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Visitar Abadiânia não tem muito mistério. Tem gente que vem do mundo todo que atravessa o globo até a minúscula vila no interior de Goiás sem falar português, então não pode ser tão difícil, não é? Realmente, dificuldade não tem. Mas num lugar tão concorrido e com infra-estrutura tão precária, um empurrãozinho não faz mal nenhum. Semana passada eu contei como foi a minha experiência na cidade do João de Deus. Hoje eu dou o roteiro completo para ajudar quem quer ir a se preparar para esse encontro tão poderoso.
Abadiânia é um vilarejo de apenas 15 mil habitantes, cortado pela BR 060. O lado norte da estrada é formado basicamente por algumas casas, pouco comércio e todas as pousadas que recebem os visitantes, e também onde fica a Casa Dom Inácio de Loyola. Se você for visitar a cidade, a chance é muito grande de que você fique apenas por lá e nunca sequer veja o outro lado. Com uma estrutura tão precária, obviamente que muitas das coisas que você vai fazer tem que ser paga com dinheiro. Exceto dentro da Casa, os estabelecimentos na maioria não tem maquininha de cartão, e não tem nenhum caixa eletrônico por perto. Se o dinheiro acabar, tem agência bancária do outro lado da rodovia, só prepare-se para uma caminhada de uns 20 minutos.
Dentro da casa, é recomendado usar roupas brancas ou bem claras, então é bem comum você ver grupos de gente parecendo em festa de ano novo por todos os lados. No meio do Cerrado, o clima é bem seco e faz muito calor quase o ano inteiro, então o branco é até uma boa opção. Mas se você não tiver roupas adequadas, não precisa correr para a primeira loja de médico para se equipar. Eu peguei um dos raros dias frios por lá e todo mundo jogou um casaco qualquer por cima, e ninguém vai te olhar feio se você for todo colorido.
Os trabalhos do João de Deus acontecem sempre às quartas, quinta e sextas, apesar de a Casa estar aberta todos os dias. Então a cidade sempre enche a partir de terça e no sábado esvazia. Nos resto do tempo, quem fica por lá participa de orações e massagens. A Casa também não fecha para feriados (nem Natal), mas é sempre bom verificar antes a agenda do médium antes de ir, porque ele só não trabalha quando está em viagem pelo mundo. Todas as informações sobre ele estão no site oficial da Casa.
A cidade fica bem no meio do caminho entre Brasília e Goiânia, então as duas podem ser usadas como ponto de chegada. Dos aeroportos, dá para lugar um carro ou pedir um transfer, que as pousadas oferecem. A viagem dura um pouco mais de uma hora. De Brasília, o transfer geralmente custa R$200 por carro, e de Goiânia um pouco mais barato, R$160. O mesmo vale para a volta. Para ir de ônibus, o único jeito é pegar passagem para Anápolis (tanto de Brasília quanto Goiânia) e de lá pegar um taxi até Abadiânia. Como fica só a 37km, sai mais barato. Mas dá tanto trabalho e demora tanto que se você tiver alguém para dividir o transfer, já não vale a pena.
Lá dentro da cidade, você vai fazer praticamente tudo a pé. Quem tem mobilidade reduzida, pode pegar o taxi para ir da pousada até a Casa. Os taxistas não ligam o taxímetro, e o trajeto custa sempre R$10, não importa quão longe. Existem vários pela cidade, e todas as pousadas podem dar o telefone deles. Se estiver de carro, tem um estacionamento grande e gratuito em frente à Casa, mesmo tendo lugar para parar em qualquer lugar na rua.
O interesse pela cidade ao redor do mundo cresce a cada dia, e isso se percebe na quantidade de pousadas sendo construídas ali. Mesmo assim, a demanda ainda é mais alta que a oferta, então para conseguir lugar é bom se programar pelo menos 2 meses antes. Todas as pousadas são muito simples, e não existe nenhum hotel que ofereça algum luxo a mais (quem quer mais conforto deve procurar hotéis nas cidades próximas, como Pirenópolis). O preço médio do quarto na cidade é de R$70 a R$120 a diárias, com café da manhã incluso. Algumas indicações de pousadas: Pousada Irmão Sol Irmã Lua e Pousada Namastê, que são dos mesmos donos dividem um ótimo buffet para as refeições; Pousada Santa Rita, muito bem recomendada e tem wi-fi (apesar que lá é um lugar para desconectar); Pousada Santa Clara, novinha em folha e bem confortável.
Por ali as opções são bem reduzidas, mas ninguém passa fome e os preços são bem convidativos. O café da manhã todo mundo toma muito cedo para chegar logo à Casa, então os estabelecimentos geralmente ainda estão fechados. Por isso, a escolha da pousada tem que ser cautelosa para garantir um bom desjejum.
Na hora do almoço, a Casa para os trabalhos – geralmente entre 12 e 14h – e é nessa hora que eles servem a sopa. A sopa é gratuita, servida para todo mundo que quiser, e quem puder ajudar a servir também é bem vindo. Dizem que ela também é medicinal e ajuda no tratamento, mas ninguém é obrigado a comê-la. Tem gente que come mais de um prato e já está alimentado. Eu comi só um e corri para um almoço com mais sustância (apesar que a sopa estava bem gostosa).
Se quiser comer mais, a maioria dos lugares fica na Av. Frontal, a mesma da Casa. Uma boa opção durante o dia é o Frutti’s. A lanchonete colorida e animada tem mesinhas na rua e um jardim no fundo. Eles servem comidinhas leves como quiches, tortas e sanduíches em 3 pães diferentes. Eles também tem opções vegetarianas e veganas, além de muitos doces para todo tipo de dieta. O ponto alto são os sucos, com misturas elaboradas, e o mural que tem recados de todos os tipos: de aulas de yoga e canto a gente que quer dividir o taxi de volta.
