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Sónar Barcelona rejuvenesce ao completar 30 anos

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

28 de June, 2023

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O Sónar Barcelona fez 30 anos e está mais jovem do que nunca. Diversidade e inclusão, música velha, nova e a que ainda vamos ouvir. Estilos musicais ainda sem nome. É também o festival para todas as idades. Dos bebês, com seus enormes fones de ouvidos, aos idosos animados de cabeleireira branca. Tudo junto e misturado, assim foi o Sónar 2023.

O Sónar completou 30 anos de história, numa edição grandiosa em 2023, nos últimos dias 15, 16 e 17 de junho, reunindo uma audiência de 120 mil pessoas. Eu voei para Barcelona para continuar celebrando os meus novos 50 anos no lugar que mais gosto de estar no mundo: Uma pista de festival e num dos meus favoritos.

Line-up de gente grande e de quem, não apenas está atento ao que está acontecendo no mundo, mas continua de olho no futuro. O Sónar é o festival que anualmente reúne grandes nomes da música eletrônica do passado, do presente e desse enigmático futuro, muitos dos quais a gente nunca ouviu falar, mas que um dia será o headliner em festivais de grande porte e poderemos falar: “Eu vi num palco para 500 pessoas lá no Sónar“, como foi o caso da Rosalía, que eu vi em 2018 só para citar um exemplo mais recente.

A curadoria é geralmente primorosa e a expectativa para uma festa celebrando suas três décadas estava lá em cima. Não me enganei! O que sempre me levou para festivais não é apenas ver artistas que gosto, mas descobrir artistas novos é o que me move. Se, no dia a dia eu fico trancada no meu mundinho sonoro esquisito, no festival de música eu abro os ouvidos para saber o que todo mundo está ouvindo e o que está tirando a geração mais nova de casa. E, o Sónar tem sempre a proeza de juntar todas as gerações de uma maneira muito sofisticada e divertida.

Gosto de como o Sónar transita entre o pop e o experimental sem medo de errar e de maneira orgânica, assim como é interessante ver como o festival serve também como um lugar para formação musical de um público que hoje consome música praticamente só no TikTok (ou nos games).

Antes de embarcar, eu mergulhei no line-up que, à primeira vista, revelou poucos nomes conhecidos enquanto eu ouvia esta playlist. Confesso não ter curtido muita coisa. Seria um erro a decisão de ir para lá? Reggaeton, amapiano, R&B, pop, música de videogame e uma pitada de EDM parecia dominar o repertório. Mas, como sempre, ao chegar lá eu só me deparei com uma fila de surpresas boas.

Em relação aos anos anteriores, a programação visual estava de cair o queixo e foi uma das estrelas dessa edição. O Sónar investiu alto no que há de mais moderno e tecnológico com telões de LED e projetores de alta definicação. Os visuais foram um show a parte, muitas vezes roubando os holofotes da música.

Nomes conhecidos não eram muitos para mim. Eu praticamente só conhecia a galera 40+ do festival: 2ManyDJs, Tiga, Eric Prydz, Richie Hawtin, Black Coffee, Âme & Marcel Dettmann, Ryoji Ikeda, Daito Watanabe, The Blessed Madonna, Max Cooper, Bicep, Oneohtrix Point Never, Nosaj Thing, DJ Marky, mas também alguns mais jovens, como Peggy Gou, Honey Dijon, Lucrecia Dalta e Deena Abdelwahed. Mesmo não sendo fã de toda a lista, eu já tinha artistas suficientes que ocuparia a agenda nos três dias. E, sim, ela se manteve bem ocupada.

Dois festivais em um

O Sónar tem a capacidade de produzir dois festivais grandiosos num só. A edição diurna começa na quinta-feira e acontece por três dias, é menor, conta com uma programação chamada Sónar D+ focada na indústria da música, tem uma agenda mais ousada e experimental, além de abrigar workshops, palestras, debates e uma feira. A agenda do D+ estava como sempre bem alinhada aos temas do momento: Inteligência artificial, web3, metaverso e realidade virtual/aumentada/mista.

