Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Meu primeiro contato com a cultura de Tel Aviv foi por um filme chamado ‘The Bubble’, de 2006, que retrata a cidade como uma bolha no meio do Oriente Médio: liberal, segura, moderna e cosmopolita. Nas minhas primeiras 24 horas por ali já ficou claro que isso tudo é bem verdade.
Com bares descolados, casais gays de mãos dadas, praias e muitas árvores, Tel Aviv escapa fácil dos estereótipos e faz até a gente se perguntar se Israel é, na verdade, um estado laico (spoiler: não é). A religião também aparece em peso aqui, principalmente nos fins de semana, quando o transporte público para por 24 horas por conta do shabbat.
Antes de vir pra cá, um amigo israelense me contou que não conhecia ninguém que já tivesse sido assaltado em Tel Aviv. A cidade passa mesmo uma baita sensação de segurança, mas ora ou outra você esbarra em alguma coisa para te lembrar da guerra que acontece a alguns quilometros dali: os soldados com fuzis, principalmente, estão por todos os cantos – prato cheio pra quem tem fetiche por uniformes, heh. Nos shoppings e em alguns supermercados é comum acontecer a revista de bolsas e mochilas em busca de bombas – um segurança me disse uma vez que “você está carregando alguma arma?” é uma pergunta que se faz com bastante frequência por aqui.
Tel Aviv é uma dica master pra quem morre de vontade de conhecer o Oriente Médio, mas tem medo do choque cultural. Aqui as coisas são mais fáceis, quase todo mundo fala inglês e, quando você não se sente na Europa, dá até pra lembrar um pouquinho do Brasil.
Não vou mentir: nos meus primeiros dois ou três dias em Tel Aviv, meu relacionamento com os israelenses não foi dos mais suaves. Caí em golpe de taxista, me irritei com as filas e tive dificuldade para interagir em bares. Em Tel Aviv você precisa gritar pelo seu espaço: seja para pegar um drink no bar, fazer compras no mercado, atravessar a rua ou entrar no ônibus, quem não se impõe acaba perdendo a vez. Quando aprendi essa regra, tudo se abriu: meus dias ficaram mais leves, fiz mais amigos e me senti em casa. Por fim, acabei decidindo esticar a minha viagem em mais uma semana pra conhecer mais a cidade.
Tel Aviv é uma cidade bastante turística, como você já deve saber, e é bastante fácil encontrar informações por aí sobre os pontos turísticos da cidade. Vale visitar tudo, claro, mas aqui vão os meus lugares favoritos – principalmente fora do circuito mais tradicional.
– A região de Old Jaffa é mágica. E não tem nada de fora-do-circuito sobre ela, na verdade, mas aqui vai a dica de ouro: em vez de pegar um ônibus até lá, vale escolher uma das praias da cidade e começar uma caminhada de lá. Pode demorar um pouco mais, mas não tem nada mais bonito do que ver a cidade antiga se aproximando pouco a pouco. E de brinde você ainda consegue ter a dimensão do tamanho daquilo tudo antes mesmo de começar o passeio pra valer.
Falando em parques, mais ao norte da cidade dá pra aproveitar muito bem outros dois gramadões: o Yarkon Park, que contorna o maior rio da região e rende um baita passeio de bicicleta, e o Gan Haatsmaut, que fica em um dos pontos mais altos de Tel Aviv e tem uma vista ótima tanto da cidade quanto do Mediterrâneo. Libere o hippie dentro de você e bata palmas pro pôr-do-sol daqui porque ele merece.
O mercado mais popular da cidade é o Carmel Market. Pra quem é de São Paulo, é como um misto do Mercadão (sem a arquitetura maravilhosa) e das feiras livres (sem o pastel de rua). Nele tem de tudo um pouco: roupas, frutas, temperos, sucos feitos na hora e barraquinhas de comida. Mas, pra mim, o passeio fundamental mesmo é pelo Hatikva Market, que é mais roots e bem mais interessante. Como ele fica em Hatikva, um bairro bem working class, dá pra ver um outro lado de Israel. A principal rua da região é a Etsel St., logo ao lado do mercado. Não tem nada particularmente incrível por ali, mas o choque de realidade conta muito.
Se ainda assim você for dar aquele passeio pelo Carmel Market, não esqueça de 1) visitar as ruas paralelas ao mercado e 2) explorar Kerem HaTeimanim, o bairro da comunidade yemenita em Tel Aviv. É um rolê imperdível, eu prometo: apesar de ser principalmente residencial, dá pra encontrar vários restaurantes pequenos, escondidinhos, com culinária típica do Yemen (quando na vida você pensou em experimentar gastronomia yemenita?). Como o bairro é bem tradicional e de população bem religiosa, toda portinha vira uma mesquita improvisada – o que significa que o shabbat aqui é coisa séria e boa parte dos restaurantes fecham, então vale se programar pra visitar em um dia comum. Aqui tem um guia bem legal de como explorar a região.
Tel Aviv é uma cidade pequena, mas ainda assim é cheia de pequenos centros independentes um do outro. O coração da cidade mesmo é na Habima Square, que é o ponto de partida das manifestações da cidade e a casa de alguns museus (inclusive o Helena Rubinstein Pavilion for Contemporary Art, que aparece com uma ou outra exposição legal as vezes). Partindo dali, você pode seguir por três ruas diferentes para conhecer mais do centro de Tel Aviv: a Rothschild, que culmina em uma porção de bares e restaurantes em uma região relativamente turística da cidade; a Dizengoff, com muito comércio, lugares para comer e movimentação; e a Bograshov, que te leva até a praia. Pra quem gosta de arquitetura, vale ficar atento nos prédios da área, muito influenciados pelo Bauhaus (e é na Dizengoff que fica o Bauhaus Center, onde dá pra aprender mais sobre o movimento).
