O dia em que fui barrada no embarque

Nunca achei que fosse acontecer comigo. Sou neurótica com documentos e com tudo que preciso levar numa viagem. Obviamente sempre deixo algo para trás, e dessa vez o esquecido não poderia ter sido pior: o documento. Já esqueci até as roupas. Cheguei uma vez na Suécia e, ao abrir a mala, me deparei com ela praticamente vazia, pois comecei a fazê-la, e não terminei, mas achei que tinha feito!

Tive um jantar na véspera e, na saída para o restaurante, eu lembrei que deveria pegar o passaporte, já que não sei onde larguei meu RG e somente estes dois documentos são válidos para entrar em qualquer país da América Latina. Jantei e tomei vinho o suficiente para esquecer esse “detalhe”. Voltei, fiz a mala e fui dormir tranquila, certa de que tudo estava pronto. No dia seguinte, acordei às 6:30 da manhã, tomei banho, café e ainda enrolei um pouco para sair de casa às 8h, quando embarquei num Uber.

Trânsito tranquilo que nos deixou em Guarulhos às 8:45. Pegamos os bilhetes, saquei dinheiro e fomos despachar uma mala. Quando coloquei a mala na balança, a atendente olhou pra mim e pediu o documento. Na hora eu gelei, pois lembrei que não tinha pegado o passaporte. Ainda arrisquei e mostrei minha carteira de motorista. Fui vetada. Não tinha como embarcar com ela. Perguntei onde poderia tirar um documento de última hora e a única opção era o Poupa Tempo, de Guarulhos, porém eu não tinha tempo suficiente. Comecei a tremer e a não acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Virei os olhos, mandei mensagem pro Ola, liguei na sequencia e quase desabei chorando, mas segurei a onda.

Ela cancelou meu bilhete e corremos para a loja para cancelar o do Ola e tentar recuperar as milhas. A passagem já tinha sido remarcada uma vez me gerando um prejuízo de R$ 550,00 para emiti-las novamente. E foi uma sucessão de problemas: o sistema do Smiles estava lento, a loja não podia cancelar a passagem do Ola, o site não funcionava… Eu continuava tremendo ao ver as paisagens uruguaias passar na minha frente, a peluqueria que eu marquei de ir para cortar meus cabelos, os bares que iria, o vinho que iria tomar, as comidas, a curiosidade em conhecer o hotel Bahia Vik, onde eu ficaria, a ansiedade por conhecer Garzon e tentar arriscar uma reserva de última hora para experimentar as peripécias gastronômicas do Francis Mallman. O pescoço ficou duro. Na cabeça, eu contabiliza duas coisas: o fim de semana e o dinheiro perdidos. Ao meu lado,o Ola tentava me consolar, mas sem êxito.

Já eram 10h e não tínhamos comido. Fomos procurar um lugar para tomar café no aeroporto, mas, como todos sabem, não tivemos muito sucesso na busca por um lugar decente. Acabamos tomando um café meia boca no Starbucks (jura que vocês gostam de lá?) e então pedimos um Uber. Eram 10h50 quando embarcamos no carro preto, que parecia fúnebre àquela altura para mim. São Paulo era tomada por manifestações, o waze nos levou para um tour pela Zona Leste nos deixando em casa somente 1h20 depois.

Veio aquele cansaço, o momento em que você olha desolada para a mala pronta, os anseios por conhecer um novo lugar, o desapontamento do marido porque você errou em algo tão primário. E logo você, que escreve sobre viagem, que sempre fala que check-list é importante, que é cheia de noias… Até o momento em que a gente relaxa e pensa “ah, não era para eu ir mesmo”. E cá estou terminando meu domingo com uma taça de vinho argentino no meio dos Jardins, em São Paulo, enquanto o marido, talvez baqueado pela decepção, segue doente desde que retornamos do aeroporto.

Se não era para ir, eu não sei. Mas não fui e cá estou meio triste porque o plano era terminar o domingo de um jeito diferente. Se teve alguma lição aprendida? Saberemos nas próximas viagens.

Sobre milhas

A passagem foi emitida com milhas Smiles. Logo que soube que não embarcaria, a atendente já cancelou minha passagem e sugeriu que eu ligasse para o Smiles solicitando o cancelamento da passagem. Não adianta procurar a loja da Gol ou cia. aérea parceira, pois o cancelamento só pode ser feito por Internet ou telefone diretamente com Smiles. Atenção: cancelar o check-in não é a mesma coisa que cancelar a passagem. São coisas distintas. Conseguimos cancelar o check-in somente na loja, mas as passagens apenas com o Smiles. Como o sistema estava lento, acabamos ultrapassando o tempo mínimo para cancelamento. Resultado: tive que abrir um processo com eles para “tentar” cancelar e reaver as minhas milhas.

Para cancelar a passagem emitida com milhas: pagamento de taxa de R$ 130,00 por passageiro e as taxas de embarques são perdidas. Não é possível reemitir passagens com milhas. Cancela-se e então se emite novamente, ou seja, não há como fugir da multa de cancelamento e da perda das taxas de embarques.

*Foto destaque: Dan Costa / shutterstock.com