Já à noite, o festival acontece num lugar maior tendo um público com 20 mil pessoas a mais do que a edição diurna. Um shuttle faz esse leva-traz de um para o outro.

Quando a noite começa, a programação do dia ainda não terminou, ou seja, sempre há conflito na agenda, pois enquanto o headliner do dia encerra a festa, o headliner da noite está abrindo o palco principal.

O Sónar Dia é o lugar perfeito para quem ama música eletrônica

Sónar Village / Dia: Bradley Zero por Simmons Liam

O Village é o palco principal do Sónar Dia e o único na área externa, mas este ano ganhou uma cobertura extra na pista, o que foi um um alento para as longas horas de sol. Nele, se apresentam os grandes nomes da música eletrônica com vertentes mais pop. Amapiano, R&B, reggaetton, rap, funk carioca, house music, um pouco de farofa e a música pop transformam o Village no palco mais concorrido e animado. A festa diurna se encerra diariamente por aqui.

Eu, que ainda não tinha vivenciado uma pista de amapiano, me entreguei feliz ao live do sul-africano Musa Keys, um dos maiores nomes deste estilo musical que ganhou as pistas do mundo. Mas o destaque ficou para a grande festa promovida pelo DJ Black Coffee, também sul-africano, que sabe como agradar todos os tipos de público. Dos jovens aos mais velhos, todo mundo dançou, pulou, cantou e pediu mais. Ele iniciou o set de maneira bem chique, mas aos poucos desceu ladeira abaixo sem pudor. Já quase no final do set, emendou uma acapela de “Show Me Love” (Robin S.) com “Music Sounds Better with You” (Stardust) e “I will Survive” (Gloria Gaynor). Foi a trilha sonora perfeita para uma farofa impecável fechando o primeiro dia.

Sónar Village – Black Coffee. Foto: Fernando Schlaepfer

O destaque do segundo dia foi a The Blessed Madonna, sempre uma unanimidade e uma festeira incansável. Teve o stage design feito por pessoas da comunidade LGBTQIA+, que subiram no palco e dançaram loucamente em volta dela e da frase em neon WE STILL BELIEVE durante todo o set. Vê-la tocando é sempre uma diversão e um prazer imenso, pois, diferentemente de Peggy Gou – que foi adequadamente descrita como uma DJ genérica – The Blessed Madonna parece se divertir tanto quanto o seu público. Dancei até doer o quadril!

Village – The Black Madonna. Foto: Nerea Coll

Já no terceiro dia, o destaque do Village foi o 2ManyDJs invite Tiga & Peach. Sempre bom revê-los no palco porque sou tomada por uma nostalgia boa de uma época que parece muito distante. Eles começaram bem, mas uma hora depois ficou bem difícil para os meus ouvidos. Notei que a galera mais jovem se manteve animada na pista, ou seja, o 2ManyDJs se rejuvenesceu (e eu que envelheci mesmo).

Vi também um DJ set bem solar e dançante de house music com Bradley Zero b2b Moxie e o rei da vogue-house MikeQ montou um verdadeiro ballroom colocando todo mundo para fazer coreografia.

Já o SonarPark, o palco mais simples da versão diurna, mas não o menor, apresenta um pot-pourri de estilos musicais predominantemente techno e vertentes. Foi o palco que eu menos frequentei, mas vi um ótimo DJ set do Omagoqa, da África do Sul, que nos brindou com um set gqom, estilo de música eletrônica surgido nos anos 2010 em Durban, a cidade de origem do trio, com influências de ritmos africanos e house music. A Badsista fez um b2b com a Cashu e mandou ver no batidão, mas tiveram que disputar o horário com a Queen Blessed Madonna. Não foi fácil!

Um dos meus palcos favoritos durante o dia é o Sónar Complex+D, que tem programação mais cabeçuda e é lugar para explorações sonoras e visuais. Fica num teatro com ar-condicionado, ou seja, ótimo para ver show sentadinha e descansar entre uma pista e outra. Nele, eu vi um show lindíssimo, hipnotizante e intimista da Lucrecia Dalt, vi Kode9, Sabrina Bellaouel, Grievous Bodily Harmonics que, como prometeram, promoveram um verdadeiro ataque sonoro.

