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Berlim é repleta de lugares abandonados que mexem com a imaginação dos curiosos de plantão. A cidade, por ter sido palco guerras e conflitos tão recentes, é cheia desses cantos com histórias para contar. Quem visita Berlim está cada vez mais curioso sobre esse tipo de lugar, deixando os pontos turísticos manjados de lado para se aventurar na Berlim abandonada. Meu ponto de partida nessa onda foi Teufelsberg, “montanha do diabo” em alemão. Desde que li sobre o que era, fiquei fascinada por esse lugar. O motivo? Siga lendo.
Albert Speer, um dos fundadores do Nazismo, construiu a Wehrtechnische Fakultät, uma escola militar no lugar onde hoje é Teufelsberg. O prédio nunca foi terminado, mas mesmo assim os Aliados tentaram implodir o que existia dele depois do fim da guerra. Porém, a construção era tão resistente que não conseguiram colocá-la abaixo. Foi decidido então que a estrutura seria aterrada, o que marcou o início de uma pequena montanha artificial de escombros.
Em 1950, Berlim estava sendo reconstruída e precisava de um lugar para colocar todos os restos da cidade destruída. Adivinha para onde eles foram? Teufelsberg. A montanha cresceu ainda mais e virou o ponto mais alto da cidade, ultrapassando inclusive as montanhas naturais de Berlim.
Com isso, em 1961, os americanos decidiram instalar ali sua base da NSA (National Security Agency, a agência nacional de segurança) e Teufelsberg virou o ponto de escuta e espionagem do oeste para vigiar os comunistas do leste. Vários edifícios, com domos brancos no topo de cada um, foram construídos e hoje eles estão abandonados e abertos ao público, depois de muita polêmica.
Nos anos 90, um grupo de investidores comprou o terreno para fazer um condomínio, mas o projeto era caro demais e foi abandonado. Desde então, Teufelsberg foi invadida por artistas, sem-tetos e festeiros, que fizeram ali seu playground. Para visitar o lugar, o único jeito era pular a cerca na cara e na coragem e ver o que rolava por lá. Porém desde 2011, é possível visitar Teufelsberg com visitas guiadas, já que seu novo inquilino organiza esse tipo de atividade. Hoje, os proprietários, inquilinos e vizinhos se reúnem para discutir projetos sustentáveis em torno de Teufelsberg.
Não é complicado chegar em Teufelsberg . O que fiz foi colocar minha bicicleta no trem até Grunewald (linha S7, 30 minutos desde o centro da cidade) e de lá pedalei 20 minutos até Teufelsberg, passando por dentro da floresta. Como estamos falando de uma montanha, metade do caminho fiz a pé porque meu fôlego não aguentou.
Para quem quiser algo mais garantido, há um ponto de encontro na estação de Grunewald, 45 minutos antes do horário de cada tour. Mas como gosto de me perder por conta própria, liguei o GPS do celular, que não falhou durante nenhum momento. O endereço é: Teufelsseechaussee 10, 14193 Berlim. O passeio pela floresta e na estrada de ciclovia é bem bacana e deu para sentir a vibe de domingo de verão no lugar, já que diversas famílias saíram da cidade para fazer atividades ao ar livre e picnic por lá.
Os tours têm hora marcada (clique aqui para ver os horários) e existem 2 tipos deles: o Guided Walk e o History Tour. Fui na caminhada guiada, que na verdade não é guiada, pois te soltam lá dentro e você pode ir para onde quiser. Ok, não é muito bem “onde você quiser”, porém onde for permitido, já que entrei em portinhas secretas e apareceram pessoas perguntando o que eu estava fazendo ali.
A area é enorme e cheia de murais com arte para todos os lados. Vários prédios estão fechados, mas rola enfiar a cara nas grades (e até abrir algumas) para bisbilhotar o que há por lá. Aqueles que estão abertos são bem impressionantes, seja pelo tamanho ou pelos grafitti. Entrei em várias salas e banheiros destruídos com a ajuda da lanterna do celular, já que estava tudo escuro. Foi uma boa preparação para ir a um lugar abandonado de verdade, sem saber o que você vai encontrar atrás de cada porta.
O mais bacana são os domos no topo dos prédios, com vistas maravilhosas da cidade e cheios de surpresas. Encontramos um trapézio dando mole e claro que nos jogamos, vivendo nossos 15 minutos circenses. Um dos domos é bem fechado e por isso, qualquer som feito lá dentro reverbera de uma forma louca. Diversão na certa.
Quando saímos, estava começando o tour histórico, que custa 15 euros. Nesse sim é necessário ficar bem mais perto do guia, já que ele vai explicar detalhes sobre o lugar. O tour é em inglês e dura 2 horas.
Nosso Walking Tour custou 7 euros e durou uma hora. Cada minuto valeu a pena. Aquele tipo de lugar que você visita e não esquece mais porque é único. Na volta, descemos de bike pela floresta e pegamos o caminho para o centro. Uma hora de descida em ciclovias pela Bismarckstrasse, que emenda com a Strasse des 17 Juni, cruzando assim o Tiergarten, até chegar na Unter den Linden, centrão da cidade. Passeio lindo e tranquilo.
Na sua próxima visita à Berlim, vale se aventurar em um lugar desses. Um site maravilhoso para encontrá-los, com detalhes do grau de dificuldade e riscos para entrar nessas propriedades é o Abandoned Berlim. Já está na lista para a próxima viagem à cidade.
Crédito da foto de destaque: Sarah Galvão/Almostlocals.com
A Sarah morou em 5 cidades diferentes nos últimos 9 anos, seja a trabalho ou no sabático que tirou em Barcelona. Na hora de planejar uma viagem, gasta 70% do tempo pensando onde vai comer, porém tenta queimar as calorias conhecendo as cidades de bike . Já teve que renovar passaporte por falta de espaço para novos carimbos mas ainda tem a África e Oceania como pendências.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.