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Algumas cidades morrem se transformando em fantasmas. Quando fiz minha road-trip nos Estados Unidos, eu cacei por algumas, mas encontrei cidades bem pequenas e distantes do meu imaginário. Elas me trazem uma sensação do mundo ter caminhado para dentro do roteiro de Walking Dead. E cidades abandonadas não faltam, algumas são assustadoras e cercadas de histórias das mais diversas. Só nos Estados Unidos são cerca de 6.000 cidades fantasmas e é difícil escolher as mais incríveis. Escolhi as que me chamaram a atenção (e não consegui ver a lista de 6.000, né?). Mas além das cidades americanas, há várias outras e com histórias tão incríveis quanto, ao redor do mundo. A lista não tem a intenção de afirmar que são as cidades fantasmas mais incríveis, mas foram as que se revelaram para mim na minha pesquisa.
Tombstone, fundada em 1878 no Arizona, é a típica cidade do velho-oeste de filmes americanos e ótimo cenário para séries como Walking Dead. A cidade teve um dos primeiros campos de mineração dos Estados Unidos e chegou a ter uma população de mais de 15.000 habitantes. Tombstone sofreu dois incêndios grandes, mas na época se recuperou de ambos. Não à toa, a cidade ganhou o lema “The Town too Tough to Die”. Nos dias atuais, a cidade “renasceu” por conta do turismo e vive dele. Hotéis não faltam, atrações também não. Tá tudo lá, intacto. Se for passear pelo Arizona, não deixe de incluí-la na lista, até cowboy por lá tem.
Essa tem uma história um tanto triste. Oradou-sur-Glane ficou famosa por ter abrigado um dos maiores massacres cometidos pelos soldados nazistas da Waffen-SS, na Segunda Guerra Mundial. Em 1944 foram 642 residentes (apenas 6 habitantes escaparam) assassinados em punição à resistência francesa, entre eles 452 mulheres e crianças queimadas vivas pelas tropas da SS.
As ruínas do vilarejo foram mantidas em homenagem aos mortos num memorial e uma nova cidade, levando o mesmo nome, foi construída nos arredores da velha cidade. Em 2007 a cidade contava com pouco mais de 2.000 habitantes. Oradour-sur-Glane fica a 400km ao sul de Paris.
Melhor do que uma cidade fantasma que foi abandonada, é uma que nunca foi sequer habitada. Assim é Kilamba, colocada em pé em menos de 3 anos pelo ditador José Eduardo dos Santos, com investimento chinês. O projeto previa abrigar meio milhão de habitantes no final. A primeira fase entregou 115 edifícios, totalizando 2.800 apartamentos, dos quais apenas 220 foram vendidos e nem todos ocupados. O projeto previa construção de 750 edifícios com internet e ar-condicionado, 24 creches, escolas primárias e secundárias, além de 50km de vias de acesso, mas gente praticamente não tem. Os apartamentos custam entre US$120 e 200 mil dólares, inacessíveis para a maior parte da população angolana. Virou um elefante branco. Recentemente o governo afirmou que a segunda fase vai rolar, enquanto na contramão foram desabrigadas 100 famílias que ocuparam apartamentos ilegalmente.
Conhecida também como Gunkanshima, é uma das 505 ilhas não habitadas da província de Nagasaki. A ilha Hashima foi habitada entre 1887 e 1974, época em que era uma base de extração de carvão. Em 1890 a ilha foi comprada pela Mitsubishi para extração de carvão em minas submarinas. Em 1959, a população chegou a 5.259 habitantes, porém começou a entrar em decadência após a década de 60, quando o petróleo começou a substituir o carvão. Em 1974 foi completamente abandonada, quando a Mitsubishi encerrou suas atividades na ilha, deixando-a conhecida como “Ilha Fantasma”.
A partir de 2005 a ilha passou a ser administrada por Nagasaki. Em 2008, um pequeno trecho da ilha foi reaberto para turismo e em 2013, o Google fez uma expedição na ilha para registrar imagens panorâmicas em 360º para o Street View. Vai para Tokyo? Coloca ela na lista.
