartamento seis meses antes desta história nascer. Esse dinheiro sustentou os oito meses que a gente teve de preparação. Foram oito meses muito intensos. A gente chegou a contatar mais de 200 empresas. Mas aí chegou o fim do ano de 2014, depois desses sete meses trabalhando só nisso, a gente não tinha nenhum sim. E você sabe que, quando você fala tanto uma coisa, ela vira muito verdade dentro de você e você já não consegue mais abandoná-la, não por orgulho e teimosia, mas porque você acredita muito nela. E foi isso que aconteceu com a gente, no fim do ano de 2014, quando a gente estava querendo sair em março de 2015, há um ano, para começar o projeto, a gente não tinha dinheiro. E aí nas férias de fim de ano, quando a gente tomou o baque de trabalhar o ano inteiro e não conseguir ter um patrocinador, eu estava com o livro do Amyr Klink. Tem uma coisa dele que é um sonhador. Ele trabalha para conseguir viabilizar os sonhos dele, de uma maneira muito poética mesmo, mas super profissional. E tinha uma frase no livro cujo significado era mais ou menos isso: Se você tem coragem de botar a sua cara a tapa, você já tem tudo o que você precisa para conseguir realizar um projeto muito diferente do que você está acostumado a fazer. Então eu li aquilo, e reli, e reli, dividi com a Diana e a gente falou assim: “Meu, é isso, a gente tem coragem. Vamos embora?” Então este é o segundo grande aprendizado e preparação que a gente teve que fazer para conseguir realizar este projeto, se desapegar materialmente de um monte de coisas, se desapegar de uma conta de investimento que você tem e vem guardando dinheiro há anos para fazer alguma coisa na vida. E a gente decidiu fazer. E quando a gente decidiu fazer, apareceram três, quatro ou cinco marcas, tudo do nada assim, foi bizarro.
Parece um teste, se vocês acreditavam mesmo.
É, mas você sabe que eu acho que tem isso também do mercado, eu acho que de uma certa forma eles estavam fazendo teste mesmo, até por segurança, eu acho, que de uma certa forma, porque: “Pô, eu vou botar dinheiro nesses dois moleques loucos que vão viajar o mundo fazendo vídeo… É tudo projeto de longo prazo, caro, eles não têm as bandas confirmadas… Eu vou botar dinheiro nisso, eu vou perder dinheiro, eu não sei se vai dar certo. Eu não sei se eles vão fazer mesmo!”
Vocês não tinham nenhum material para mostrar também, vocês não tinham um piloto para falar “olha, vai ficar assim, é esse tipo de coisa”.
Não, é um projeto vivo, é um projeto que muda a cada semana, não tem um formato padrão, a não ser estrear toda segunda-feira. Mas só para explicar essa coisa do investimento, hoje o projeto está sendo 70% bancado por mim e pela Diana, e 30% a gente teve de patrocinadores e tudo mais.
Hoje tem muito essa cultura daquilo que falamos, do nômade digital, que é essa fantasia de poder largar tudo e viver a vida para conhecer o mundo, e isso é sempre visto de uma forma muito glamorosa, dando a impressão de que é tudo muito fácil. E agora começaram a aparecer os outros lados da moeda, teve gente postando sobre como é difícil você não ter uma casa. Você não tem família. No seu aniversário e no Natal, você está sozinho. Então, tem uma série de problemas que você tem que enfrentar, mas que ninguém fala, a gente só aquelas fotos lindas de Instagram, e todo mundo fica morrendo de inveja, achando que qualquer um pode fazer.
Não é, por isso que o mais difícil e principal da preparação é justamente o momento em que você fala assim: “eu preciso romper com um tipo de lifestyle e passar a viver outro completamente diferente, sem as mesmas coisas que lhe dão segurança no dia a dia: família, casa, dinheiro, roupa, objeto, coisas, memórias, lembranças, encontrar os amigos, ir ao cinema, ao teatro. Você não tem isso.
Quando eu faço viagens mais longas, depois de 20, 25 dias, eu já começo a ficar muito cansado, porque não tem dia livre. Você não tem aquele dia em que você não põe sapato e fica largado no sofá. Você está o dia inteiro com o pé na estrada, não para nunca.
