Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Em 2002, eu parti para meu primeiro (e único) mochilão pela Europa, em plena temporada de Copa do Mundo. A seleção passou pela primeira fase sem muito esforço, e passou pela Bélgica nas oitavas-de-final. O jogo das quartas eu veria no Velho Continente. Era a Copa do Japão e da Coréia, e por aqui era um drama acordar no meio da madrugada para assistir às partidas ao vivo. Então viajar através de cinco fusos ajudou bastante a minha vida.
A primeira parada foi Amsterdam. A KLM permitiu fazermos um stop-over de 4 dias na cidade, e entre tulipas e luzes vermelhas, enfrentamos os ingleses na sala de TV do albergue. O clima na sala era tranquilo, já que não eramos mais do que 20 pessoas. Meia-dúzia de brasileiros vibravam na cara fechada de 3 ou 4 súditos da rainha, e o resto de nacionalidades diversas só se divertia. Até aí tudo bem. O clima só fechou no dia seguinte, já que embarcamos de novo para nosso próximo destino: Londres.
Já na imigração em Heathrow o clima já não era dos melhores. O agente da imigração nos deu uma canseira e só faltou pedir para tirarmos a roupa. Ainda no aeroporto, fomos a um centro de informações para conseguir um hotel. A atendente foi simpaticíssima, mas nos alertou que seria melhor tirar as fitinhas verde-amarelas das mochilas. O clima por lá estava azedo. Escondemos nosso patriotismo e nossa camisa da seleção lá no fundo e fomos curtir a cidade.
Alguns dias depois, pegamos o Eurostar e chegamos à cidade-luz. Lá chegamos preparados e já sabíamos onde ver o próximo jogo. A disputa contra o time da Turquia passaria em um telão em pleno Hôtel de Ville, a prefeitura da cidade. Um detalhe: a França tem a segunda maior comunidade turca do mundo. No dia, tivemos que cortar uma visita ao Pompidou para garantir lugar. Uma hora antes do jogo, as pessoas já se espremiam na praça, que parecia estar dividida bem ao meio com uma barreira. O primeiro tempo foi agitado, com provocações dos dois lados, mas relativamente tranquilo.
Começou o segundo tempo, e com a vitória eminente dos canarinhos, começaram as animosidades entre as torcidas. Eu saí do meio da multidão e fui para o fundo, para conseguir tirar uma foto mais do alto, com um ângulo aberto. Parei ao lado de um carro de polícia e subi em uma grade para fotografar. O clima esquentou quando alguém jogou uma garrafa de água vazia nos adversários. Em resposta, veio um copo de papel. E mais um. E mais um, mais dois, mais vários. Todo mundo jogando o que tinha na mão na outra torcida. Até que algum espertinho acendeu um sinalizador e o atirou para o alto. Lembro claramente do raio vermelho cruzando o céu da praça. Não preciso nem dizer que em menos de 10 segundos os policiais que estavam relaxados ao meu lado se paramentaram feito Robocop e partiram para cima da galera. Em um minuto, a praça já estava vazia, e nas ruas laterais tinha gente caída, esmagada, pisoteada. Sorte que não houve vítimas graves. Mas o jogo meio que acabou ali mesmo, com o Brasil vencedor.
Nos dias seguintes, pudemos desfilar por Paris com as camisetas amarelas tranquilamente, até porque muita gente vibrava quando cruzava conosco pelas ruas. O Brasil é mesmo amado pelo mundo. Mas a bonança duraria pouco. Estávamos agora na grande final contra a temida Alemanha, e nós já estávamos com nossas passagens de trem para, claro, Berlim!
Dia 30 de junho, domingo, chegamos logo cedo na capital alemã. O dia estava cinza e chuvoso, nossa chegada não foi nada agradável, pois descobrimos que o albergue que reservamos ficava muito longe e tivemos que improvisar outro na hora, e não tínhamos idéia de onde ver o jogo entre os nossos. Conseguimos uma dica de um centro de cultura brasileira nos arredores da cidade e fomos de metrô para lá. Era tão longe que chegamos já no meio do primeiro tempo. Mas o lugar era pequeno, e estava lotado. Mal víamos o telão. Ali não dava para ficar. Pegamos o trem de volta, e descemos em uma estação onde vimos alguns brasileiros saindo na ida, na loucura. Desespero completo. Demos sorte e achamos o Bar Ipanema. Era pequeno, com uma TV de 20 polegadas virada para fora da janela, e até cerveja brasileira tinha (e hoje eu me pergunto, por que?!)
Pegamos quase todo o segundo tempo, e o Brasil foi campeão. A brasileirada, claro, queria festa. Saímos em um grupo de 50, 60 pessoas. Bateria, bandeira, gritaria, tudo. Uma escolta militar chegou para nos acompanhar e proteger. A gente queria é causar, por isso rumamos para uma das maiores avenidas da cidade, a Ku’Damm. Chegando lá, esperando uma recepção nada amistosa, fomos surpreendidos. Os alemães lotavam a rua, com mais bandeiras e música ainda. Uma grande festa de vice-campeão. Nessa hora bateu aquela saudade.
Imaginando a festa que estaria aqui na terrinha, só nos restava achar um orelhão para tentar participar um pouco. Sim, naquela época o jeito de ligar para casa era anotar o telefone da Embratel em cada país visitado, e pedir para fazer uma ligação a cobrar. Feito isso, uma moça me atendeu e anotou o número que eu queria que ela ligasse. Quando ela me perguntou de onde eu estava ligando e eu respondi Berlim, ela não teve dúvidas e me pergutou: ‘E aí???? Como está a festa??????’ Animadíssima. Depois disso, nem lembro o que falei com a minha família. A atendente me marcou mais. Em dia de vitória na Copa, qualquer brasileiro deixa de lado o profissionalismo mesmo.
*As fotos são minhas, mas na época foto digital ainda era tecnologia para bem poucos. E só há 12 anos!
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.