Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Lembro-me a primeira vez em que pisei no Mirante 9 de Julho. Ele ainda estava maltratado, cru à espera de ajuda, esquecido. À sua volta um retrato da deformação da nossa sociedade, famílias sem teto morando ali entre ratos e um amontoado de lixo. Ainda assim eu me apaixonei. Vi naquele lugar toda a luz que ele de fato tem. Vi nele a esperança que tenho há algum tempo: que a gente tenha cada vez mais lugares públicos, abertos e criativos para nos fazer melhor. E fazer melhor não é pretensão, mas acredito em espaços que nos permite sonhar com uma cidade que sonhamos viver.
O trabalho não foi fácil e tiro meu chapéu aos que acreditaram e o tornaram “seu”, afinal quando você cuida de algo, ele é seu também. Aqui o chapéu tirado vai para o Facundo Guerra, Grupo Vegas e a MM18, escritório de arquitetura que ajudou a restaurar o lugar preservando o máximo do projeto original. E a partir de domingo ele será nosso como deve ser.
Eu me envolvi emocionalmente e acho que há tempos eu não me entregava de alma a qualquer coisa (e não fiz muita coisa, que fique claro). Mas simplesmente eu me apaixonei pelo Mirante por tudo que ele significa para São Paulo, espaço que aos poucos sai da sua invisibilidade ganhando luz num canto obscuro, um corredor de ônibus no qual não prestamos atenção. É o vai e vem cheio de pressa para ir e vir.
Nesses últimos meses tem sido interessante ver as pessoas chegarem no Mirante estupefatas e soltarem “uau, que lugar é esse que eu nunca vi, mas pelo qual eu sempre passei?”. Isso traz a certeza de que há ainda mais lugares assim escondidos em São Paulo.
Aos poucos o lugar foi ganhando vida, brilho e movimento. De repente as escadas voltaram a ser ocupadas, as janelas passaram a ter olhares espiando em busca do que há do outro lado. Uma escada em espiral, com pouco mais de cem degraus, escondida por mais de 50 anos ganhou luz e ideias para projetos, que farão daquele lugar pequeno tão grande.
Quando marco um encontro com alguém lá ainda é necessário quase desenhar para que a pessoa entenda onde fica. Muitas vezes ela vai parar em cima do Mirante, um viaduto completamente desnecessário que surgiu para decepar o “mirante” de fato cortando um pedaço da nossa história, mas que agora ganha uma “laje” que será ocupada por artistas e tela de cinema trazendo simbolicamente de volta sua “torre”
O Mirante 9 de Julho abre seus portões neste domingo para todos e assim permanecerá. O espaço não é tão grande, 400m2, mas promete receber todos para um café ou um almoço a preço justo, algo cada vez mais raro em São Paulo. De um lado o Isso É Café chega com seus produtos orgânicos e de qualidade impecável, ponto que com certeza será o preferido na região por amantes de café, seja coado, seja expresso. No lado oposto, O Mercado Efêmero, filho mais novo d’O Mercado, promete trazer mensalmente chefs para ficar de olho que irão nos surpreender com sua criatividade no fogão oferecendo pratos por no máximo R$ 20. Cervejinhas artesanais completam o cardápio.
Na laje sobem bandas e DJs para alegrar nosso fim de semana com curadoria de uma dupla para tirarmos o chapéu: Akin Bicudo (Metanol) e Roberta Youssef. Na abertura o Coletivo Rolê ocupa o espaço todo com uma exposição pensada e criada para ele dando vida até para as escadas. Quando a tarde cair no domingo, uma tela de cinema cai junto do alto do Mirante para, então, deixarmos todos sentados na escadaria assistindo a um bom filme com o melhor que temos como pano de fundo: São Paulo.
O Mirante 9 de Julho será um lugar mágico, democrático e inspirador para outros lugares como este surgirem. É chegar e achar o seu lugar. Quem ainda preferir se esconder é só se embrenhar pela Galeria Vertigem, os cem degraus que o levará para a 9 de Julho sem de fato vê-la.
Há 2 semanas eu tento escrever esse post sobre o Mirante, mas percebi como é difícil quando a gente se envolve com o projeto de todas as formas possíveis. O próximo capítulo é fazer com que as duas fontes laterais esquecidas antes da entrada do Túnel 9 de Julho ganhem vida também. E para isso, precisaremos da ajuda de todos, afinal a cidade é nossa e não precisamos esperar por um governo que tem outras urgências a pensar nelas. Vamos lá, tenho certeza que num futuro não tão distante teremos um belo parque entre 9 de Julho e Masp para usufruirmos bem no coração de São Paulo. E vou jogar no seu colo como joguei no meu: conto com vocês para isso acontecer.
Como bem disse o Akin “Quando penso em cultura em São Paulo, penso em cultura de livre acesso, ao ar livre e que olhe a cidade de dentro para fora.”
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
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O caminho da inclusão… de todos para todos! Muito amor esse lugar
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.