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Então – acabei de chegar de uma viagem de dez dias com a minha incrível mãe, e espero ter me redimido de uma outra viagem que fizemos juntas e que eu avacalhei um pouco, por pura falta de experiência e ingenuidade. Seguem algumas preciosas dicas.
Risos. Na impossibilidade, tenha Rivotril. Na impossibilidade, tenha calma e seja sensato. Mas e quartos separados, Luiza? No meu caso não rola, porque somos só eu e mamãe, e ainda não estamos milionárias. Mas papo sério: o roncador não tem culpa pelo e nem controle sobre o ronco, e o não roncador também não tem culpa de não conseguir dormir ao som dessa sinfonia maldita. Então é preciso combinar paliativos, como por exemplo: o roncador tenta evitar dormir de barriga para cima, a outra parte dorme com tampões no ouvido e, se a coisa estiver ruim mesmo, pode-se combinar a possibilidade de mudar o roncador de posição durante a noite. Eu faço isso com a minha mãe, mas às vezes fico com muita pena de acordá-la, então da metade da viagem para frente comecei a dormir com o iPod no ouvido, relaxando ao som de Miles Davis. Funcionou.
Papo sério, gente. Se vocês não são a Rory e a Lorelai de Gilmore Girls, não dá pra mochilar na Europa com a sua mãe, tá? Se você vem de uma família “normal”, é bem provável que seu acompanhante tenha pelo menos uns vinte e poucos anos a mais que você, o que significa vinte e poucos anos a mais de manias, métodos, pequenas doenças e limitações. Entenda que não são frescuras. Não são. Daqui a uns vinte e poucos anos você vai estar igual, se não estiver pior, então apenas engula o choro e chame o táxi se ele te disser que acha alguma coisa muito longe, porque no fim das contas o foco da viagem não é você, nem as suas vontades – pra isso você viaja sozinha ou com a sua BFF – o foco é a relação de vocês. Melhorar essa relação, sempre.
Achar que a minha mãe tinha o mesmo pique que eu foi o grande erro que cometi na nossa primeira grande viagem internacional enquanto adultas, para Paris e Sul da França. Eu estava morando na Inglaterra, exatamente como ela tinha feito aos vinte e poucos anos, e aí fantasiei que seria como uma volta no tempo pra ela. Dei uma exagerada. Nos encontramos no Charles de Gaule e eu não só fiz ela pegar trem + metrô pra chegar à cidade, como também tinha bookado um albergue – o melhor de Paris, diga-se de passagem, e com um quarto só pra nós duas – mas um albergue nonetheless. Foi um pouco brutal. O que nos leva à próxima dica:
A não ser que você seja um jovem extremamente bem sucedido e esteja proporcionando uma viagem relaxante pros seus pais, in which case meus parabéns, me liga, me conta comofás, o cenário mais plausível é que numa viagem com os pais eles estejam liberando um pouco o orçamento. Aproveite e use esse dinheiro que você nunca tem quando está viajando sozinho e proporcione o maior grau de conforto que você puder, nem que isso signifique hotéis mais “caretas”, passeios mais bem organizados e agendados, carros particulares buscando vocês no aeroporto, etc. Você pode achar o fim ter alguém com uma plaquinha te esperando no saguão do aeroporto, mas sua mãe vai amar, pode ter certeza. Deixe as peregrinações no transporte público para outra hora e alugue um carrão para o seu pai dirigir. Aliás, acho que não há nada mais legal que se possa fazer quando os pais liberam a grana do que organizar a viagem toda pra eles. Organizar viagem é um lance demorado e complicado. O simples fato de você dizer “não se preocupem” e apresentar um itinerário lindo e colorido pra eles já vai tornar tudo bem mais suave.
Está diretamente linkada com a dica anterior. Você pode achar que tudo bem pular o almoço e comer um salgadinho na esquina, pra economizar pro jantar, mas as chances dos seus pais estarem ok com isso são bem pequenas. Emendar um dia inteiro na rua, chegando no restaurante do jantar suado e cheio de sacolas – eles também não vão curtir. Desacelere a viagem, mesmo que isso signifique um pouco menos de programas. Quando estiver programando os dias, pergunte se eles fazem questão desta ou daquela atração, deste ou daquele restaurante. Eu sei que acertei muito nessa parte da viagem mais recente que fiz, mas é fácil cometer deslizes. No dia em que não tínhamos reserva para o jantar, fiz uma pesquisa rápida e achei um Thai/Vietnamita que sempre quis conhecer em Buenos Aires. Marquei sem consultar minha mãe, apenas informei. Chegando lá não tinha nada que ela gostasse no cardápio, o que resultou numa noite maravilhosa pra mim e nem tanto pra ela. Tem que pensar em todos.