Entre os shows que rolaram no Complex+4, eu lamentei perder o da espanhola CLARAGUILAR, e “Hyper O.”, da dupla Carles Viarnès e Alba G. Corral.

O meu segundo palco favorito foi o SonarHall, que apresenta artistas emergentes e renomados da música eletrônica, muitos deles experimentais, e todos com um trabalho visual contundente. Por lá, eu vi os meus dois shows favoritos do Sónar 2023: Ryoji Ikeda e a Deena Abdelwahed. Mas também me deleitei com outros shows grandiosos do Oneohtrix Point Never, Max Cooper, Bendik Giske e a Marina Herlop, uma versão catalã da Björk. Fiquem de olho nesses dois últimos!

Sónar Hall: Ryoji Ikeda. Foto: Nerea Coll
Sónar Hall – Max Cooper. Foto: Clara Orozco
Sonar Hall – Bendik Giske – Foto: Ariel Martini
Sonar Hall – Oneohtrix Point Never. Foto: Clara Orozco

O Ryoji Ikeda foi unanimidade. Quem viu, amou! E não é um show fácil, é literalmente “noisy music” com visuais à base de flashes violentos. Antes do início, um texto no telão alertava “Este espetáculo inclui luzes e flashes que podem afetar pessoas com epilepsia fotosensível”. Não duvido! Ikeda apresentou o álbum “ultratonics” (2022), com uma projeção cheia de flashes ininterruptos mostrando um extenso catálogo de glitch eletrônico, que alguns definiram ser uma versão mais pop do artista, mas é ousada essa afirmação. Foi uma aula magistral de storytelling, com direito a um final épico, em que a projeção preta e branca deu lugar à uma galáxia colorida explodindo levando o público ao delírio. Eu estou sonhando em um repeteco.

Sonar Hall – Deena Abdelwahed. Foto: Nerea Coll

Já a produtora tunisiana Deena Abdelwahed apresentou seu novo álbum “Jbal Rrsas”, que será lançado em agosto, ao lado de um outro músico, responsável pelos mpc’s. Um show dançante e hipnótico em que todos nós fomos seduzidos pelas batidas árabes e os visuais fluídos. Ela cantou (e gritou) um pouco em árabe enfeitiçando ainda mais a plateia com a sua voz suave. Foi imperdível!

Stage+D: Nosaj Thing & Daito Manabe

O Stage+D é o palco com a cenografia mais bonita onde um telão ocupa todo o fundo do palco e cada lateral 3 telões de LED de alta definição ficam posicionados na vertical, rendendo muitas projeções lindíssimas. Além da música, este palco também abriga apresentações conceituais sobre projetos sonoros e visuais. O meu show favorito neste palco foi do Nosaj Thing que, ao lado do mestre do artista audiovisual Daito Manabe, brilhou em um dos shows mais bonitos do dia. Nosaj apresentou seu último álbum “Continua”, provavelmente um dos melhores trabalhos de sua carreira. No começo, o público se manteve deitado no chão hipnotizado pelas paisagens sonoras requintadas e contemplativas, mas aos poucos a música e o visual vão crescendo levando o público a se levantar e se render na pista até o show terminar. Um arrependimento: Ter perdido o show solo do Daito Manabe.

Sónar Noite: uma grande rave

SonarClub – Aphex Twin. Foto: Nerea Coll
SonarClub – Aphex Twin. Foto: Fernando Schlaepfer

A programação noturna começa na sexta-feira, segundo dia do festival. É sempre uma correria ir para do Sónar dia para o Sónar Noite, porque geralmente o primeiro show da noite é o que não queremos perder e o último do dia também queremos ver.