Mesmo para quem não se anima muito com guias turísticos, é uma boa ideia agendar um tour com o Tel Aviv Greeter. Eles fazem passeios privados e gratuitos com uma pegada bem diferente de um tour tradicional: em vez de compartilhar fatos históricos e curiosidades gerais, os guias contam como eles vivem a cidade e apresentam a história de Israel do seu próprio ponto de vista. Em uma manhã de quarta-feira, a Yael me apresentou seus vendedores favoritos no mercado de Carmel, me mostrou a casa onde cresceu (além de várias fotos de família) e me contou a história da sua mãe, que foi camareira do primeiro prefeito de Tel Aviv.
Em duas semanas, consegui ganhar quatro bares favoritos na cidade. Como eles ficam em regiões diferentes, podem ser um baita ponto pra começar ou terminar um dia longo de caminhadas. Lá vai:
O Hoodna é um dos principais bares de Florentin, o bairro descolado da vez em Tel Aviv. As pessoas são legais, a música é boa (onde mais dá pra ouvir o remix do Omar Souleyman pra Björk?) e o clima é bem relaxado. As mesinhas na rua deserta caem muito bem e os preços são ótimos, o que não é a coisa mais fácil de se encontrar em Tel Aviv – segundo o Expatisan, o custo de vida por aqui é quase 40% mais alto que em São Paulo.
*Não vá esperando nada como Williamsburg ou Shoreditch. Florentin ainda passa pelo início de uma gentrificação arrastada. O bairro é promissor, mas por enquanto só tem um punhado de bares, cafés e galerias – além de uma casa de show, o Barby, que só em 2015 já recebeu Toro y Moi, Perfume Genius, Mac DeMarco e Julian Casablancas. Para explorar, vale começar pela rua que dá nome ao bairro (Florentin St.) e explorar as travessas que chamarem a atenção.
Em Old Jaffa, o Cafe Puaa é certeiro. A comida e os drinks são impecáveis e ele fica cercado de bares – então, se o ânimo bater, é só sair pulando de balcão em balcão. Ali por perto também fica o Shaffa, que faz uma promoção maravilhosa de double drinks no fim da tarde pra tirar o aperto do bolso.
Chegando na região central, o Shpagat é provavelmente o bar gay mais legal que eu já fui. Ele fica colado em Neve Tzedek (um outro bairro que vale a visita!) e próximo à Rothschild Boulevard, então acaba servindo como uma ótima alternativa pros bares mais coxinhas de lá. A música é cheesy, mas o ambiente é bem good vibe (antes das 21h ele ainda fica com uma cara de café, bem relaxado) e o pessoal que trabalha lá é fantástico.
É só dobrar a esquina (ou pegar um atalho por um beco meio American Horror Story logo ali do lado) pra chegar no Port Said, o oasis hipster de Tel Aviv. A seleção musical é toda em vinil (cuidado pra não babar em cima da coleção de soul e funk dos caras) e, além de drinks generosos, as comidinhas fazem sucesso. Pra completar o pacote, ele fica nos fundos de uma sinagoga gigantesca – ou seja: se o Google Maps falhar na hora H, é só seguir o fluxo de judeus ortodoxos pra encontrar o bar.
Parece exagero, mas eu juro que não é: todos os pitas, falafels e hummus que comi em Israel foram, sem dúvida, melhores que quaisquer pitas, falafels e hummus que já comi na minha vida. Juntando dicas de amigos e pessoas que conheci na cidade, cheguei nos três lugares definitivos de Tel Aviv: o Miznon, com o melhor kebab da história, é comandado por um chef incrível e levemente insano – ele, aliás, é também o bad cop do MasterChef Israel. O Hakosem, perto do Habima Square, carrega a fama do melhor falafel da cidade, quiça do país; e, se bater uma saudade de junk food, o Vitrina faz supostamente o melhor hambúrguer (e as melhores batatas, também). Fora isso, explore: o que não falta aqui é comida boa.
Se você tiver que correr pra entregar aquele frila ou dar uma consultada no wi-fi pra postar no Instagram, o Bookworm é definitivamente o melhor lugar pra isso na cidade, com um café bastante digno e, mais importante, silêncio. Mas se você não estiver por perto, nem precisa se preocupar: Tel Aviv é uma cidade super ativa em tecnologia, com centenas de startups aparecendo a todo momento, então o não falta é wi-fi nos lugares. Na dúvida, é só se encostar em algum dos parques da cidade: na maioria das vezes, o wi-fi público funciona que é uma beleza. (Mas vai por mim: ir na Orange, a operadora celular local, e levar um chip com 3G é um dos melhores presentes que você pode se dar)
Sozinho ou acompanhado, Tel Aviv é uma cidade completa: se você gosta de história, festas, praia, comida ou passeios de bike, já pode começar a arrumar as malas.
As três coisas favoritas do Alex são música, comida e gin tônica. Obviamente, ele também gosta muito de viajar (mas quem não gosta?) e é um fotógrafo amador (mas quem não é?). Quando a inspiração aparece, ele relata suas experiências caóticas pelo mundo - desde uma dor de barriga em uma geleira islandesa até ficar sem-teto em Praga - no Dormi no Aeroporto - https://medium.com/dormi-no-aeroporto.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.