Não tem. De vez em quando, a gente pensa como seria bom acordar às 10 da manhã, não tirar a roupa que você dormiu, ir para a sala, ficar vendo televisão. Isso é uma coisa que a gente, infelizmente, às vezes quer e não tem.
E como é que vocês fazem para não surtar, porque 80 semanas nesta pauleira não é fácil.
Duas coisas ajudam a gente não surtar. Primeiro, o fato de sermos um casal, porque eu não estou com colega de trabalho e, no final do dia, querer ir para casa para curtir minha família. Minha família é a Diana, eu sou a família dela. E a segunda coisa é o fato de a gente ter uma rotina, apesar de ser mecânica no sentido de que toda semana tem de editar, gravar, pré-produzir alguma coisa. Ou de três em três semanas viajar, apesar de ser mais ou menos uma rotina assim meio fechada, mudar de ambiente toda semana é uma coisa que renova o astral. A gente tem o outro clima, tem outras pessoas, outra paisagem, a gente vai fazer compras em um supermercado novo para conhecer a cidade um pouco mais de um lado que a gente não conhecia ainda, conversar com bandas novas, ter novos roteiros para gravarmos… Então isto renova internamente, que eu acho que é esse o principal motivo da gente não dar um tiro na cabeça. Você gravou o clipe, depois da estreia, é virar a página mesmo. E aí só ficam as coisas boas daquele momento. A gente vai colecionando boas memórias.
Mas se você chega a um país que você não conhece, a língua diferente, a cultura diferente, você tem que se entender com a cidade. Como é o transporte, onde comer, descobrir locações para fazer os vídeos… E tudo muito rápido. Como é que vocês conseguem se aclimatar tão rápido para fazer as coisas andarem?
Na minha infância e adolescência, eu estudei em 9 escolas diferentes num período de 12 anos, morei em quatro cidades diferentes e, depois de me formar, trocava de trabalho a cada seis meses. Eu sempre fui muito acostumado. A Diana também morou um ano nos Estados Unidos, um ano no Brasil, depois de novo nos Estados Unidos, e também estudou em lugares diferentes. A personalidade de nós dois, coincidentemente, meio que está apta a essa questão de mudanças, você não sofre nessas questões de abandonar o lugar onde mora. E a outra coisa que ajuda muito é uma coisa que a gente não sabe muito como explicar o que é, não sabe se é virtude nossa, se é virtude do projeto ou do acaso, mas é uma sorte absurda encontrar e atrair pessoas que estão dispostas a ajudar a gente de um jeito, que a gente jamais imaginaria ser possível, ajuda voluntária mesmo. Então a gente chegou em Portugal, que era o primeiro país, e um amigo de um amigo conecta a gente até chegar a alguém. Lá tinha uma produtora de três moleques recém-formados querendo fazer todos os clipes conosco, ajudando em todos os sentidos. Isso, depois, vem acontecendo em quase todos os países. E tem as bandas que a gente escolhe, bandas que tratam a gente como amigos de longa data, convida para ficar em casa, convida para comer com a família, eles vão atrás de locação. Então a gente conta muito com isso.
Tem lugares em que esta cultura da colaboração já está mais arraigada, as pessoas já estão mais abertas a esse tipo de coisa. Tem lugares que são mais complicados, onde as pessoas tem tempo, mas o tempo é restrito, ou então às vezes ela precisa ter um retorno, porque, se não, ela não está interessada…
A gente começou no Brasil. Obviamente a gente tem muitos amigos e tal, acaba sendo mais fácil. Quando a gente foi para Brasília, a gente gravou dois clipes lá, com o Móveis Coloniais e com Scalene. Eu morei um ano em Brasília trabalhando na TV Cultura e tinha uns amigos lá de televisão. E aí quando eu estava indo para lá, todos os meus amigos estavam ocupados, nenhum poderia fazer. Todos os meus amigos lá falaram assim: “Ah Leo, aqui em Brasília você não vai ter ajuda de ninguém, o mercado é muito, assim, me paga e eu faço. As pessoas não vão emprestar câmera, mas elas vão cobrar, eles não vão emprestar luz, ninguém vai passar um dia com você lá”. Bom, as coisas acontecem quando a gente tem muita sorte mesmo, porque em Brasília uma produtora falou: “pega o que vocês quiserem”. Eu nem conhecia essa produtora, teve diretor de fotografia que foi na gravação do Móveis, teve o outro diretor de fotografia que emprestou equipamento sub-aquático para a gente gravar o clipe do Scalene.
