Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Filmes bons e impactantes levam a gente a viagens mundo afora, através de narrativas e cenários. O cinema tem essa força de nos reposicionar geograficamente, ao mesmo tempo em que nos envolve com personagens, fábulas e turning points das mais diversas histórias.
Já parou para pensar que, não fossem a telona e a grande arte cinematográfica, não teríamos observado ou “visitado” diversos lugares do planeta? A lista abaixo celebra esse espírito forasteiro que os filmes proporcionam aos seus espectadores, destacando dez obras que são viagens extremas.
São filmes em que grandes tragédias, dramas, acontecimentos e reviravoltas acontecem em locações de fazer jus a qualquer guia de viagem ou programas de destinos insólitos.
Prepare a pipoca, e viaje com a gente!
A famosa história do naufrágio do maior navio de passageiros de sua época (1912) segue sendo atual e interessante. Um bilionário australiano inaugurará uma réplica fiel da embarcação a partir de 2018, o Titanic II. No que tange ao filme de 1997, prestes a completar 20 anos de sucesso, a protagonista Kate Winslet declarou esse ano que, no filme de James Cameron, havia SIM espaço para seu amado Jack (Leonardo DiCaprio) boiar junto na tábua onde ela ficou à deriva, no que poderia ter sido um final feliz para o casal.
Ao que parece, matar o mocinho do filme foi uma escolha para que o filme não ficasse tão adocicado, como se isso fosse possível. De todo modo, ainda vale um par de horas para rever a titânica (há!) feitura cinematográfica dessa célebre tragédia turística, com a impressionante cena do naufrágio e outras boas atuações e caracterizações.
São muitos os filmes lost at the sea e de embarcações e pessoas e perdidas. Mas nossa menção vai para esse dois filmes, pois Tom Hanks perdido numa ilha deserta e o menino indiano Pi vagando num oceano mágico e selvagem são os filmes de naufrágios mais famosos de nossa época recente.
Quem nunca se imaginou no lugar de Tom Hanks pensando como acenderia o fogo, pescaria o almoço ou se desesperaria na solidão de anos numa ilha tropical distante? Ou se imaginou como Helen Hunt no filme, a amada que após anos recebe o telefonema de que seu homem perdido no mar estava na verdade preso numa ilha?
Afora a cena do náufrago perdendo seu melhor amigo, a bola Wilson, que pode tanto cortar seu coração como atiçar o seu deboche.
Nas Aventuras de Pi, um filme tão famoso por seus efeitos computadorizados, quanto pela exacerbada emoção de um menino preso num bote com um tigre, o naufrágio é metáfora e fábula: a possibilidade de encontrar rincões mágicos e tenebrosos na Terra, além da dor e da miséria que é ter que abandonar onde se vive.
Vamos falar de Leonardo DiCaprio, pois é o ano dele. Em 2000 o diretor do filme cult inglês “Transpotting” Danny Boyle foi alçado ao panteão hollywoodiano, e filmou a história de um Leo DiCaprio mochileiro e aventureiro, um jovem impetuoso que passa uma temporada no famoso paraíso tropical tailandês das ilhas Phi Phi – que aliás, foram bem detonadas no horrível tsunami de 2004.
Leo faz amigos e parte em busca de uma tal praia mística, escondida, onde a maconha cresce naturalmente, os jovens vivem em comunhão e os plânctons são fluorescentes. Mas como o cinema complica as coisas, Leo e seus companheiros enfrentam traficantes armados, tubarões matadores, confusões e mortes entre os mochileiros enfeitiçados pela mística do local… Tudo numa pegada psicodélica, de histeria narcótica, bem ao estilo de Transpotting.
É um clássico filme de aventura em países “exóticos”, de turistas perdidos na selvageria e um bom thriller pop, com trilha sonora bem descolada. Quem viveu o que Léo viveu nesse filme, nunca mais será o mesmo, e viagens extremas tratam disso, tanto em filme quanto na vida real.
Um casal não anda muito feliz junto e, para tentar dar uma renovada, vai fazer uma viagem para mergulhar em alto mar. Baseado num fato real, os amantes protagonistas desse filme de terror psicológico de 2003 se desviam da equipe de mergulho e, por azar, ficam perdidos, à deriva em alto mar, entre águas-vivas e tubarões que, pouco a pouco, vão os mordendo, sem que eles percebam.
É um filme pesado, aterrorizante na ilustração de um terror tão extremo que é ficar boiando para a morte junto da pessoa que você ama. Tem um quê de tensão do clássico “Tubarão”, de Steven Spielberg, e os acontecimentos finais são uma boa prova de como o cinema ilustra como ninguém a resignação humana frente à fatalidade da vida. Só não precisava da piadinha com os pescadores no final, que é um pouco besta.
BÔNUS: “Mar Adentro” está nessa lista da PopMatters com os melhores filmes de tubarão já feitos (em inglês).
Temática manjada do terror cinematográfico: turistas e aventureiros desbravam destinos longínquos e se ferram imensamente. A trilogia “Hostel” foi bancada por Quentin Tarantino como produtor e conta os pesadelos e torturas de dois amigos que passeavam pela Eslováquia.
O plot é previsível: os moços fazem amigos, acabam no país do leste europeu na expectativa de lindas gatas e, depois de uma noitada, um malvado joga tranquilizante em suas bebidas, e eles acordam num porão de maníacos. Mutilações, incinerações, marteladas, berros desesperados e outros terrores assassínios seguem no menu, junto dos protestos do governo eslovaco por Hollywood retratar o país como um canto sujo e mal desenvolvido da Europa.
