Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Viajar em tempos de redes sociais e hiperconectividade pode facilmente se transformar numa cilada, especialmente para uma geração de ansiosos como a nossa. É uma faca de dois legumes, como diria um tio meu. É incrível porque você já vai sabendo quais são todas as melhores coisas para se fazer, e pode ser uma bosta exatamente por conta disso.
A situação se agrava no fim do ano, quando todo mundo que é alguém se joga em alguma praia paradisíaca “para relaxar”. Um retiro espiritual coletivo, todos recarregando as energias e instagramizando como se não houvesse amanhã. Tudo lindo, tudo ótimo, eu super participo – não fosse o fato de que o objetivo de uma viagem como essa – descansar – não condiz com a nossa mania contemporânea de aproveitar cada segundo/conhecer todas as quebradas/fazer todos os melhores passeios. Acaba que no fim das contas você precisa tirar as famosas “férias das férias”, porque chegou mais cansado do que foi.
Estou aqui de mimimi mas nem sei se tenho a solução pra essa equação complicada. Desta vez me entreguei à programação intensa das minhas amigas (com direito a mudança de figurino no banheiro do “Shopping” de Boipeba, pra não perder nem um segundo de festa depois de um dia inteiro de passeio de lancha), mas confesso que quando viajo sozinha tento equilibrar mais. Ano passado (quero dizer, retrasado!), por exemplo, fiz um roteiro que era uma semana de balada-balada-balada na Inglaterra e depois uma semana de pé pra cima e reclusão na Costa Amalfitana. Reclusão mesmo, tipo ignorar investidas de boys italianos em pró da leitura.
Na real, tudo isso se resume ao nosso bom e velho amigo FOMO, ou Fear Of Missing Out, também conhecido como FONCU, ou Fogo No CU. Essa afliçãozinha de “perder” algum programa que todo mundo já fez e certamente vai comentar depois é uma das coisas mais escrotas da vida, e eu já sofri demais disso.
Meu primeiro mochilão, com 19 anos, foi um marco na minha relação com essa “doença”. Lá pelas tantas, depois de gastar muito dinheiro e tempo com atrações “tem que ir”, tipo a Torre Eiffel, que eu sinceramente teria me contentado em admirar apenas do chão, chegamos – eu e mais três amigos – em Amsterdã. “Tem que ir no Van Gogh!”, “Museu da Heineken!”. Fomos colocar tudo isso num cronograma, mediante algumas cervejas e um bom béqui, e acabamos não resolvendo nada e indo parar num club com o pessoal do albergue. No dia seguinte acordamos e fomos para um parque. Quando o FONCU começou a pegar e alguém mencionou que estava na hora de ir para um museu, um dos quatro, não me lembro quem foi, perguntou se essa seria a única vez que visitaríamos Amsterdã. “Espero que não”, foi a minha resposta. Naquele momento decidimos que os nossos quatro diazinhos na cidade seriam passados do jeito que estávamos – vagando chapados. Era isso que queríamos, foi isso que fizemos. Mas como é difícil admitir! (E depois lidar com a cara de choque e horror das pesoas quando você diz que não, não foi ao Van Gogh).
A boa notícia é que passa com a idade, amiguinhos. Não porque você vai ficar velho e preguiçoso, mas porque quanto mais você vive e se conhece, mais você sabe o que te agrada, e menos tempo você perde fazendo coisas imperdíveis que não têm nada a ver com você, ou que você simplesmente não está com saco de fazer naquele momento.
É um exercício difícil, mas necessário – lembrar que quem manda na viagem é você, o seu corpo, as suas necessidades naquele momento. As piscinas de Moreré estarão lá no ano que vem caso você queira voltar, o polvo na chapa pode ser comido em outras localidades e festa tem todo dia. O que não tem no Rio é o céu da Bahia, a água do mar morna da Bahia, a brisa da Bahia, o ritmo da Bahia.
Daí a pergunta que não quer calar: “Mas e aí, relaxou?”
Aos trancos e barrancos, relaxei. Mas ainda estou colocando o sono em dia.
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Esse texto foi originalmente publicado pela Luiza Vilela, da NOO, parceiro de conteúdo do Chicken or Pasta
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.