A gente acabou de passar por Los Angeles, que é a meca cinema no planeta, onde as pessoas só trabalham por dinheiro, e trabalham de um jeito super profissional, mas a gente teve pessoas ajudando de maneira incrível e ainda super dispostas. Então, apesar de ter muita parte do mundo que ainda não entende muito bem essa coisa da colaboratividade, eu acho que quando a gente chega com a nossa abordagem e mostra o nosso canal, tudo o que a gente fez, fala que está indo para este país só para fazer um clipe com eles, ou com mais uma ou duas bandas, e de graça, sem cobrar e sem dinheiro nenhum envolvido, mesmo nos lugares mais complicados, a gente tem tido sorte e encontra gente que topa participar do projeto.
E como é que funciona essas relações com as bandas, como é que vocês chegam a elas, como elas chegam a vocês? Vocês conhecem as bandas antes, ou não conhecem? Como é o processo criativo dos clipes? Vocês já pegaram alguma banda cuja música vocês achavam terrível, por exemplo?
A pesquisa de banda é feita por mim. A gente vai para o México mês que vem, então com dois meses de antecedência eu começo a fazer a pesquisa da cena local, de rock basicamente, ou bandas influenciadas pelo rock. Têm algumas variações: folk, punk rock, mas basicamente é desse universo do rock, porque a gente achou que era importante ter um estilo que norteia a curadoria das bandas no projeto inteiro. Sabe aquela coisa de top 50 dos melhores álbuns do México de 2015? Aí eu pego de 2015, de 2014, 2013, 2012, pego dos últimos três ou quatro anos, ouço todas essas bandas, os últimos trabalhos deles e avalio se eu gosto. Daí, primeiro eu me debruço nessa história, quais bandas ativas, bandas que tem algo, que estão sendo faladas na mídia, que estão produzindo os materiais, eu não vou descobrir banda nova que ninguém conhece, eu descubro bandas que já são conhecidas pelo seu trabalho nos seus países. Segundo, a gente não vai gravar com música que a gente não gosta, então a gente escolhe banda de que gostamos do trabalho. Terceira coisa: a gente sempre gosta de convidar banda ativa na web, que poste foto no Instagram, que fale com o público no Facebook, que poste clipe com alguma frequência, mesmo sem orçamento, mas que produza conteúdos, que converse com o público. Porque o nosso projeto, para ser bem-sucedido, para chegar mais longe, depende basicamente das bandas. E aí, o último critério para escolher uma banda não é nosso, é deles. Então, depois de tudo isso que a gente faz, a decisão de uma banda estar no projeto ou não é única e exclusivamente dela.
No total quantos países fazem parte do projeto?
No total, 22 e a gente já fez 17.
E o processo criativo dos vídeos?
Nossa! É legal, mas é cansativo, às vezes. Não é fácil ter ideia toda semana. Você sabe que a gente, no fim do ano passado, acabando metade do projeto, lá em Seul, parou para avaliar tudo que foi feito. E acabamos pensando se estávamos fazendo os clipes legais. E concluímos que não dá para fazer tudo clipe legal, não dá! É impossível, em dois, tendo que ter uma ideia de um clipe toda semana e ainda fazer todo o resto. Quanto tempo efetivamente sobra para você criar uma ideia? No banho, almoçando, assistindo televisão, o tempo livre conta muito, e, quando o tempo livre não é suficiente, aí tem que sentar mesmo na frente do computador e falar assim: “OK, hora de ter ideia!” Descobrimos que não dá para ter uma ideia foda sempre e estipulamos tentar a cada três ideias, ter uma incrível. E a gente não se cobra muito. Então se você olhar no nosso canal, sei lá, em 12 vídeos deste ano, a gente tem dois ou três que realmente são muito diferentes dos outros.
As bandas têm algum envolvimento neste processo?
