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Por muitos e muitos anos eu sonhei em ver a aurora boreal, algo não tão simples para nós, já que exige viagens ao extremo norte do planeta, preferencialmente acima do Círculo Polar Ártico.
No meu imaginário, a aurora eram luzes verdes e rosas intensas que dançavam loucamente no céu. Passei muito tempo contemplando fotos e vídeos enquanto planejava o meu momento de presenciar tal fenômeno. Finalmente a minha vez chegou no início desse ano, quando decidi que iria caçar aurora boreal na Islândia.
Essa história eu já contei aqui, mas nunca falei muito sobre a relação entre o que geralmente vemos nas fotos e vídeos, criando um imaginário muito próprio, e o que de fato vemos ao vivo na maioria das vezes. A minha primeira aurora boreal surgiu timidamente no céu. Eu quase tive que espremer os olhos para enxergar as luzes verdes dançando no céu. Houve apenas um momento em que um risco no céu ficou bem verde, deixando-a mais nítida. Nesse dia, o rosa não apareceu. Fiquei feliz e desapontada ao mesmo tempo. Era isso? Sei que há auroras e auroras, mas eu veria algo mais próximo à minha imaginação do que tinha acabado de ver?
E lá estávamos nós no quintal dos fundos do Ion Hotel olhando para o céu e virando a cabeça como um ventilador ligado, já que ela às vezes sumia e surgia do outro lado. Para fotografar uma aurora boreal é necessária exposição longa, afinal você estará totalmente imerso na escuridão e a única luz (provável) será a da própria aurora. O resultado, geralmente, vai ser melhor do que o que você vê a olho nu.
Calma lá, isso não tira a magia da aurora boreal, mas para vê-la com cores tão intensas como vemos nas fotos, você precisará ter mais sorte do que já precisa para simplesmente vê-la. Como falei, a nossa primeira foram rastros verdes leitosos (bem claro) dançando lentamente. A dança é mais ou menos o movimento de uma cortina abrindo-se lentamente. Ela não fica parada.
Na época eu conversei com uma amiga, que mora num dos melhores lugares do mundo para ver Aurora Boreal, Tromsø, no norte da Noruega. Ela concordou comigo quando perguntei se geralmente a aurora que ela via era mais bonita na foto. Ela acabou também perguntando ao marido se ele concordava com isso, já que ele trabalha como guia local, levando as pessoas para assistirem ao fenômeno, e fotografa auroras boreais. A resposta dele foi que a cada 50 dias ele vê um céu mais bonito do que revelado na foto.
Continuamos os dias seguintes consultando a previsão de aurora para ver se ela aparecia novamente. Aparentemente ela tinha debandado e eu já estava me conformando que a primeira seria a única naquela viagem. Ledo engano! Estávamos na estrada à noite, no meio do nada, quando eu resolvi consultar a previsão. Soltei um grito, pois na previsão constava alta – nível 8 na tabela (a medida usada é o index kp), o que significa que ela estaria muuuitoooo mais aparente que na primeira, quando a previsão no dia era baixa – nível 1. Ou seja, nadica mesmo. A gente teve até sorte de ter visto algo no primeiro dia.
Enfiei a cabeça na janela do carro e não me decepcionei. Lá estavam auroras verdes, avermelhadas, amarelas, rosas bailando e preenchendo a escuridão do céu. Foi inacreditável, tanto que eu chorei. Procuramos um lugar para estacionar o carro, onde ficamos aproximadamente 15 minutos gritando “oooooooh” e olhando para todos os lados. Foi uma loucura, que depois entendi que era uma “tempestade de aurora boreal” (sempre que . Ficamos todos tão estupefatos que desencanamos das câmeras e não tiramos fotos. E então, o céu voltou a ficar negro sem deixar qualquer resquício do que tínhamos acabado de assistir.
