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Ao contrário de célebre irmã chinesa, a Japantown de São Francisco é tão discreta que se você passar pelos quarteirões entre a Sutter, a Geary, a Laguna e a Fillmore sem procurar direito, vai acabar não vendo o bairro. Mas essa foi a primeira área ocupada por japoneses nos EUA, totalmente derrubada e refeita em nome da reurbanização na década de 1960, o que descaracterizou a área para sempre. Mas Japantown ainda guarda detalhes japoneses e muita história.
Um bom lugar para começar a conhecer a história de Japantown é Benkyodo, na esquina da Sutter com a Buchanan, bem na frente do Kimpton Buchanan Hotel. O Benkyodo é o comércio mais antigo de Japantown, aberto em 1906, e é sobrevivente da realocação forçada das famílias japonesas logo após a Segunda Guerra Mundial. Desde os anos 1990 quem toca o negócio são os netos do fundador original.
Esse pequeno café serve os melhores mochi da cidade: bolinhas de massa de arroz com recheios suculentos como blueberry (meu preferido, sazonal), morango (o mais vendido, que não para na vitrine) e sabores como chá verde e red beans. Uma boa xícara de café no melhor estilo dinner acompanha. Dica: os donos são muito simpáticos e adoram conversar sobre a região, portanto não se intimide. É cash only e só fica aberto até 17h.
Uma coisa que descobri totalmente por acaso em Japantown, são as placas comemorativas do Japantown History Walk. Algumas ficam escondidas atrás de plantas ou postes. Acabou sendo a melhor forma de conhecer a história do bairro, já que não há muito na internet além de dicas de casas de ramen e karaokê. Mesmo assim, interessados na história de Japantown vão encontrar um bom resumo no site da comunidade local.
O History Walk é um self guided tour com 16 paradas que começa na Peace Pagoda e acaba no Kintetsu Building. Você não vai precisar de mais de uma hora para fazer essa walking tour, mas considere mais tempo se quiser parar para fotos ou entrar nos lugares. O Uoki Saki Market, terceira parada, marca uma das primeiras lojas familiares do bairro. A Benkyodo também tem uma placa própria.
Outras paradas lembram a realocação forçada das famílias japonesas após o ataque a Pearl Harbour. Muitas nunca voltaram para São Francisco após o fim da guerra, e as que voltaram encontraram suas casas e comércios ocupados por outras pessoas. Quem decidiu ficar teve a dura missão de reconstruir e manter suas tradições, mesmo quando o bairro inteiro foi demolido em nome da modernização – ganhando a cara de shopping center que tem hoje.
É normal que muita gente em São Francisco torça o nariz para Japantown dizendo que “são só shopping malls“. Mas os dois grandes centros de compra (divididos em east e west, saem do Peace Pagoda) da área merecem uma exploração cuidadosa.
Lá dentro você vai achar não só restaurantes japoneses de todos os tipos (incluindo caça-turistas) mas também as lojas de roupas, papelaria e presentes que a comunidade usa. Pense no bairro paulistano da Liberdade sem as quinquilharias chinesas e com bem menos muvuca.
A enorme livraria Kinokunyia, de uma rede japonesa, é uma das mais legais para quem curte temas asiáticos: de religião a arquitetura, de gastronomia a cosplay, a seleção deles tem de tudo, incluindo brinquedos irresistíveis e artigos maravilhosos de papelaria. A Daikoku é graciosa loja de cerâmica com artigos de chá que vai te transportar direto para o Japão. Fora do mall, do outro lado a rua, a Soko (nome japonês de São Francisco) tem lanternas de papel, kites em forma de dragão, artigos para casa e outras lindezas importadas do Japão – mas cuidado, não é barato.
Para o almoço, desça a rua em direção ao Nijiya Market e não se assuste com a fila na porta. É um mercado japonês e explorando as prateleiras você vai achar todos os tipos de snacks, chás, temperos e afins. Mas é hora do almoço, então aposte nas pequenas bandejas de comida (os sashimis são frescos e ótimos!), pegue algo para beber, e vá comer na sombra do Peace Pagoda.
Outro local incrível para compras é a New People, uma de vidro e concreto homenagem ao Japão moderno. São três andares na Post St, com vitrines lindas. Pense numa Urban Outfitters nipônica em São Francisco: roupas e peças de arte modernas e tradicionais, sempre bem selecionadas.
No subsolo você encontra a Crown and Crumpet Tea Shop, uma casa de chá over-decorada com muitas flores, tons pastéis, cupcakes elaborados e louças que fariam uma vovó britânica morrer de inveja. Também é aqui que fica um dos dois cinemas de Japantown: o New People Cinema tem uma programação dedicada principalmente ao cinema asiático. Acompanhe a agenda aqui.
Quando for hora de descansar a cabeça, caminhe até a Konko Church, uma igreja que pratica o “konko”, uma religião japonesa que (para simplificar) venera a energia universal e incentiva práticas de meditação com “a luz dourada do universo”. Seja você praticante ou não de meditação, aqui é um local de paz e simplicidade.
Cada foodie de São Francisco tem sua casa de noodles preferida em Japantown. Não teremos tempo de experimentar todos numa vida só, mas de acordo com essa lista do Thrillist os melhores são o sashu ramen no Tampopo, o tonkatsu ramen no Raraku e o beef udon do Mugizo – esse último eu experimentei e só de escrever o nome deu fome.
Com a barriga cheia (e se a companhia animar) é hora de partir para a outra diversão tradicional de Japantown: karaokê. Mesmo pequeno, o bairro tem vários bares com cabines privadas ou palco aberto. O Playground e o Festa são duas das escolhas mais famosas. Como não fui em nenhum, só posso te recomendar listas de “melhores bares de karaoke em Japantown” como essa aqui, no Yelp. Cervejas em lata ou drinks como saketini e sake bombs garantem a ressaca do dia seguinte, mas também há bares alcohol-free para menores de 21 anos.
Com a cara cheia de saquê, atravesse a rua e passe a noite no Kimpton Buchanan, um hotel boutique totalmente renovado que manteve os detalhes nipônicos da área na decoração: pense muito branco, linhas retas e gravuras japonesas. O Buchanan é super estiloso e arrasa nos mimos tipo yoga mat no quarto e empréstimo de bicicleta.
No café-da-manhã: café, tortas e mochi frescos no Benkyodo. Vale comprar em caixinhas para levar junto, eles duram até três dias na geladeira!
Gaía Passarelli é paulistana de nascença, autora do livro "Mas Voce Vai Sozinha?"(Globo, 2016) e do blog How to Travel Light. Encontre-a em gaiapassarelli.com
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.