O show que abriu a sexta-feira à noite foio Aphex Twin, um dos artistas que eu mais queria ver e um dos mais esperados no festival. Chegamos no começo do show, onde o Aphex Twin ocupava uma espécie de gaiola fazendo-o quase desaparecer no palco. O que importava ali não era a sua figura, eram os elementos visuais com um chamativo cubo de luz suspenso sobre a gaiola e lasers frenéticos preenchendo de luz a plateia lotada. Um show totalmente diferente do que assisti há 12 anos exatamente no mesmo palco. Aphex Twin cresceu e era grande desde os anos 1990. O momento mais bonito foi quando tocou Facebang (Acid Mix), de Eprom, criando um climão que nos levou para uma galáxia distante. O final veio com “Mt Saint Michel + Saint Michaels Mount”, do álbum Drukqs (2001), nos mandando para dentro de um video-game, o que tornou difícil seguir dali para qualquer outro lugar.

SonarPub – Fever Ray. Foto: Ariel Martini

Mas corremos para ver Fever Ray, que tocou no SonarPub, um palco a céu aberto. Depois de ver o deus Aphex Twin, o Fever Ray caiu como uma luva num show mais intimista e com estrutura minimalista, onde um poste iluminava o palco. Momento para retomar o fôlego e se encantar com a sedutora e estranha Karin Dreijer e sua banda de mulheres, uma delas ostentando um chapéu gigante em formato de nuvem que hipnotizava a galera.

Depois daí abraçamos a grande festa que é a edição noturna. Dançamos com a dupla Âme & Marcell Detmann, que fizeram um b2b all night long no SonarCar. O palco virou nosso refúgio certo sempre que não encontrávamos nada que nos agradasse pelo caminho.

SonarClub – Bicep. Foto: Nerea Coll

O Bicep foi o segundo ápice da noite num show apoteótico cheio de lasers numa projeção linda de morrer, mas nada muito diferente da que vi em em novembro do ano passado. Show animadíssimo perfeito para encher a pista dessa dupla, que começou a carreira como blogueiros de música, e agora estão como headliner de festival. O auge veio com “Glue” em que um teto colorido de lasers se formou acima do público cobrindo toda a plateia. Momento de chorar um cadinho de emoção porque eu sou dessas.

Ainda nesta mesma noite dançamos com a Honey Dijon, que fez um set bem pop e espiamos a entrada do DJ Marky & MC GQ, que fechou o festival na sexta-feira e provou que o drum’n bass nunca saiu de moda.

A segunda noite começou com o sueco Eric Prydz, um dos maiores destaques do Sónar 2023 por conta de seu novo show “Holo”, que passou por São Paulo, em outubro do ano passado. Eu particularmente não gosto da música, mas não deixaria de ver um dos shows mais high tech da atualidade de jeito nenhum. Apesar da sensação de ficar numa aula de spinning por quase 2 horas, o show visual é uma das coisas mais incríveis que já vi. Ficamos todos estupefatos com a projeção em LED mais brilhante que já se viu e as imagens holográficas em 3D que é de tirar o chapéu. É surreal!!!!

SonarClub – Eric Prydz – “Holo”. Foto: Ariel Martini
SonarClub – Eric Prydz – “Holo”. Foto: Ariel Martini
SonarClub – Eric Prydz – “Holo”. Foto: Ariel Martini

A última noite foi a mais tranquila, pois depois do Eric Prydz não consegui decolar em mais nenhuma pista. Dancei um pouco com o Tiga & Cora Novoa, segui meio preguiçosa para ver a Carista, que sempre faz sets ótimos e dançantes mas eu estava cansada depois da maratona de três dias. Mas ainda dancei um pouco com o Richie Hawtin pelos velhos tempos enquanto o corpo pedia arrego e cama.

Não é fácil dar conta de 3 dias de festivais, sendo dois deles durante o dia e noite. Mas vale a pena demais sobreviver para no dia seguinte curar a ressaca comendo uma deliciosa paella e tomando sangria na Barceloneta.

Que venha o Sónar 2024!

*Foto destaque: SonarClub: Eric Prydz – Holo. Foto: Clara Orozco

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

28 de June, 2023

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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