Toda regra tem exceções, claro, mas geralmente seus pais são mais bitolados com horário que você. Não discuta se eles quiserem chegar com três horas de antecedência no aeroporto. Compre pães de queijo e cafés para todos e aproveite para revisar os itinerários do resto da viagem – eles vão ficar duplamente satisfeitos. Mas Luiza, e a espontaneidade, onde fica? Ela aparece, gente. Talvez não tanto quanto você gostaria, mas se tudo estiver bem programadinho, um pequeno imprevisto que surgir vai ser mais fácil de contornar, e vai virar “aquela história muito engraçada da viagem”. Se acontecer muitas vezes, a viagem é que vai virar “aquela viagem em que tudo deu errado”. Não é isso que você quer, né?
E cuidado com as tecnologias também. Não existe nada mais terrível pra um pai do que se sentir burro e/ou pateta e/ou atrasado diante de um filho. Não piore a situação rindo de um deslize linguístico dele (a não ser que ele ria primeiro, claro) e não parta do pressuposto de que ele sabe usar o Google Maps direitinho. Não seja impaciente se ele não estiver entendendo um mapa. Ajude, pratique a tolerância e seja fofo. Se ele estiver errando a mesma palavra na outra língua toda hora, use-a da maneira correta cinco minutos depois, para dar o exemplo. Ou apenas deixa pra lá, porque o importante é se comunicar, e não ser fluente.
Essa é difícil, mas essencial. Acho legal aproveitar esses momentos em viagem pra avaliar a vida e falar sobre ela, contar dos seus planos e projetos e ouvir os deles, mas evite, por exemplo, expor as suas ansiedades em relação a política e assuntos quentes se você sabe que a opinião de vocês diverge. Eu e minha mãe estamos em momentos políticos diferentes, e foi difícil contornar o assunto estando em Buenos Aires, que também enfrenta uma crise política, mas acho que me saí bem. Acho válido bater boca de maneira saudável de vez em quando, mas você não vai estregar um jantar caríssimo no processo. Não é a hora. É a hora de meter pau em ex namorados, encher a sua mãe de vinho e pedir pra ouvir histórias da juventude dela, admitir as mentirinhas que você contava quando era adolescente, falar dos membros da família não presentes (essa é ótima, porque todo mundo adora falar da vida dos outros). E depois fazer uma mea culpa básica. Risos, choros.
Estamos combinados então? Compartilhem histórias de sucesso e tragédias nos comentários, por favor. Quem também já levou a mãe pro albergue?
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Por Luiza Vilela
Foto destaque: Shutterstock Brocreative
hahahaha meu deus, eu já viajei algumas vezes com minha mãe e com meu pai (separadamente, visto que eles são separados :P) e tou me preparando pra outra viagem com meu pai (dessa vez sem a mulher dele, pela primeira vez) daqui a um mês. esse post caiu como uma luva pra o que eu tava pensando e conversando com ele :P começando pelo primeiro ponto: quando estávamos em Paris, fiquei com pena de mexer nele pra parar o ronco e só dormi com o iPod bem alto… na próxima, ele vai levar uma maquininha que comprou pra resolver o problema o/ também estamos em “momentos políticos” bem diferentes e já combinamos que o primeiro que tocar no assunto paga ao outro :B essa parte do conforto também já aprendi… meu pai curte ônibus hop-on hop-off, que eu até aprendi a gostar, e prefere que um motorista pegue a gente no aeroporto e leve pra passear. quem sou eu pra reclamar, né? hehe. não é o tipo de viagem que eu faria sozinha, mas como você disse, se for pra ser assim que eu vá sozinha, então ;) curti o blog! também tenho um de viagens, http://www.janelasabertas.com, depois vou tentar escrever um post de follow up às tuas dicas ;) um abraço!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.