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Quando a gente pensa na Flórida, alguns pensam no Mickey e nos parques. Alguns pensam em Miami e nas compras. Mas para a maior parte dos americanos e muitos europeus, a Flórida é sinônimo de praia. Não à toa, o estado continental mais ao sul dos Estados Unidos é conhecido como The Sunny State, o estado do sol. Mas para quem quer fugir das praias badalas de Miami Beach até Fort Lauderdale, o melhor refúgio na área é um só: os Keys.
Os Keys da Flórida são um conjunto de ilhas alinhadas ao sul do estado, ao longo do Estreito da Flórida, que divide o Oceano Atlântico do Golfo do México. Corre a lenda que a palavra key, que em inglês quer dizer chave, deriva da palavra espanhola cayo, que quer dizer pequena ilha. Eram habitadas pelos índios Calusa até a chegada de Ponce de León em 1521, que deu o nome de uma das ilhas mais a oeste, na ponta do arquipélago, de Cayo Hueso, que era usado como depósito de ossos de índios mortos. Hoje essa ilha, famosa como Key West, é um dos points de veraneio mais charmosos do país, e o caminho até lá é de uma beleza incomparável.
Depois de ouvir falar tanto, e de babar toda vez que via aquela famosa cena da limousine no filme ‘True Lies’, marcamos um bate-volta até o fim da estrada e encaramos o desafio com o carrão alugado pela Avis. Saindo de Miami em direção ao sul, seguimos pela US1 (estrada que vai de Key West até a fronteira do Canadá no Maine a mais de 3800km) até o fim do continente, e daí para a primeira ilha, Key Largo. A vista do mar ainda era esparsa, mas a natureza já mostrava que não estava de brincadeira. Na ilha mais longa do conjunto existem dois parques nacionais lado a lado: Crocodile Lake National Wildlife Refuge e o John Pennekamp Coral Reef State Park conhecido pelos corais incríveis. Não só as plantas, o mar e a praia, mas também os animais são levados a sério. A primeira ilha é bem comprida e quase grudada nas próximas, então ainda não se viu muito do mar.
Os próximos cinco keys, Plantation, Windley, Upper e Lower Matecumbe e Tea Table, formam um comprido vilarejo chamado Islamorada. Aqui já dá para encontrar um pedacinho de areia branca para chamar de sua. Muitos resorts e condomínios de casas de veraneio, algumas praias tranquilas e muitas opções para quem quer pescar, mergulhar, ou só ficar de bobeira em algum barco. A onda aqui é mesmo para quem curte navegar. Mas a gente ainda tinha muita estrada pela frente.
Depois disso a coisa começou a ficar interessante. As ilhas ficam mais espaçadas e o caminho segue por longas pontes sobre a água azul turquesa. É lindo, e muito gostoso de dirigir. A estrada é um retão lisinho, com velocidade controlada entre 50 e 70 milhas por hora, então eu liguei o modo cruise, abrimos as janelas e fomos curtindo a brisa morna e o cheiro de maresia.
Muitos Keys tem parques que você pode visitar. No Long Key tem um com o mesmo nome, bem pequeno, e no Long Point Key tem o Curry Hammock State Park. Mas o mais bacana é o Bahia Honda State Park, no key homônimo. Ele tem mais de 2km2 de área totalmente desabitada, e uma praia paradisíaca com 4km de extensão, que já foi eleita a melhor dos Estados Unidos nos anos 90. Lá você ainda encontra trilhas no meio da floresta tropical, áreas para pescar e para piqueniques, ciclovia, aluguel de barcos e caiaques, camping e uma lagoa verde esmeralda. O parque fecha às 18hs, e infelizmente passamos por ele na volta, e não conseguimos entrar. Bom motivo para voltar! Achar o Bahia Honda Key no meio de tanta ilha é fácil: ele fica um pouco depois da famosa Seven Mile Bridge, o próximo assunto.
O Little Duck e o Knight’s Key são separados por uma longa faixa de mar cristalino, sem opção para se cruzar e continuar caminho até Key West. Por isso, foi construída uma via férrea elevada em 1909, passando pelo minúsculo Pigeon’s Key. A linha desse trem operou até 1935, quando foi destruída por um furacão. Ela foi reconstituída e convertida para o tráfego de carro, mas outro furacão, em 1960, selou o fim dos dias de glória da ponte. Só em 1982, uma nova ponte, ao lado, foi construída traçando o caminho direto sobre o mar. Na época, suas 6,79 milhas de comprimento (ou 10,9 km) davam a ela o status de uma das mais longas do mundo. Hoje, grande parte da ponte antiga ainda está lá, mas só o primeiro trecho, até o Pigeon’s Key, está aberto para pedestre e bicicletas. E em um sábado de abril, a ponte nova é fechada por quase 3 horas para a Seven Mile Bridge Run.
A partir do Bahia Honda Key, a estrada começa a passar por uma série de ilhas menores, algumas com pequenas vilas de casas, e muitos desabitados. Aqui a área encerrada pelos corais e bancos de areia se alarga, e é o cenário ideal para quem quer ver a vida marinha. Aqui também existem várias reservas, como o National Key Deer Refuge e o Looe Key National Marine Sanctuary. Eu ainda não tinha feito meu curso de mergulho e não tinha me apaixonado por scuba diving. Mais um motivo para voltar.
Perto do quilômetro zero da US1, finalmente chegamos a Key West. A maior e mais civilizada ilha de todo o arquipélago te pega de cara pelo charme. Um clima colonial francês à la New Orleans na arquitetura chama atenção. A ilha foi por muito tempo um porto de cubanos refugiados, pois fica há apenas 90km de Havana (maior perto que de Miami). E já se meteu em muita briga com o resto do país por isso, até já fundou sua própria república. Ruas pequenas, gente vestida parcamente como se estivesse saído da praia a pouco, charretes e bicicletas, e um clima geral de relax. O buxixo todo acontece ao redor da Duval St., a partir do cruzamento com a Truman Ave. Restaurantes com mesas do lado de fora, lojinhas de souvenires inusitados, travestis montadíssimas e coloridas passeando na rua e nem confiança, tudo na maior paz.
