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O Uruguai é um destino pouco visitado pelo brasileiros, apesar de ficar a poucas horas de voo daqui, de ter uma boa infraestrutura hoteleira e turística, um bom aeroporto e um câmbio estável há anos. Ainda assim continuamos ignorando o Uruguai e indo apenas para Buenos Aires, Mendonça e Bariloche. A única localidade no Uruguai que ferve de brasileiro é Punta Del Este no final do ano, no carnaval, que está sempre lotada de brasileiro atrás das praias e do cassino. E seguimos desconhecendo quase todo o resto.
Mas vamos ao que interessa: vinho, vinícolas e descobrir o que tem por lá. O Uruguai basicamente se divide em quatro locais de produção de vinhos: Montevidéu, Canelones, San José e Colonia del Sacramento. Nessas localidades se produz a maior parte dos vinhos uruguaios, sendo as duas primeiras próximas da capital e o outras duas bem ao sul do país. Eu adicionaria um improvável local de produção de vinhos Punta del Este. Sim! Esse mesmo! Por incrível que pareça, esse local foi onde encontrei a vinícola que mais me impressionou.
A maior parte das uvas plantadas e dos vinhos produzidos por lá são de uvas tannat. Uma uva forte, tinta, com muito taninos, que produz vinhos potentes, tanto na boca quanto no nariz, que se adaptou muito bem ao Uruguai. É usada tanto nos muitos varietais como nos muitos cortes que eles produzem por lá. Normalmente precisa de um tempo maior de barril e de guarda na garrafa para poderem ser agradáveis ao paladar. Por mais incrível que pareça é possível encontrar tannat até em vinhos rose! Nada parecido com o rose argentino, que possui aromas de flores, morangos, frutas vermelhas; ou rose franceses, com aromas de frutas vermelhas, flores, damascos, laranjas, e compotas, mas um frutado de frutas vermelhas maduras e alta acidez. Hoje em dia também são plantadas uma variedade de uvas franceses, italianas e americanas. Mas vamos às vinícolas.
Alto de la Ballena
A improvável vinícola Alto de La Ballena fica no distrito de Maldonado, bem próxima à Punta del Este, perto de Punta Ballena, no lado oposto à Casa Puebla, apenas alguns quilômetros para o interior. Possui vinhedos de Merlot, Cabernet Franc, Syrah, Viognier e Tannat. São vinhedos de alta densidade e de pequena produção por planta, aproximadamente 2kgs por parreira. Quando estive por lá há alguns anos atrás, eles já utilizavam um software para acompanhar a produção por parreira e realizavam poda para não deixar a videira ter uma grande produtividade.
Vou destacar 3 vinhos deles: o Rose 2010, que é um corte de tannat e cabernet franc de um vermelho intenso; o improvável tannat viognier 2008, que é um corte de 90% tannat (uma uva tinta) com 10% de viognier (uma uva branca), que passa 9 meses por barricas de carvalho americano e o Cetus Syrah 2010 do minúsculo vinhedo de Syrah da vinícola de onde saem apenas 1800 garrafas por ano.
AAlto de La Ballena é atualmente para mim a melhor vinícola uruguaia não só por ter bons vinhos, mas por não ter nenhum produto mediano!
Bodegas Carrau
A vinícola Bodegas Carrau fica localizada no distrito de Canelones e hoje também tem vinhedos em Montevidéo, Riveira e Santana do Livramento. Apesar da tradição da família de aproximadamente 260 anos em vinificação, ela foi fundada em 1976. Eles possuem vinhedos de Cabernet Franc, Tannat, Chardonnay, Nebbiolo, Marzemino, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir. Parte desses vinhedos estão no Brasil, mas os vinhos até onde eu saiba ainda não estão no mercado. A família também mantém hoje interesse em uma vinícola brasileira, que é dirigida por um de seus familiares (a Velho do Museu, que no Brasil tem produzido vinhos orgânicos e biodinâmicos). A variedade de vinhos é muito grande e fazem desde grandes vinhos de guarda à vinhos do dia a dia.
Para falar de todos os vinhos, das muitas experiências, dos espumantes, brancos, tintos, vinhos de guarda, vinhos fortificados precisaríamos de um post só sobre eles. Mas vou também me ater à três vinhos, dois que tenho por hábito abrir no dia a dia e outro que só frequenta minha mesa de espaço, mas me deixa muito boas lembranças.
O Ysern Sauvignon Blanc-Sauvignon Blanc um vinho de uma única uva sem ser varietal, pois 50% das uvas vêm do Vinhedo de Cerro Chapéu e outros 50% das uvas vêm do vinhedo de Las Violetas. Um vinho com bastante acidez que não passa por barrica, é fresco, jovem e que deve ser bebido assim. O irmão dele o Ysern Tannat-Tannat, outro vinho de uma única uva, não é um varietal. É um vinho de 25% de Tannat de Cerro Chapéu (um vinhedo com solo argiloso e clima continental) e 75% de Tannat de Las Violetas (de solo argiloso e clima marítimo). Muitos se perguntam porque eles fazem dessa maneira. Basicamente estão unindo propriedades aromáticas e gustativas dos vários vinhedos para maximizar o potencial de seus vinhos.