Se você não quer encheção de saco da família quando for fazer mochilão, favor não assistir esse filme com seus pais. As duas continuações seguem o mesmo espírito gore de apavorar a vida de turistas, com a diferença de que, no terceiro filme, a ação muda da Eslováquia para Las Vegas.
O bonitão Josh Duhamel e Olivia Wilde protagonizaram esse filme bem adolê em 2006, na mesma pegada de “Hostel”, mais suspense do que terror gore. O filme foi gravado nas lindas e idílicas cachoeiras e praias de Ubatuba, como Almada e Prumirim, além de outros cenários na Chapada Diamantina, Bahia.
Controverso pelos mesmos motivos da trilogia do hostel eslovaco macabro, “Turistas” atiçou preconceitos e reclamações do público e entidades brasileiras por retratar nosso país como um lar de drogados e ladrões de órgãos de turistas! É a manjada mistificação selvagem dos trópicos, que atrai viajantes e gente sedenta por situações extremas. No caso, os belos cenários praianos do litoral norte paulistano, e o medo frequente da violência urbana que existe em nosso país. Como é que não ia dar em filme???
A história real de um jovem deslocado da vida urbana ocidental, em uma narrativa extrema do niilismo perante o mundo que nos é imposto. Esse filme dirigido por Sean Penn, com atuação brilhante de Emile Hirsch, mexe com os instintos mais profundos de deslocamento e fuga – a escapada do mundo através do mundo.
Mais um ermitão do que propriamente um turista ou mochileiro, o protagonista larga família, amigos, universidade, seu carro e queima dinheiro para trás, buscando a estrada como único habitat possível. Cruza distantes regiões dos Estados Unidos e México, e sobe a América do Norte acima até o Alasca, terra fria e selvagem que adota como refúgio. Mas na natureza selvagem a vida é dura e o final é tão trágico quanto exasperador, numa história acompanhada de muitas lágrimas e da reflexiva voz de Eddie Vedder, do Pearl Jam.
O ponto onde o protagonista viveu seu refúgio final na região de um parque nacional do Alasca é motivo hoje de peregrinação turístico-espiritual.
Essa simpática adaptação de um romance policial de Agatha Christie é uma exuberante viagem através do Rio Nilo, o maior da África, e das lindas paisagens do Egito. Acompanham a travessia pelo rio as tramoias, assassinatos e mistérios que envolvem os passageiros do barco, composto de abastados ladies and gentlemen da alta sociedade britânica.
As investigações ficam a cargo do famoso detetive belga Hercule Poirot, personagem pitoresco e recorrente dos best-sellers de Agatha Christie. Na trama, todos são suspeitos, como as madames interpretadas por Mia Farrow, Jane Birkin, Bette Davis e Maggie Smith, e também o galã, a escritora bêbada, o comunista ressentido, os serviçais…
As filmagens retratam cenários egípcios deslumbrantes e ensolarados como o Cairo, a cidade histórica de Luxor e as dunas em Aswan. Contam os registros que as cenas eram filmadas sob um calor de quase 50 graus, um martírio para os atores que vestiam as pesadas e luxuriantes roupas de uma alta classe britânica emplumada (o filme ganhou o Oscar de melhor figurino).
Um dos grandes clássicos de Werner Herzog, expoente diretor alemão, “Fitzcarraldo” conta a saga de um excêntrico barão irlandês que vive na Amazônia peruana no fim do século 19. Seu sonho? Construir uma ópera na cidade florestal de Iquitos para trazer seus cantores líricos prediletos em plena mata equatorial.
Para financiar seu projeto, ele precisa recolher as rentáveis seringueiras às margens da bacia hidrográfica amazônica, e o filme é centrado na jornada do barão Fitzcarraldo rio acima em um barco a vapor, junto de indígenas hostis e desconfiados, que acham a epopeia do irlandês uma afronta aos deuses.
*Fitzcarraldo foi lançado em Blu-Ray em 2015!
O filme é controverso. Diz-se que o diretor Herzog era tão explorador do trabalho indígena no set quanto o próprio Fitzcarraldo buscando construir sua ópera. A ambição do homem branco em espalhar sua alta cultura em contraste com a natureza dos indígenas costuram uma complexa trama antropológica em torno do filme e de suas paisagens úmidas.
Outra obra a problematizar a relação e os choques entre diferentes culturas é essa célebre comédia, marco do cinema sul-africano. Filmado no deserto de Kalahari e protagonizado por Nǃxau ǂToma, um fazendeiro do povo Saan, o filme conta a história de uma tribo que tem sua paz perturbada por uma garrafa de Coca-Cola despejada de um avião.
O objeto é motivo de rixa entre os locais. Eles pensam que a garrafa é um presente dos deuses, ou ferramenta ou até mesmo um instrumento musical. É decidido que o protagonista tem que levar o perigoso objeto até “o outro lado do mundo” (a terra do homem branco), e o herói viaja por enrascadas e tipos de vida e habitações que nunca havia conhecido.
Com seu humor pastelão, contemporâneo aqui do Brasil da graça abobalhada dos Trapalhões, o filme foi um sucesso global, rendendo US$ 100 milhões de dólares, para uma produção feita com custos locais e teve duas continuações, ajudando o mundo a ter uma visão de um destino tão inóspito quanto bonito da África.
*Capa: ilustração de Titanic por Everett Historical / Shutterstock.com
Jornalista, pesquisador musical, notívago e apaixonado por viagens, rotas, jornadas e pela complexa geografia do nosso pequeno grande mundo. Tanto em texto quanto nas experiências de vida, interessado na interação entre culturas, espaços, histórias e "fait divers". Siga em facebook.com/jadegola e twitter.com/jadegola.
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