Essa cidade nasceu no meio do deserto em 1908, quando mineiros alemães foram para lá em busca de diamantes, que chegavam a serem encontrados expostos na superfície da areia. Começou então a corrida por diamantes e a cidade se formou, durando 40 anos, quando as jazidas se esgotaram. Em 1954, a cidade já estava completamente abandonada e aos poucos foi sendo engolida pelas areias do deserto.
Essa é com certeza uma das mais famosas. Ela fica próxima a Chernobyl e sua evacuação se deu devido ao grande desastre nuclear ocorrido na região há 28 anos. No dia do acidente, a cidade foi evacuada e ficou intacta desde então. Na época a cidade tinha cerca de 50.000 habitantes e um parque de diversões prestes a ser inaugurado, mas que nunca foi usado. É com certeza uma das cidades fantasma mais assustadoras e fascinantes da história:
Nossa América Latina conta também com cidades fantasmas. Uma delas está no Chile, onde milhares de pessoas viveram e trabalharam por mais de 60 anos, processando o maior deposito de nitrato de potássio. Humberstone, fundada em 1862, já chegou a servir de campo de concentração do governo Pinochet. Hoje tem pouco mais de 250 habitantes em meio a construções vazias e ruínas. As fábricas abandonadas foram consideradas Patrimônio Mundial pela Unesco, em 2005.
Bodie é um importante local turístico na região de Serra Nevada. A história da cidade começou em 1859, quando o garimpeiro W.S. Bodey encontrou algumas pepitas de ouro ao sul da Califórnia. Ele morreu numa tempestade de neve e a cidade acabou herdando seu nome, quando 20 anos depois a Standard Company decidiu instalar uma sede por lá. Nessa época, a cidade chegou a ter 10.000 habitantes, porém a fortuna não durou muito e a cidade foi abandonada. Restam hoje uns 5% apenas de suas construções, algumas intactas, que recebem os turistas em suas visitas ao local. Quem for para lá, não deixe de visitar também o Parque Nacional de Zion, a poucos quilômetros de distância.
Não dá para falar de cidades fantasmas e não mencionar nossa brasileira Fordlândia, na Amazônia. A história da cidade começa quando Henry Ford compra um terreno de 15.000km2 às margens do Rio Tapajós, no Pará, no auge do ciclo da borracha. Na época em que foi construída, Fordlândia foi uma das cidades mais desenvolvidas do Norte do Brasil, chegando a ter 5.000 habitantes incluindo uma escola que ensinava inglês, hospital e até cinema. Tentaram impor a cultura americana, mas não deu muito certo. Em 1945, com o surgimento da borracha sintética, a cidade deixou de ter sua razão de existir, já sob comando de Henry Ford II. Para quem quiser saber mais sobre a história de Fordlândia, assista a esse documentário disponível na íntegra.
A cidade murada de Kowloon era um distrito fora da lei de Hong Kong e por muito tempo foi o lugar com a maior densidade populacional do planeta. A cidade murada, que outrora tinha sido uma fortaleza militar, tinha 14.000 habitantes em 1981 saltando para 33.000 em 1987, vivendo num espaço médio de 0,03km2. Kowloon era tomada pela prostituição e tráfico de drogas. Os prédios foram sendo construídos sem qualquer planejamento e famílias moravam em média em apartamentos de 23m2, tendo sido considerada a maior favela vertical da história.
Em 1987, o governo de Hong Kong anunciou seus planos de demolição da cidade, que só começou em março de 1993 levando um ano para ser concluída. Foram gastos cerca de US$ 350 milhões para compensar os despejados. Em 1995 foi inaugurado o Kowloon Walled City Park, preservando algumas construções da velha cidade murada. Aqui tem um relato bem bacana de um cara que conta a experiência que o pai dele teve ao morar 14 anos nessa cidade. Diferentemente das demais, Kowloon Walled City foi uma cidade fantasma somente durante a sua demolição, mas acho a história do lugar tão surreal, que resolvi inclui-la na lista.
*Foto destaque: The Visual Explorer – shutterstock.com
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsBom dia,
Sobre a Cidade do Kilamba vocês deviam refazer a reportagem pois neste momento vivem mais de 90 mil pessoas.
É só checarem nas mais variadas paginas dedicadas as Cidade do Kilamba que proloferem pelo Facebook.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.