Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
‘Deus não dá asas para cobra’, diz o ditado. Mas o homem, sempre tão pernóstico, não se contenta com sua condição terrestre e está sempre desafiando a física – e a fisiologia – para chegar aonde não foi chamado. De Leonardo da Vinci e suas engenhocas até o mais recente e assustador lançamento de avião comercial na China, a humanidade está sempre tentando conquistar o céu, que não lhe pertence. Enquanto não chegamos lá, vivemos tentando chegar o mais perto das nuvens que conseguimos. Prédios cada vez mais altos, montanhas desafiadoras e mirantes mirabolantes… O homem quer sempre ver o mundo de cima, talvez para atestar sua suposta soberania, ou talvez para enfrentar sua verdadeira pequenez diante da natureza.
Agora parece que só estar lá, vendo tudo do alto, não é suficiente. Arquitetos e engenheiros estão botando os neurônios para fritar para que as pessoas façam coisas a muitos e muitos metros longe do chão. Para alguém como eu, que tem um pequeno pavor tolerável de altura, essas ideias só causam calafrios. Mas aposto que os destemidos vão se coçar para conhecer.
No finalzinho de setembro, o governo chinês anunciou, com o habitual histrionismo, a inauguração da mais longa e mais alta ponte com chão de vidro do mundo. Ela fica no Parque Geológico Nacional de Shiniuzhai, na província chinesa de Hunan, que serviu de cenário para algumas partes do filme Avatar. A ponte liga dois penhascos a 180m do fundo do desfiladeiro e tem 300m de comprimento. O piso é todo feito com placas de 24mm de vidro reforçado transparente, o que dá aos transeuntes a possibilidade de ver o penhasco da mesma forma que veriam se olhassem para baixo, por fora da ponte. A única novidade aqui, a meu ver, é o medo que você sente de atravessá-la.
E nem adianta me chamar de medroso. Menos de duas semanas depois, a ponte foi fechada porque um turista destrambelhado já tinha quebrado uma das placas com uma caneca de aço. Pelo menos, a ponte fez jus ao nome: Haohan Qiao, ou a ponte do homem corajoso, em chinês. E não pense que esse revés acalmou a obstinação dos chineses, pois eles já anunciaram que vão construir uma outra ainda mais alta e longa na região do Grand Canyon de Zhangjiajie. Tem gente que não aprende, não é?
Que Londres tenha virado a meca mundial dos bilionários não é novidade. O que mudou na capital britânica é a proliferação de projetos viajandões e nababescos que condizem pouco com o visual discreto e sisudo da cidade. Entre eles, um dos mais bizarros diferentes é o Nine Elms. O conjunto residencial fica ao lado da embaixada americana e é formado por dois blocos de 10 andares. Até aí, tudo bem, não fosse a piscina.
Quem quiser se refrescar ali no condomínio nos ‘muitos’ dias de sol londrinos, vai ter que se arriscar em uma caixa de vidro transparente a uns 40m do solo. Pelo que pude apurar, as explicações do incorporador e mentor dessa maluquice, Sean Mulryan, não são as mais convincentes: ele quer desafiar os limites da engenharia e da construção civil. Para a minha tecla SAP é pura excentricidade. Mas parece que a moda pegou, e os novos lançamentos de altíssimo luxo estão apostando em vários tipos de piscinas com vistas da cidade toda. Mas convenhamos, depois dessa história da ponte na China, eu passaria longe dessa piscina se tivesse acesso a ela.
O mais recente projeto mirabolante e que criou um certo bafafá no métier da arquitetura, a passarela que liga dois prédios na boca do porto de Copenhagem, Dinamarca, é um projeto do escritório Steven Holl Architects. Estava na prancheta já há oito anos, mas só agora teve finalmente o sinal verde para se tornar realidade. A loucura aqui é que a pista deveria funcionar como uma ciclovia pública, erguida a 65m de altura.
A explicação para o projeto é simples e objetiva: uma lei determina que nenhuma residência da cidade pode ficar a mais de 500m de algum ponto por onde passe algum tipo de transporte público. Assim, os moradores da torre, que fica na ponta do píer, teriam de dar a volta toda para chegar a um meio de transporte e andar por um trajeto de distância ‘ilegal’. E a altura da ciclovia é justificada pela tráfego intenso de navios transatlânticos no porto, que é o terceiro mais movimentado do mundo. Mas depois do frisson inicial, parece que a ideia mudou um pouco, e a passarela vai acabar servindo somente a pedestres, e apenas aos moradores. Pena! Essa eu teria encarado.
Imagem de destaque: © REUTERS/ STRINGER
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.