Por perto também fica o Alquimia, um lugar grande, com música ao vivo e um buffet de comida caseira grande. Outra opção, um pouco mais afastada, mas bem gostosa é o Alecrim, que tem um prato do dia com muitas porções pequenas variadas e bem gostosas, e sobremesas deliciosas com opções sem açúcar, glúten ou lactose.
À noite, a cidade inteira dorme cedo, então se quiser jantar fora da pousada, se programe até às 10. E esqueça qualquer bebida alcoólica. Nós acabamos comendo uma pizza bem gostosa feita com ingredientes da horta deles – e barata! – na Cantina Zen, e ainda ganhamos uma divertida cantoria de roda do Rei Salomão. E um lugar que recomendaram bastante é o Café Central, tocado pela voluntária irlandesa da Casa Grainne e seu marido, que preparam cada prato quando são pedidos e ainda deixam mensagens fofas nas lousas do lado de fora.
A Casa fica no final da Av. Frontal, e é na verdade um complexo de construções, todas muito simples e pintadas de azul e branco, com jardins bem cuidados entre elas. Quando chegar, logo cedo pela manhã, os portões já estão abertos e pode ir entrando. A primeira coisa que todo mundo tem que fazer é ir até a lojinha para pegar a senha, que na verdade nem é uma senha, e sim um cartãozinho colorido que diz que fila você tem que pegar: primeira vez, segunda vez, ou revisão. Primeira vez é, óbvio, todo mundo que nunca foi. Segunda vez é quem já esteve lá quantas vezes forem, ou quem já teve a foto apresentada para a Entidade. E revisão é para quem passou por uma cirurgia espiritual e está voltando.
O ideal é chegar lá bem cedo, antes das 8h. Quem chega depois, vai pegar a fila na segunda leva, que acontece no fim da manhã. Por volta das 7h30, entram os voluntários da corrente: gente que vai lá para meditar e ajudar a vibrar energia suficiente para a Entidade ficar incorporada. Depois, começam as filas, começando geralmente pelos retornos. Enquanto espera, você pode circular a vontade, só tem que ficar de olho para quando anunciarem sua fila. Dizem que desde que você entrou pelo portão da casa você já está em tratamento. Por isso eles pedem para você esperar sem falar alto ou fazer bagunça. Também é bom manter os chakras abertos, então você deve evitar cruzar os braços e pernas, e bolsas cruzadas no peito. Parece que essas coisas travam as energias do corpo.
Todos os anúncios são feitos em português, inglês, francês e alemão. Quando chegar a tua, é só entrar nela e seguir o caminho de todo mundo. Você passa pela corrente e no final encontra com o médium. Aí você faz o que a intuição (ou o coração mandar): pode falar com ele, pedir o que procura, ou esperar ele falar com você. Pode acontecer se simplesmente não acontecer nada! Mas você vai saber o que fazer ou não. Depois disso, alguém vai te dar todas as explicações que você precisa sobre se e quando voltar, dietas, receitas de remédio, etc.
Pode acontecer de você ser chamado para voltar à tarde, ou outro dia, ou para uma cirurgia. Ou para ir para a cachoeira, que é todo um outro ritual. Por isso é bom sempre reservar uns 2 dias para ficar na cidade. Às 2 da tarde, os trabalhos começam de novo, e todo o processo se repete até o fim do dia. Se você não tiver que voltar, ou passar logo no começo, o resto da tarde você fica livre para descansar. Inclusive, se você passar por cirurgia, o repouso é obrigatório. Senão, você pode passear a pé ou de bicicleta, tomar um banho de cristal – agendado na lojinha – ou fazer uma massagem. Na avenida existem várias casas oferecendo massagem, sendo duas delas homologadas pela Casa. Eu fiz uma massagem beeeem dolorida, do jeito que eu gosto, por R$80. Achei bem justo. O banho de cristal custa R$20.
À tarde também é o momento em que quem passou pela Entidade de manhã passa de novo para levar fotos de pessoas que não puderam ir. As pessoas das fotos também tem que pegar senha, são tratadas, ganham receita de remédio, tudo aquilo. Tem uma casa na avenida que imprime fotos se você lembrar de última hora, e custa R$3. Eles também tem acesso à internet por hora, mas o 3G lá pega bastante bem. Se você não quiser levar foto de ninguém, mas quiser ajudar pessoas que precisem, você pode deixar em urnas e nos triângulos o nome, endereço e data de nascimento delas em um papel. Essas mensagens depois vão para serem vibradas pela corrente. Pode deixar a família toda lá se quiser, mas é melhor guardar essa energia para quem precisa mesmo.
Quase todo mundo que passa pela Entidade sai de lá com um remedinho para tomar, que nada mais é que passiflora, mas que supostamente recebe uma energização específica. Custa R$60 dois potinhos com cápsulas para mais de 2 meses. Também tem muita gente que leva a água fluidificada (emantada). Custa R$2 a garrafinha de 500ml, e R$3 a de 1,5L. É água e nada mais. Mas, como toda a experiência, o efeito vai depender do quanto você acredita. Lendo assim, parece tudo um grande teatro espiritual. Mas uma vez que você está lá, vê aquelas pessoas, ouve suas histórias, difícil não acreditar pelo menos um pouquinho. Eu, pelo menos, estou aqui fazendo meu tratamento e esperando o melhor acontecer.
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsParabéns pelo texto bem esclarecedor!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.