A estrada foi cansativa, e a fome estava gritando, então acabamos correndo para o Mangoes, um restaurante grande e simpático, bem tradicional por lá, onde além dos giga-burgers, pudemos experimentar a tradicional Key-Lime Pie, uma torta de limão grande e pesadona, mas deliciosa. O dia já estava fugindo de nós, então tivemos que pular a praia e fomos direto para a ponta da ilha para assistir o magnífico pôr-do-sol no Fort Zachary Taylor State Park. Hora de pegar a estrada de volta, mas todos tínhamos uma certeza: na próxima visita a Key West, seria para ficar alguns dias e aproveitar tudo com calma.
Se você animou com o nosso roteiro, aqui vai um mini-guia para deixar tudo facinho para você se planejar:
O jeito mais fácil é mesmo ir de carro. A viagem a partir de Miami de 160 milhas (260km) demora no mínimo 3h30, mas a paisagem compensa. Dá para ir de ônibus, mas a maioria das companhia de turismo que fazem o trajeto tem um tour fechado de ida e volta. Se quiser ter mais liberdade, melhor escolher um shuttle. Outras opções são ir direto de avião, pois Key West tem o próprio aeroporto, com vôos diretos saindo de várias cidades na Flórida, além de Atlanta, Washington e Charlotte. Ou ainda, dá para pegar um ferry boat saindo de Fort Myers, no oeste do estado. A viagem também dura cerca de 3,5h e custa de 120 a 135 dólares ida e volta.
Em Key West o lema é mesmo relaxar. A ilha é pequena, fácil de circular mesmo a pé, e a ideia é ver o dia passar devagar. Essa atmosfera acabou atraindo alguns notáveis, que marcaram a história e o turismo locais. O escritor Ernest Hemingway viveu lá de 1931 a 1940, em uma casa colonial linda de 1851, que agora é um museu, e com a mobília original (como a mesa onde ele escreveu Por Quem os Sinos Dobram).
Depois da Segunda Guerra Mundial, o presidente americano Harry Truman se hospedou em um antigo quartel general da marinha por 175 dias e acabou tornado-o um anexo da Casa Branca. Lá já se hospedaram também Jimmy Carter, Eisenhower (se recuperando de um ataque cardíaco) e John Kennedy. O Truman Little White House Museum hoje tem visitas guiadas e uma exposição contando a história da casa. Quem quiser conhecer mais da cultura local, pode procurar o Key West Museum of Art & History, ou o Audubon House and Tropical Gardens, com um jardim botânico repleto de orquídeas e bromélias.
Se você quer mesmo é ir para a praia, o lugar para ir é Smathers Beach, ao sul da ilha. São 3,2km de areia branquinha e água cristalina, e ás vezes dá para ver os golfinhos brincando nos corais. Mais para oeste, já perto da Atlantic Boulevard, a Higgs Beach é onde os gays se reúnem. O Fort Zachary Taylor State Park também tem uma praia tranquila, cercada pelo parque preservado.
No fim do dia, muita gente vai para a Mallory Square para ver o pôr-do-sol e acaba esticando a noite, já que na praça atrai a turistada, e com eles os artistas, artesão e vendedores de rua. Durante o dia, é de lá que saem os cruzeiros para o Caribe.
Para quem gosta de vida marinha, um passeio obrigatório é visitar o Dry Tortugas National Park, em um grupo de sete ilhas bem isoladas, a 110km do pier de Key West. Nele você encontra o enorme e inacabado Fort Jefferson, e alguns dos corais mais preservados do país. Ótimo para fazer snorkeling e scuba.
O Louie’s Backyard fica em uma casa linda à beira-mar, e serve pratos com peixes e frutos do mar frescos, pescados no dia. A culinária é elaborada, mas o ambiente é descontraído. As sobremesas dizem que são sensacionais. É bom reservar. Mas se você quiser só alguns drinks, pode tentar um lugar no bar, que fica no afterdeck.
O Jimmy Buffett’s Margaritaville é o café-restaurante-bar cantor e compositor americano, conhecido justamente pela música Margaritaville. Sacou? Lá dá para comer bons frutos do mar, o conhecido cheeseburger in paradise, e ainda pegar algum show de banda ao vivo à noite. A casa ainda tem loja de souvenires.
Quando Hemingway vivia lá, ele frequentou muito um bar chamado Sloppy Joe’s. Construído em um antigo necrotério, tinha um ar sombrio, completo pelas paredes forradas de notas de dinheiro. Em 1938, o preço do aluguel da casa subiu, e a dona mudou o Sloppy Joe’s para a Duval St, que existe até hoje e é um bom lugar para comer, beber e curtir o agito. Mas se quiser visitar o bar original, procure por Captain Tony’s Saloon. O nome é outro mas o clima boêmio é o mesmo. Ah, se quiser ver o que está rolando, o site do Sloppy Joe’s tem webcams passando os show ao vivo.
Mas se quiser comer algo mais simples, e ainda quiser provar o gostinho da comida conch, vá ao Bien. Até bem recentemente se chamava Paseo. O nome mudou, mas a casinha rosada agradável, o atendimento simpático e os sanduíches para lambuzar os dedos continuam os mesmo. E todo mundo fala maravilhas do milho assado no fogo. Não perca.
Foto de destaque: Satélite Landsat 7 (GLCF/DLR)
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.