Paramos novamente depois de alguns quilômetros, mas ela tinha dado uma acalmada. Ainda assim era possível vê-la em 3 cores: verde (leitoso, sempre leitoso), amarelo quase verde e o rosa. Voamos com o carro para a Vík e ela foi nos acompanhando até a hora de dormir: ela estava presente no céu acima do hotel, menos intensa, já que estávamos numa cidade, ou seja, tínhamos interferência das luzes de postes, casas, comércio. Fomos jantar andando com a cabeça virada para cima, comemos mais rápido do que poderíamos comer, compramos mini-garrafas de vinho e fomos procurar um lugar com o mínimo de luz possível para poder vê-la melhor. Acabamos na praia de areia negra de Vík, num frio do cão, e ficamos lá esperando que ela voltasse na mesma intensidade de luzes que tínhamos visto na estrada. Não aconteceu, não da mesma maneira. As luzes estavam bem mais intensas do que o primeiro dia, mas só enxergávamos o verde.
Por volta da meia-noite ela começou a desaparecer, fazendo a gente retornar para o hotel. Claro que depois disso, estávamos bem felizes, pois a que vimos na estrada era muito mais próxima à que vemos em fotos e vídeos. Ainda tivemos sorte, pois vimos a aurora boreal no nosso penúltimo dia quando saíamos da Blue Lagoon. Dessa vez foi nosso motorista atento que deu o toque, parou e deixou a gente contemplar um pouquinho.
A Aurora Boreal acontece em função do contato dos ventos solares com o campo magnético da Terra. Não acho muito simples explica-la, em especial porque física está bem longe de ser o meu forte, então busquei por uma explicação para leigos no assunto:
“Tem um monte de explicações físicas por trás da coisa, mas vou tentar explicar brevemente. Tudo começa com uma explosão na superfície do Sol, capaz de mandar um pouco de partículas pelo espaço. São os ventos solares. Se eles rumarem na direção da Terra, vão acabar sendo refletidos pelo nosso campo magnético. Só que tem uma parte dessa energia que acaba sendo canalizada para os polos do planeta e acabam invadindo a atmosfera.
Ao entrar em contato com o ar, essa radiação sofre uma mudança de direção. Em vez de ir exatamente para o polo norte e para o polo sul magnético, ela se espalha por uma região meio ovalada que fica EM VOLTA dos polos (o cinturão de Aurora). O contato dos ventos solares com os gases da atmosfera libera as diversas cores que vemos na Aurora: verde pelo contato com o oxigênio, vermelho quando reage com o nitrogênio e azul por culpa do hidrogênio. – texto publicado no blog Andarilhos do Mundo“
Cidades não são os melhores lugares para vê-la, já que o ideal é lugar escuro e alto. Em Reykjavik, por exemplo, não é tão simples vê-la, a não ser que realmente ela esteja muito intensa, afinal a cidade é bem iluminada. Você percebe os rastros verdes no céu, mas numa intensidade muito baixa. Vê-la por lá na cor vermelha a olho nu, é mais difícil ainda. Se tiver chovendo, esqueça, não tem como ver.
Eu sempre falo para todos: coloquem “caçar aurora boreal” na lista “o que fazer antes de morrer”. Nessa temporada em que fomos para a Islândia era um ano de pico, o que aumenta a probabilidade de dar de cara com uma aurora. Há um pico que ocorre a cada 11 anos, o último foi a temporada 2013/2014.
A temporada 2014/2015 de aurora boreal já chegou, inclusive já deu as caras várias vezes no norte do Planeta com imagens lindíssimas das auroras se misturando à última erupção de vulcão que rolou na Islândia:
A aurora boreal costuma das as caras entre agosto e abril, porém os meses de equinócio, setembro e março, são os melhores. Eu vi em março. Os horários de pico costumam ser entre 23 e 2 da manhã, mas a tempestade que vi rolou às 20h, ou seja, não tem muita regra. O que vale é sempre conferir as previsões, mas não confie piamente nelas, pois fomos enganadas. Houve um dia em que na previsão aparecia como probabilidade praticamente nula, então não tiramos a bunda do bar do hotel e viramos a noite por lá tomando bons drinks. No dia seguinte, o café da manhã contava com pessoas alvoraçadas trocando suas experiências ao ver a aurora boreal dançando linda na noite anterior. Né?
