Um quase sonho, é como eu me senti naquele galpão com as paredes de algodão, questionando em que espaço eu estava e em que tempo, no presente dos meus sonhos ou na peça passada em que ali só sobraram as cadeiras e o som.
Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Não há como ir para Inhotim e não ficar pasmo com a grandeza do projeto. Na primeira vez eu fiquei de queixo caído, na segunda também. E, em ambas, a mesma obra me emocionou como se fosse a primeira vez que eu a via. Lembro-me de ter chegado na galeria de Janet Cardiff & George Bures Miller, onde tem a instalação “The Murder of Crows“. Peguei o finalzinho da peça e fiquei para ouvi-la inteira. E chorei de emoção. Na época fiquei tão obcecada que não parava de pesquisar a respeito. Aí veio a segunda vez e a minha ansiedade era chegar logo novamente nessa mesma galeria. E a emoção foi a mesma. Tentei escrever a respeito, mas nunca consegui. E, então, me deparei com esse texto sobre a obra no Medium escrito pela Giuliana Nunez e fotografada pelo Arthur Soares. E me emocionei de novo, por isso pedi permissão em publicar o texto aqui no Chicken or Pasta. E fica a dica: para os que ainda não tiveram o prazer de conhecer Inhotim, coloque-o na lista de coisas para fazer e inclua “The Murder of Crows” para ver. Espero que vocês se emocionem como eu. Aqui vai um trecho da peça gravada em 2009 no Hamburger Bahnhof-Museum für Gegenwart em Berlim.
Uma das primeiras galerias que visitamos foi dos artistas canadenses Janet Cardiff & George Bures Miller com a obra “The Murder of Crows”. A instalação é dentro de um enorme galpão que é inteiramente forrado com um material que parece algodão e está lá para isolar o som de fora da galeria, mas também cria um ambiente completamente onírico.
No centro, uma “orquestra invisível” com alto-falantes apoiados em cadeiras e tripés, dispostos como uma mini orchestra, onde cada alto-falante toma o lugar de um instrumento. E no centro como destaque, uma mesa com um megafone que, de quando em quando, por ele escutamos a voz da Janet Cardiff.
Com sons de corvos, músicas que parecem que são para dormir, marchas pesadas, é como uma peça sendo apresentada, mas visualmente ela só acontece na sua imaginação. E isso é tão poderoso, o uso do som como uma narrativa, que faz a história ser completamente pessoal e intensa.
Logo me fez pensar no Bresson (do cinema) que descobriu as possibilidades sugestivas que o som tem de provocar imagens na mente do espectador, isso se prova nos seus filmes e nessa obra também.
“Quando um som pode substituir uma imagem, suprimir a imagem ou neutralizá-la o ouvido vai mais em direção ao interior, o olho em direção exterior”
Essa obra é inspirada em uma das gravuras do Goya. Posteriormente ao vê-la, fez ainda mais sentido. A sensação que tive durante toda a “apresentação” foi de que eu estava dentro de um sonho acordada. E passava por vários tipos de sentimentos, alguns bons outros mais sombrios. A gravura de Goya é absolutamente isso, só que contado por imagem. Na gravura Goya está quase dormindo em cima dos seus trabalhos numa mesa, atrás dele morcegos e corujas como criaturas que assombram o quase sono, quase alerta Goya.
Um quase sonho, é como eu me senti naquele galpão com as paredes de algodão, questionando em que espaço eu estava e em que tempo, no presente dos meus sonhos ou na peça passada em que ali só sobraram as cadeiras e o som.
Fotos: Arthur Soares. Texto: Giuliana Nunez
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.