No ano passado o Ola me presenteou no meu aniversário com  um presente incomum: um curso de escalada. Ele já tinha cantado a bola que um dos seus sonhos era percorrer uma via ferrata na Itália, mas eu me arrepiava só de ver fotos. O presente veio com uma intenção clara por trás: me preparar para acompanha-lo na empreitada pelas paredes rochosas italianas:

Encarei o desafio, fiz o curso e, de repente, me vi apaixonada por, literalmente, subir paredes. A minha primeira empreitada foi escalar uma via de 50m em Pedra Bela, com direito a fazer uma via completa, usando todos os equipamentos que eu tinha visto nas aulas teóricas. Óbvio que não foi fácil. Eu tremia loucamente, tive dor de barriga e quase desisti no último momento. Felizmente me convenceram e eu subi, com as pernas bambas, mas fui penduradinha, costurando a corda nas chapeletas, para depois ficar pendurada longos minutos numa “parada” enquanto dava a segurança para o Ola subir.

Desde então comecei a nutrir uma vontade louca de ir mais longe, mas até o momento o máximo que consegui foi subir as paredes da Casa 90 Graus, aqui em São Paulo. Enquanto não saio da parede, eu tenho começado a sonhar em ficar pendurada nas alturas presa num cabo de aço, enquanto contemplo as paisagens de tirar o fôlego que geralmente esse tipo de viagem proporciona.

O QUE É VIA FERRATA?

Para quem, como eu, que há meses atrás não sabia o que era uma via ferrata, aí vai uma rápida explicação de acordo com a wikipedia: “é um itinerário preparado nas paredes rochosas da montanha – com escadas, cabos, pitões, etc. – destinado a facilitar a progressão e optimizar a segurança dos montanhistas”. São pouco mais de 1.000 vias ferratas no mundo, sendo maior parte delas concentradas na Itália.

Apesar da via ferrata (iron road em inglês) ter surgido no século XIX, hoje elas são associadas fortemente à Primeira Guerra Mundial, quando foram construídas nas montanhas Dolomitas para movimentas as tropas italianas na guerra.

TÁ, MAS QUAL A MAIS PERIGOSA?

Tem via ferrata para todos os níveis, mas a Montanha Hua Shan (ou Huangshan), na China, é disparada a mais tensa. O pico mais alto da montanha fica a 2.160m de altura (para comparar, o Pico da Neblina, o mais alto do Brasil, tem 2993m). A montanha fica à 120km de X’ian, a 1.400km ao noroeste de Xangai.

Hua Shan é uma das 5 montanhas sagradas do taoísmo, onde num passado distante, taoístas viviam espalhados pelas vertentes da montanha. Há vestígios de que as atividades taoístas surgiram há 1800 anos por lá, na disnatia East Han. As montanhas abrigam 72 cavernas e vestígios de 21 construções de templos taoístas, além de cachoeiras. A montanha já foi (se ainda não é) considerada uma das mais perigosas do mundo. Um dos espetáculos mais belos visto de um dos topos da montanha, é o por-do-sol

A montanha tem 5 picos principais, todos com suas atrações particulares. Claro que ter uma casa de chá a 2.159m de altura é bem peculiar. Sim, uma casa de chá, que outrora foi um dos vários templos taoístas espalhados pela região. Hoje essa Casa de Chá está na lista dos 8 restaurantes mais perigosos para ir no mundo. Dá uma olhada na foto abaixo e veja se não concorda:

Como falei, não faltam templos por lá, inclusive no dia 15 de Março, rola um grande evento de celebração nos templos e atividades diversas, o Pilgrimage Day. Entre os templos mais famosos, estão o Jade Maiden, no topo de uma das montanhas, e Jade Spring Temple, que é considerada a porta de entrada de Hua Shan, construído na Nothern Song Dinasty (960-1127), para homenagear Chen Tuan, um famoso educador e eremita.

Além dos templos, há também várias cavernas misteriosas construídas artificialmente, que ficam encravadas na montanha, em que não há qualquer registro ao que levou às construções:

Nesses vídeos é possível ver a empreitada para escalar a Montanha Hua Shan, munido de toda a coragem que a tarefa requer (afinal escalar e ainda filmar, para mim ainda é algo fora de cogitação). Eles tremem um bocado, mas quem em sã consciência não tremeria?

A trilha é horrível, mas desliga o som, coloca outra música e manda bala:

Hua Shan é também nome da cidade onda fica a montanha. A localização fica na região onde fica o berço da civilização chinesa. O lugar é repleto de histórias datadas do ano 720DC (ou mesmo antes), possui uma vasta diversidade de fauna e flora, sendo 424 espécies de plantas medicinais, com cerca de 200 podendo ser coletadas facilmente nas caminhas pelas montanhas e 80 em estado de mutação; 204 espécies de animais vertebrados, 1500 espécies de insetos e 122 espécies diferentes de pássaros registrados, fazendo Hua Shan um lugar ideal para estudo de plantas e animais, além de ter pessoas que vão meditar por lá, afinal templos encrustados nas montanhas não faltam.

Com o crescimento do turismo, ainda chinês em massa, acabou sendo instalado um “teleférico” que leva os turistas para um dos topos da montanha e lá é possível ir para outros topos, o que facilita bastante para pessoas que não conseguem sequer cogitar subir 1m numa parede. É uma viagem totalmente fora da rota tradicional, mas que com certeza vale a pena. Para esse posts, acabei lendo dezenas de relatos de pessoas que passaram por lá e todas dizem que a viagem está na lista das experiências mais incríveis que já tiveram.

A melhor época para visitar Hua Shan é entre abril e outubro.

AO REDOR

Eu acabei colocando na minha longa lista pois, além de Hua Shan, a cidade de Xian, que é bem próxima, e tem o famoso Exército Terracota, que fica a menos de 80km da Montanha Hua Shan. Além disso, a região abriga muitos templos, cavernas, histórias, muita natureza e bons lugares para simplesmente desligar do mundo.

Para quem quiser saber mais, vale ler esse post do Huffington Post, e esse guia do Travel China Guide e esse outro guia do blog China Travel Depot também, além desse ótimo texto no site da Unesco. E esse texto é o que me inspirou a escrever esse post.