Hoje, por exemplo, há pessoas se emocionando em alguns cantos do mundo, pois o nível é 5 no momento em que escrevo esse post (06.10 – 2:27 UTC/GMT +2). Ou seja, tem algum bom baile acontecendo em algum canto do norte do planeta. A primeira aurora boreal dessa temporada surgiu no dia 4.08 – nível 3 – sendo vista na Islândia (região Reykjavik), Suécia, Noruega e Finlândia. A visibilidade provavelmente não era muito boa, já que os dias nessa época do ano ainda são bem longos.
Para quem se animou (ou já estava animado) em se planejar para uma caça à aurora boreal, aí vai uma lista de alguns dos melhores lugares do planeta para vê-las ao vivo. A ordem dos lugares não representa exatamente se um lugar é melhor que o outro, já que eu mesma só conferi na Islândia. Como li num texto, não há melhor lugar para ver aurora boreal, há sempre o lugar combinado com algo que você procura: um lugar barato, de fácil acesso, com paisagem de tirar o fôlego, lugares com menos poluição e luzes, lugares que tem menos nuvens do que outros ou lugares que estão mais ao norte. Antes, porém, de escolher para onde ir, vale considerar o seguinte: não vá pela Aurora Boreal, vá pelo destino escolhido. As auroras são imprevisíveis e você poderá ficar desapontado se for apenas para vê-la e ela não aparecer. O melhor é conciliar a possibilidade de ver a aurora boreal com um lugar que você realmente queira conhecer.
A lista abaixo está muito mais dentro dos lugares para os quais eu iria (ou fui) pelo lugar em si, mesmo que minha ida tenha sido carregada de esperança de me comover com as luzes do norte dançando sob minha cabeça.
A Islândia é um dos lugares abaixo do Círculo Polar Ártico em que é possível assistir belíssimos espetáculos de auroras boreais. Você pode contratar um dos vários tours e fugir para os cantos ermos do país. Fuja de Reykjavik, pois lá não é o melhor lugar para vê-las. Se estiver de carro, não precisa nem pensar em tour, a não ser que queira muito um guia a tiracolo.
Como chegar: não há vôos diretos do Brasil. O melhor é comprar sua passagem até Londres (o vôo sai do aeroporto Gatwick) ou Amsterdã e comprar o bilhete a partir de lá. Eu voei de WOW e IcelandAir. Pode ir na fé, as duas não vão deixar você na mão. Há também vôo direto do JFK (NYC), pela IcelandAir, com duração de 5h45.
Esse vídeo mostra um festival de auroras acontecendo em diversas partes do país:
Iceland Aurora 4K from Iceland Aurora Films on Vimeo.
Como já citei no texto, Tromsø é um dos lugares mais procurados para caçar aurora boreal. Apesar de pequena, pouco mais de 70.000 habitantes, a cidade tem um ar cosmopolita por ser habitada por jovens estudantes. Além de Tromsø, há outros lugares bons para a caçada. Um deles é Lofoten, um arquipélago que experimenta as maiores variações de clima do mundo devido a sua elevada altitude. São 100km de comprimento e entre 800 e 1000 de altura (e de chorar de tão lindo).
Como chegar: há vôo direto de Oslo para Tromsø pela Norwegian, com duração de 1:55. Com sorte, é possível conseguir ida-volta por R$ 460,00. Não há vôos diretos do Brasil para Oslo, é necessário fazer escala em Londres, Frankfurt, Amsterdã, Paris, citando as principais. Já para Lofoten, a viagem é bem mais complicada, apesar de mais perto, é uma odisséia chegar lá. Para os mais aventureiros, a boa pedida é Svalbard (3h de vôo de Oslo), o ponto da Terra permanentemente mais habitado no pólo norte do Planeta, com o ápice do verão alcançando 6ºC com sol por 24 horas. A população não chega a 3.000 habitantes, mas a ilha possui uma das maiores concentrações de ursos polares do mundo. Aí vai um belíssimo espetáculo de auroras dançantes em Tromsø, captadas entre os dias 21 e 29.01 desse ano:
Aurora Borealis / Time-lapse 2014 from Vadim Gorolatov on Vimeo.
