Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Detroit fica na divisa dos Estados Unidos com o Canadá e tem em sua história a falência nos anos 90, quando todas as montadoras de carro saíram da cidade, deixando grandes fábricas abandonadas e um clima de ghost town. Nos últimos 10 anos, diversas mudanças foram realizadas, inclusive nos locais abandonados, e hoje a cidade respira o ar da economia criativa e da liberdade de expressão, seja pela música ou pelo empreendedorismo.
Em Maio, tive o prazer de ficar uma semana nessa cidade, que sempre me intrigou pela sua história e, principalmente, por ser a meca do Techno, um dos gêneros musicais que mais me identifico. Uma sugestão? Que tal ler esse texto ao som de Good Life, do Inner city ou Strings of life do Derrick May.
Não se espante por ser só uma casa numa grande avenida, é assim que o Submerge quer ser: escondido e só descoberto pelas pessoas que conhecem a sua importância. Também conhecido como o Underground Resistance, gravadora fundada em 1992 por Jeff Mills e Carl Craig, dois grandes nomes do Techno. A dupla tinha como objetivos fomentar o crescimento do gênero pela cidade e também criar um local para novos DJs e produtores musicais. No prédio, você encontrará um acervo histórico de vinil (alguns estão à venda na loja que fica no subsolo), além da Exibition 3000, que conta a história do Techno desde do Kraftwerk. (Submerg – 3000 East Grand Blvd).
Depois de trocar uma idéia com a galera do Submerge, pegue um Uber e vá conhecer os prédios abandonados onde diversos produtores começaram a fazer festas ilegais, invadindo e criando um lugar de expressão para gays e negros. Não deixe de ir na St Agnes School, uma escola cristã abandonada que tem ao lado da igreja St Agnes, a mais antiga da cidade. Depois vá para a Packard Plant, uma estrutura abandonada desde 1958. Nesse prédio eram fabricados os Ford T, os primeiros carros pretos da montadora.
Deu fome? Que tal comer ao ar livre? Compre umas comidinhas e leve ao Roosevelt Park, e fique na frente do incrível monumento Michigan Central Station (acima). Há rumores de que dá que para invadir, mas a multa é de 125 dólares. Se você não tem intenção de se encrencar com a lei americana, recomendo ficar no parque admirando essa estrutura que foi construída em 1913 e está intacta.
Já aproveite que você está perto do centro da cidade, e vá caminhar pelos arredores. Não deixe de tirar foto em três dos maiores símbolos da cidade: a Hart Plaza, onde ocorre o Movement Festival, responsável por movimentar Detroit e levar pessoas do mundo inteiro para 3 dias de techno; o monumento de Joe Luis, feito por Robert Graham, que mostra a resiliência dos cidadãos de Detroit; e ao lado dele tem o “Spirit of Detroit”, que tem a simbologia dos campeões e dos grandes jogos.
Pegue um Uber do centro mesmo, e vá a MotownRecords, gravadora fundada nos anos 60 que foi responsável por artistas como Jackson Five, The Supremes, Marvin Gaye, Stevie Wonder e The Four Tops. O fundador Berry Gordy Jr sempre dizia : “se você tiver um dólar, o que você prefere comprar, meus discos ou um sanduíche?”. Essa casa, que se tornou uma das maiores gravadoras do EUA, deu um ar de esperança e colocou a cidade de Detroit como o maior local de lançamentos de Soul, Funk e Jazz da época.
Para finalizar, você pode ir tomar um drink e comer em um dos vários pubs que existem na cidade, como o Roast ou Grand Truk Pub. Peça uma cerveja local. Lá tem diversas opções de cervejas artesanais (Art Brewing), além de um Detroit Way Burger. Outra opção é uma espumante com ostras, em todo lugar eles tem no cardápio.
Não se assuste se as pessoas estiverem dançando perto das mesas ou mesmo se alguém vier falar com você somente por falar. Os Detroiters são conhecidos como as pessoas mais interessantes dos EUA e de fato eles querem que você tenha a melhor experiência na cidade.
Se você estiver no clima menos pub e mais drinks, vá para o MOCAD– Museu de Arte Contemporânea de Detroit. Lá você encontra, além de boa música, um bar delicioso de drinks. O MOCAD foi criado por ninguém menos do que Kevin Saunderson, Derrick May e Juan Atkins, para ser um local de fomento de projetos ligados a música para crianças da comunidade. Descanse antes de ir para o hotel ou para emendar em um dos lugares legais que existem por lá.
Para finalizar suas 12 horas na cidade, uma baladinha vai bem. Mas lá tudo fecha cedo, então se você gosta de dançar, se prepare para sair de casa até 22h30, pois o dj principal entra à meia noite e os clubs fecham às 2 da manhã. Não deixe de conhecer o Old Miami, um gem na cidade. Na semana do Techno, quando o Movement acontece, todos os Djs vão para lá fazer pré (ou esquenta para os paulistas). Também perto do Centro existe o Motor City Wine, que durante a tarde serve BQB (churrasco americano) com um hamburguer maravilhoso, além da bela carta de vinhos, como o nome do local sugere. Observe os shows que tem no Masonic Temple, um templo maçom abandonado que virou casa de festas. A experiência lá é incrível, além da estrutura imponente. Veja também se está rolando algum show no Freedom Hill Amphitheatre. Sediado pela LiveNation, o local recebe shows como Nas, Sublime e diversos outros.
Uma cidade abandonada com alma jovem, não tem como não se apaixonar.
Texto da Fernanda Mello, colaboradora e leitora do Chicken or Pasta. Ela já fez de tudo um pouco, de mídias sociais a profissional do mergulho, até gerenciar uma empresa. Não para quieta um segundo. Desde que virou #festhunter, nunca soube desligar a paixão pelas pistas de dança
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.