E por fim, o Vilasar Nebbiolo, um dos vinhos mais emblemáticos da vinícola. Eles tem vários grandes vinhos como AMAT, 1752, YSERN Gran Reserva, Arungua, mas o Nebbiolo me chama muito a atenção. Uma uva italiana originária do Piemonto, espinha dorsal dos barbarescos e dos barolos, e é assim bem cuidada produzindo um vinho de alta qualidade. São vinificadas 2100 garrafas aproximadamente a cada safra. Esse vinho não é produzido todos os anos, passa 24 meses em barris de carvalho francês novo antes de ser engarrafado e passa mais uma temporada nas garrafas na vinícola antes de ser oferecido ao mercado. É um corte de 90% de Nebbiolo e 10% Marzemino.
Bodegas Bouza
A Bodegas Bouza fica muito próximo à Montevidéu, no Camino de la Redencion. Dá para ir de táxi, de ônibus e até de bicicleta se você tem histamina para isso, pois apenas 25 km separam a vinícola da cidade. Apesar de ser uma vinícola bem nova (nasceu em 2003, mesmo ano de sua primeira safra de vinhos) começou como uma vinícola butique e tem alguns vinhos bem emblemáticos e muito bem cuidados.
Os vinhedos são distribuídos a partir de Mellila, onde fica a Bodega, a Cave e o restaurante, e em Las violetas. Produzem uvas Tannat, Merlot, Chardonnay, Tempranillo e Alvarinho. Fazem um tratamento curioso dos vinhedos dividindo-os em blocos e nomeando seus vinhos de acordo com esses blocos. Então os vinhedos A são os vinhedos de Mellila e os vinhedos B ficam em Las violetas. Com isso você pode provar vinhos como o Tannat A6 e o Tannat A7. Eles produzem hoje perto de 100.000 garrafas ano. Eles tem por hábito podar as parreiras de forma a reduzir o número de cachos para concentrar aromas e sabores nos cachos que restaram, deixando as uvas descartadas no solo para alimentar o próprio vinhedo.
O vinho Monte Vide Eu é um corte de 50% tannat, 30% merlot e 20% tempranillo. Com uvas selecionadas bago a bago (ou seja, se o bago se rompeu na colheita não vai ser usado na produção do vinho), elas são então fermentadas de forma isolada e depois de fermentadas e vinificadas são misturadas no corte. Armazenadas em barris de carvalho francês novo com tostagem média por 10 a 16 meses. O vinho é simplesmente fantástico.
E depois o Alvarinho, um vinho que consegue unir duas características que eu gosto em um vinho branco, ser frutado e mineral ao mesmo tempo, com uma boa acidez. Usa-se uvas de ambos os vinhedos da vinícola e como todo vinho branco fresco e jovem, não passa nem perto dos barris de carvalho ficando apenas 5 meses em tonéis de alumínio.
Los Ceros de San Juan
A vinícola Los Ceros de San Juan fica próxima de uma das cidades mais charmosas do Uruguay, Colonia del Sacramento. É uma vinícola bem antiga com uma cave de enlouquecer qualquer um. Os fundadores alemães construíram uma cave de pedra que por si só já é linda! Eles acharam a temperatura quente demais, então resolveram abrir um poço profundo que se enche com água da chuva permitindo reduzir a temperatura em alguns graus. E pensar que fizeram tudo isso há mais de um século.
Eles possuem um grande gama de uvas brancas e tintas: Riesling, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Gewürztraminer; Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Tempranillo, Pinot Noir, espalhadas em 6o hectares de vinhedos bem próximos ao Rio da Prata.
Infelizmente vou ter que começar falando de um vinho deles que soube não ser mais possível comprar, o Celebration 150. Um corte de Tannat e Cabernet Sauvignon vinificado em 1997, que começou a ser vendido em 2004 e resistiu até o ano passado para venda. É um vinho fantástico. Então se seu amigo tem, se você encontrar ou se você ganhar uma garrafa, tenha certeza que é uma joia rara. Eu provei há uns 4 anos e poucas vezes na vida provei um vinho tão bem feito.
Mas vamos falar do que é possível beber: o Cuna de Piedra Tannat, um vinho com cara de vinho uruguaio, 100% tannat vindo de uvas de vinhedos entre 50 e 100 anos que dependendo da safra fica entre 6 e 12 meses em barris e carvalho e depois mais 24 meses na cave envelhecendo e se preparando para o consumo.
Já o Pinot Noir Viejo 2002, vinho que ficou 10 anos em barricas de carvalho francesa e, depois de engarrafado, ainda mais 24 meses descansando na adega. Foram apenas 3.600 garrafas produzidas desse vinho.
Na vinícola existem muitos outros tesouros a serem descobertos e depois disso você pode flanar por Colonia del Sacramento, ver a vida passar, beber um vinho, provar da culinária local, ficar em uma das pousadas da cidade histórica ou apenas aproveitar o tempo por lá.
Existem muitas outras vinícolas, outras cidades, outras regiões que valem a pena serem visitadas. Ando precisando voltar, para rever os amigos, para relembrar os vinhos, para redescobrir os novos produtores, os novos vinhos e os novos sabores. Espero que em breve.
Paulo é carioca, está na turma dos "enta" e manda muito bem na fotografia a maioria inusitada. Funciona a toda velocidade, tem duas empresas, mulher, filho, amigos, mãe, pai, celerados e gente de todo tipo a sua volta o tempo todo, entre os quais divide a sua atenção do jeito que dá. Adora quadrinhos, mangás, livros, música alta e tudo mais que lhe prenda a atenção e ajude a compor seu universo imaginário. É chegado em moda, vinhos, culinária, cachaças, champagnes e filmes, filmes e mais filmes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.