A banda é envolvida integralmente em 100% de todas as coisas que a gente faz. Eles escolhem a música que acham que seria ideal para ser o próximo clipe, porque a gente faz o clipe oficial, a banda nunca mais vai fazer um clipe daquela música. A gente sempre perde alguns inputs dela ou a história daquela música, como foi criada etc. A gente ouve a música também tem a nossa percepção sem considerar nada do que eles falaram. Então sempre tem duas ideias no mínimo, para cada música. A gente manda essas idéias para os caras e, a partir daí, é um grande brainstorm. Essas ideias podem cair, a banda pode chegar e falar assim: “Dá para juntar com uma outra ideia que eu já tive há um tempo atrás, dá para fazer isso, o que vocês acham?” Então é uma ideia super colaborativa, é um processo muito aberto. E isso desde o início.
Vocês já passaram algum perrengue? Teve algum lugar que não der certo, alguma relação com uma banda que não rolou, algum lugar que o vídeo, na hora de fazer a edição, não chegou ao que vocês queriam? Teve alguma coisa que foi um grande aprendizado por estar muito errado?
Teve. Teve um vídeo que a gente não fez e tinha tudo para acontecer para fazer. Foi uma experiência de que a gente tirou um grande aprendizado. Foi na Rússia. A gente convidou uma banda para participar e estava tudo certo. Chegou lá, encontrou com essa banda, e teve uma ideia muito legal de um plano sequência de um casal patinando no gelo. A música era linda, mas poxa, a gente teve uma ideia difícil de fazer. Precisava de um rinque de patinação! A gente apresentou essa ideia para a banda e a banda adorou. A gente teve na Rússia um casal de produtores que também pegou a gente no colo e fez tudo. E esses caras conseguiram um rinque de patinação, lindo, lindo, com luz e tudo, e conseguiram um casal de atletas olímpicos russos, lindos também, e perfeitos em termos de dramaticidade, enfim… Aí, um dia antes da gravação, foi uma coisa muito de percepção da Diana e minha de ver que tinha alguma coisa na resposta, no feedback da banda que a gente estranhou. E aí a Diana mandou um e-mail, mas neste tom: “Guys, vocês estão dentro mesmo assim, porque às vezes a gente sente que vocês respondem de um jeito meio estranho…”, na lata. A resposta: “Ah, sinto muito, a gente não vai poder gravar amanhã porque o vocalista está gripado.” Oi? E aí a gente cancelou a gravação, depois de conseguir tudo isso.
Vocês estão completando um ano. Eu sei que depois vocês querem fazer um documentário, escrever um livro… Mas e depois? Qual é a ideia? Vocês querem continuar viajando, vocês querem agora montar casinha e plantar horta no jardim?
Olha, a gente chegou e gastou e fez um investimento de toda a grana que a gente tinha guardado, vendeu todos os móveis da casa que tinha acabado de montar… Obviamente você não faz jogando dinheiro fora, você está investindo em uma coisa que no futuro pode trazer muitas outras coisas, se trabalhar direito. É um investimento! Então, o livro é um produto comercial, o documentário é um produto comercial, a gente quer dar palestras ligadas a este projeto em universidades e tudo mais. Então este projeto acaba depois de um ano e meio, mas continua no mínimo por mais um ano. Mas depois disso, eu acho que a nossa cabeça tem mudado neste um ano, e vai continuar mudando neste mais meio ano. A gente está pensando muito em continuar criando projetos com base na questão da colaboratividade. Pensar em formatos diferentes. A gente quer muito tentar dedicar o nosso trabalho para criar projetos parecidos com esse, seja em uma cidade só, seja viajar no Brasil, seja viajar no mundo, tanto faz. É mais pelo trabalho e pela função social, bandeira que a gente carrega. Isso é um sonho mesmo, é um pouco difícil de realizar, mas a gente acha que ele pode ser um sonho prioritário, um espaço colaborativo de produção audiovisual, o estúdio, pessoas que possam utilizar o espaço, pessoas do mundo e bandas do planeta inteiro, que estão indo para o Brasil e precisem de lugar para ficar. A gente tem pensado muito nessas questões; menos em acumular e mais em dividir. Então é isso que a gente está prevendo para o futuro. Resumindo em uma frase: criar uma relação profissional com o planeta, acumular menos coisas e ter mais coisas para compartilhar, além de dividir experiências.
Foto destaque: Star Li
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.