Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Se a classe média anda sofrendo, parece que a vida não anda nada fácil para as mais abastadas. Que o digam algumas das marcas de luxo mais importantes do mundo. Por conta disso, as grifes estão buscando novas formas de provocar e despertar o desejo do público, indo muito além de bolsas e roupas. A premissa do mercado de luxo é justamente a exclusividade, o acesso a poucos e bons. Mas como conciliar essa ideia com o crescimento das vendas, que pressupõe inevitavelmente a popularização? Uma das respostas desse dilema foi a aproximação dessas marcas com o mundo das artes, que une justamente a originalidade com o questionamento do status quo e a estética.
Esse casamento, conhecido como Arketing (art + marketing) gera cada vez mais frutos, como se pode ver nas recentes coleções da francesa Louis Vuitton com Takashi Murakami e Yayoi Kusama. Mas o movimento agora é outro: atingir um público maior, mesmo aquele que não consome os produtos da empresa, montando museus grandes e exuberantes, não para expor sua obra, mas sim as mais variadas coleções de arte do mundo.
A idéia não é nada nova, a Cartier inaugurou sua fundação há 31 anos, e desde então o prédio projetado por Jean Nouvel virou referência no circuito artístico parisiense. Recentemente, duas marcas adotaram a estratégia e montaram seus espaços dedicados ao melhor da produção artística contemporânea. Também em Paris, a Louis Vuitton lançou no ano passado um gigantesco edifício escultura criado por Frank Gehry (aquele do Guggenheim de Bilbao), e agora em 2015, a Prada aproveitou o boom cultural em Milão para inaugurar a sua fundação, com projeto do holandês Rem Koolhaas. Nós, que não somos bobos nem nada, corremos para conhecer os dois e ver qual é de cada um.
Pousado no meio do verdejante Bois de Boulogne, no oeste de Paris, o prédio de Gehry impressiona de longe. Parece uma enorme caravela surrealista de vidro, com suas sete velas oblíquas se contorcendo ao vento. A arquitetura dele, como sempre, é estridente e impactante, e o uso de materias é impressionante. Vigas de madeira laminada curvada se juntam a pilares metálicos inclinados e os vidros curvados parecem feitos artesanalmente. Os terraços também são complexos, e dão enquadramentos únicos do famoso skyline da cidade. O subsolo, ao redor da incrivelmente minimalista sala de espetáculo, também enche os olhos, com uma cascata intensa que escorre para um espelho d’água tingido de amarelo, pelas 43 colunas iluminadas da obra de Olafur Eliasson.
Infelizmente a parte interna do prédio não reflete a mesma contundência. Com um volume tão elaborados, era de se esperar um espaço expositivo igualmente interessante, mas o que se vê são salas em sua maioria ortogonais, brancas e bastante básicas. O que salva é a coleção do dono da LVMH, Bernard Arnault, que enche os olhos. Entre obras de grandes nomes do nosso tempo como Basquiat, Gilbert & George e Jeff Koons, ainda existe espaço para clássicos, como na exposição que vimos Key to a Passion, com ícones do modernismo como ‘A dança’, obra-prima de Matisse, e o famosíssimo ‘O Grito’, de Edvard Munch (sim, acharam!).
Fora isso, a sala de espetáculos também vem recebendo todo tipo de evento, desde apresentações de música clássica até shows como da banda Kraftwerk. O térreo ainda tem um restaurante bem agradável, com vista para o Jardin d’Acclimatation, e uma lojinha (ou lojona) que dá vontade de comprar tudo, mas que o Real não deixa. Para chegar lá, o jeito mais fácil é descer na estação Porte Maillot (linha 1) e seguir as placas para o Jardin d’Acclimatation, ou pegar o pequeno ônibus elétrico da Fondation no Arco do Triunfo, Place Charles de Gaulle esquina com Avenue Friedland. Os ônibus partem a cada quinze minutos.
Fondation Louis Vuitton – 8, Avenue du Mahatma Gandhi, Bois de Boulogne – 75116 – Paris.
Na Itália, a Prada já vinha trabalhando com arte há mais de 20 anos, seja em espaços temporários, ou numa mansão do século 18 que eles converteram em museu em Veneza há 4 anos. Mas agora a grife resolveu fincar raízes em uma antiga destilaria em uma parte degradada e esquecida do centro de Milão, metrópole famosa pela moda e o design, mas secundária em termos artísticos. O projeto de Rem Koolhaas tem mais 19 mil m2, e une antigas construções existentes com novos prédios, simples e elegantes, em um complexo múltiplo e fascinante.
Para começo de conversa, uma torre de 4 andares revestida de folhas de ouro, em um processo artesanal antiquíssimo, domina a volumetria e chama a atenção de longe. A luz refletida do sol no dourado enche os olhos e ilumina os pátios do conjunto. Ao redor da quadra, os galpões da fábrica foram mexidos apenas no que foi necessário para se adaptarem a novos usos, mantendo-se detalhes como as esquadrias, a estrutura, e os revestimentos brutos e simples. No meio, uma grande caixa de vidro encerrada em cimento branco e alumínio com aspecto de esponja abriga a sala expositiva principal, onde os visitantes desfilam entre as obras como se estivessem em uma passarela. Para a abertura, contrapondo a coleção totalmente contemporânea da família Prada, a exposição Serial Classic reúne peças emprestadas de mais de 40 museus do mundo, incluindo o Louvre, o Prado e o Metropolitan, estabelecendo um olhar sobre a reprodução com a ajuda de esculturas gregas e romanas da antiguidade clássica, mas também do Renascimento e do Neoclássico.
Outro prédio central abriga a sala de cinema, que abriu com um documentário de Roman Polanski, e está pronto para receber todo tipo de apresentação, e também o Trittico, três câmaras contíguas que apresentarão três obras rotativas do acervo por três meses. Nessa primeira exposição, domina o cenário a obra Lost Love, de Damien Hirst. O próprio nome dos prédios já são convite à curiosidade: a Torre, a Cisterna, o Cinema, o Podium, o corredor Sud, o corredor Nord, a Biblioteca, a Haunted House, o Trittico. Cada um desses espaços tem uma ambientação completamente diferente, com atividades independentes, e é impossível não querer ver tudo.
Além disso, logo na entrada fica o Bar Luce, o tão falado bar ambientado pelo Wes Anderson, fazendo uma colagem divertida e moderninha dos cafés milaneses à moda antiga: cadeiras de fórmica verde pastel, papel de parede imitando colunatas e vitrais, e duas máquinas de pinball com temas, claro, de filmes do diretor. Isso sem contar com as comidinhas deliciosas e os drinks feitos com esmero. Vale a penas ir até lá mesmo que seja só para comer ou bebericar. Para chegar lá ainda não é muito fácil, pois a área ainda está se renovando. O metrô mais próximo é a estação Lodi (linha amarela), ou pegar o tram 24 ou o ônibus 79. Ou fazer como nós fizemos e ir de taxi mesmo.
Fondazione Prada – Largo Isarco 2 – 20139 Milano
Fotos: rseefo
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.