Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Um Lobisomem americano em Londres não despertaria em mim nem metade da curiosidade que um Alfaiate californiano em Lisboa conseguiu em apenas meia hora de conversa… Passadas três horas, ainda estávamos no mesmo lugar: a escadaria do mais mítico B&B’s de Lisboa enquanto numa tarde de inverno com sol de primavera, o Taylor Holding (Alfaiate Seguro, quando traduzido) me revelava aos poucos, entre drinks e cigarros, como chegou por acidente até Lisboa e nunca mais conseguiu de lá ir embora.
“Quem quiser usar um para-quedas, tem primeiro que pular do avião”, foi essa a resposta quando lhe perguntei sobre a experiência de sair de férias e nunca mais retornar. Quando lhe disse que teria que publicar sua história, a resposta também não foi menos figurada “Não tem problema! Pois pessoas sob o signo de virgem são (paradoxalmente) desconhecidos com vida pública”. O Taylor além de virginiano é californiano – americano e antes de vir parar em Lisboa achava que Portugal ficava na Ásia, afinal “Portuguese, Chinese, Japanese, sabe como é, né?!”, disse o filho de mãe alemã e pai irlandês, hoje com 29 anos, e sorriso quase envergonhado mas já suficientemente integrado a ponto de achar a tal gafe engraçada por pertencer ao passado.
E foi em Junho de 2010 que sua viagem iniciada um mês antes, muitíssimo bem planejada (onde até os restaurantes foram escolhidos antes da partida) mudou de rumo: depois passar pela Irlanda, País Basco e Espanha, deu de cara com uma greve de transportes público na França de onde viajaria de trem para o próximo destino. Foi quando Lisboa o escolheu; “Era o único lugar para onde ainda havia lugar no trem durante a greve”. Ao chegar na cidade encontrou, coincidentemente, um viajante que conheceu em outra cidade e através dele chegou ao Oasis, um dos B&B’s mais incríveis de Lisboa sempre cheio de viajantes que buscam mais que simplesmente hospedagem e turismo tradicional.
Depois de dois dias na cidade, lhe ofereceram o cargo honorário de arrumador de camas no Oasis, aceito por ele imediatamente. E a partir daí começava uma história louca de amor entre homem e cidade, de maneira que nenhuma outra teria a menor chance participar ou interferir. As vezes que tentou ir embora foram tantas que ele acabou perdendo a conta do tanto de mudanças que fez à passagem de volta. As tentativas da mais “compreensiva das mães” em promover a conclusão da tal viagem, também não deram muito certo; chegou a perder o voo por mea culpa de um churrasco no pátio do Oasis.
Hoje, quase cinco anos depois da sua chegada à Lisboa, Taylor confessou já ter considerado seguir viagem, mas segundo outra lenda: um arrumador de camas só consegue partir quando o substituto certo aparecer e para isso terá que preencher todos os requisitos! Fazer camas, ser um ótimo guia e como o Taylor, ter bastante talento em convencer pessoas a visitarem Lisboa.
O uso que o Taylor faz do seu direito de ir (e ficar), aquela vista da cidade e o Oasis, afetaram a minha capacidade de sempre seguir a diante sem nostalgias. Por alguns momentos, sem que ele percebesse, trocamos de pele e me deixei intoxicar completamente por toda aquela liberdade e pude sentir a sua saudade sofrida por antecipação (de algo que nem sequer me pertencia) e não foi fácil reencarnar na minha realidade, pois “o conflito” do vizinho é sempre mais verde, ensolarado e leve que o nosso. Hello e até breve Taylor-Alfaiate-Holding (not) o coração.
Lisboa
“É uma ótima cidade para ser jovem, artista ou aposentado.”
Portugal
“Aqui quem quiser come e bebe o dia inteiro, o ideal é tentar se manter um pouco a sóbrio. Relativamente às duas coisas.”
Política
“Somos todos iguais dados as mesmas oportunidades, portugueses ou americanos”.
Drogas
“São como o pênis (ou vagina): para usar com quem ama e não em público”
Amor
“É muito fácil se apaixonar por uma cidade. Acho gastei todo o meu amor aqui, com as casas, ruas e paisagens. ”
*Foto destaque: Tânia Neves para CoP © Todos os direitos reservados.
A Priscilla escolheu como mantra a frase de Amyr Klink: "Pior que não terminar uma viagem é nunca partir". Adora mapas e detesta malas. Não perde uma promoção ou um código de desconto e coleciona cartões de fidelidade. Nas horas vagas é diretora de arte, produtora de festas, dj e coletora de lixo nas ruas de Amsterdã. Escreve aqui e no www.almostlocals.com
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.