A região da Lapônia é um bom refúgio para ver as luzes do norte. Os lugares mais procurados são Abisko e Kiruna, região onde fica o famoso Ice Hotel, uma boa escolha também para quem quer viver uma experiência completamente inusitada. Para os mais animados, dá para encarar o trekking pelo kungslededen, com possibilidade de acampar ao longo do caminho dormindo em lugares remotos que propiciam bons espetáculos de auroras boreais.
Como chegar: Para chegar em qualquer uma das duas cidades, é necessário ir até Estocolmo e de lá pegar um vôo para Kiruna, com duração de 1h30. Abisko possui várias opções de tours para a caçada.
Auroras in Abisko National Park February 1st, 2014 from Lights Over Lapland on Vimeo.
Há quem diga que lá é um dos melhores lugares para ir caçar Aurora Boreal é a região Utsjoki, na Finlândia . Há 3 bons motivos: é mais barato que os outros lugares na Escandinávia e Islândia, é um dos lugares mais ao Norte do planeta que você vai chegar (fica na altura de Tromsø) e a região é povoada por Sámi. Dá até para andar de rena por lá. Para quem escolher a Finlândia e quer mais luxo, um pouco mais ao Sul, em Saariselkä, onde fica o hotel Kakslauttanen com igloos, ou seja, você deita na cama e fica lá vendo as auroras boreais no céu no maior conforto e sem passar frio. Mas para esse, pode preparar o bolso, porque é bem salgado. Os igloos estreiam nessa nova temporada 2014/2015.
Como chegar: o jeito mais fácil é ir até Helsinque, capital da Finlândia, e pegar vôo para Ivalo, tanto para ir para Utsjoki quanto para Saariselkä. A maioria dos vôos, que são bem poucos, tem conexão, mas com a duração total de viagem de 2h25. A recomendação é alugar um carro do aeroporto para um dos lugares que for seguir.
Nature and Aurora Borealis in Finland timelapse // Henri Luoma Photography from Henri Luoma on Vimeo.
Já quem prefere ficar na América do Norte, o Alaska (e também o norte do Canadá) é um ótimo lugar para quem quer caçar aurora boreal. E, provavelmente, um lugar incrível para conhecer. Para conferir o forecast local, guarde esse link, que mostra a atividade da aurora boreal em tempo real. Um dos lugares mais procurados é Fairbanks, segunda maior cidade do Alaska.
Como chegar: também não há vôos direto do Brasil. A melhor alternativa é voar para Seattle e pegar vôo direto para lá, com duração de 4 horas, pela Alaska Airlines. As passagens de Seattle-Fairbanks custam em torno de R$ 1.300,00 se comprada com antecedência.
Alaska 2014 Auroras from Rick Whitacre on Vimeo.
Além desses 5 lugares, há também a Groenlândia, Canadá (a região de Yukon é a mais procurada) e a Escócia, que são bons lugares para colocar na lista.
Para quem quiser ir mais longe no assunto, sugiro esse link do Aurora School.
*Foto destaque: Pi-Lens – Shutterstock.com
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsAmei seu post, Lalai!!! E muuuito obrigado por ter nos citado. Uma honra dentro de um material tão bem escrito.
Que post sensacional!
Fui para Tromso no ano passado, em Março, mas tive o azar de o tempo estar fechado todos os dias que estive lá (4 dias).
Tentarei ver novamente neste ano… mas em algum outro lugar.
Este post vai me ajudar muito!
Obrigado!
Opa, que legal! Eu fui caçar na Islândia e dei muita sorte. Vi 3 vezes, sendo uma delas uma tempestade que é de chorar de tão linda. Agora quero muito ir pra Finlândia que tem uns lugares maravilhosos também (e Noruega)
melhor post ever!!! coincidentemente estava falando hoje, que em 2016 me darei de presente uma viagem rumo a algum lugar possível de ver aurora boreal.
oba, vamos pra Finlândia, Lícia!!!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.