Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
A Isabella Nardini é designer de experiência, que como ela bem define, é o “design da vida real”: “Eu crio contextos através de rituais que evocam sensações, e tudo isso é a partir de uma intenção muito clara. E, pra mim, intenção é ter a visão de uma necessidade, de um desejo ou de um resultado que você quer alcançar. Isso envolve muito coração e uma grande percepção humana.” Por cinco anos foi a Head Global de Experiência da Mesa, é criadora do “Love is in the Cloud”, um projeto de experiências guiadas para fazer com que amigos de amigos se encontrem virtualmente para ter encontros de cinco minutos.
A Isabella é um dos nomes por trás do Unfinished, um dos eventos online mais legais que surgiram no meio dessa pandemia reunindo um monte de gente incrível.
Me conte resumidamente o que você anda fazendo e quais seus planos pós-pandemia
Eu adentrei a pandemia ao mesmo tempo que adentrei a vida profissional independente. Como uma designer de experiências que sempre trabalhou com o mundo físico e a criação de contextos na vida real, quando o vírus chegou de vez, me vi criando experiências virtuais com efeitos reais – de experiências de paquera, a integração de times corporativos, a festivais multidisciplinares – de qualquer lugar que eu quisesse e pudesse estar. E a antiga vontade da vida nômade, em 2020, com muito cuidado e cautela, se fez possível.
Uma das coisas que optei fazer foi me juntar com amigos e amigos de amigos de fé e criar uma comunidade temporária: uma casa de acolhimento e vida compartilhada no meio da mata de Camburi por alguns meses, e na sequência me lancei em movimento no continente europeu. Uma viagem que era pra durar um mês, passando pelos Alpes e indo até uma ilha nudista no sul da França (sim, uma ilha inteirinha e não apenas uma praia – Île du Levant) acabaram virando 5 meses passando também por Alemanha, Espanha, Finlândia, Estônia, Romênia e Países Baixos. Eu fiquei no mínimo duas semanas em alguns países e o máximo de dois meses em outro.
O plano pós pandemia (dirá a pessoa que até faz planos, mas que gosta de mantê-los flexíveis o suficiente para que nenhum imprevisto-do-bem seja desperdiçado) é permanecer nômade, ficar no Brasil até o outono daqui e voltar para europa no verão europeu. E no caminho, seguir em movimento com cuidado e intencionalidade.
Qual é o destino que está no seu radar, que você já está se organizando para ir no próximo ano, e porque escolheu esse destino?
Certamente está no meu radar voltar para Estônia. Quando eu fui pra lá esse ano eu fui pra ficar dois dias e acabei ficando três semanas. Essa mistura que há na capital, Tallinn, da conservação impecável de um patrimônio histórico da UNESCO no centro antigo da cidade (é de fato um dos patrimônios mais bem conservados no mundo hoje em dia), com uma cidade criativa cheia de movimentos contraculturais, iniciativas frescas e destemidas e ocupações de espaços abandonados da época soviética.
Ao mesmo tempo que tanta coisa acontece, a cidade é muito pequena, com em torno de 427 mil habitantes apenas, então a sensação intimista de todos os acontecimentos ali é inegável. E se eu já era fã de ocasiões intimistas, a vida pandêmica acentuou isso ainda mais.
Então a ideia é voltar pra lá pra passar algumas semanas, quem sabe me jogar nas florestas e aprender sobre a caça de cogumelos no interior do país; ir no festival de jazz (JazzKaar) que é o maior festival de jazz dos países Bálticos que acontece desde 1990 em Tallinn; e visitar a ilha de Kihnu, uma ilha matriarcal que é um grito de resistência e resiliência feminina. Com cerca de 700 habitantes, é uma sociedade conhecida como “o último matriarcado da Europa” por conta do papel de liderança e poder exercido pelas mulheres ali.
Qual evento/festival/acontecimento você quer ou vai participar no próximo ano? O que ele tem de tão especial?
Além do repeteco da aventura estoniana, eu também planejo “repetecar” na Romênia. Nos últimos dois anos eu fui pra capital, Bucareste, passar uma temporada para me juntar ao time que faz acontecer o UNFINISHED, um festival multidisciplinar global, que até 2019 acontecia presencialmente no Museu Nacional de Arte e que em 2020 e 2021 aconteceu virtualmente (dando a chance assim, de muito mais gente poder participar).
Eu frequento anualmente o UNFINISHED desde 2019 e ele tem sido uma grandíssima fonte de inspiração, um respiro, um abridor de portas que traz diversas perspectivas e experimentos de diferentes áreas da expressão humana: arte, ciência, filosofia, tecnologia, etc. O festival já contou com participações como Alfredo Jaar, Esther Perel, Virgil Abloh, Marina Abramović, etc.
Para participar você não paga com dinheiro, você paga com seu TEMPO preenchendo um extenso formulário que te convida a exprimir sua visão de mundo, o que te move, o que você advoga por e seus sonhos. Ao ser aceito para fazer parte, você e os outros 2.999 selecionados, ao chegarem lá não gastam mais nada com comida ou bebida, é como se estivessem indo pra casa de alguém que lhes recebe muito bem, com muita abertura, confiança e compartilhamento.
Qual é o lugar de desejo que você gostaria muito de ir? Pode ser um lugar novo que você descobriu, um lugar do coração, um lugar que tem uma história nova para você… e por que?
A Tailândia hoje ocupa um lugar imenso no meu coração, foi o último lugar que eu fui antes da pandemia acontecer. Eu já tinha passagens pra ir e voltar de lá e a minha volta de lá pro Brasil foi no dia 16 de março de 2020, coincidentemente, o dia que o isolamento foi instaurado no nosso país. E eu considero um privilégio tremendo ter passado o último 1 mês e meio de vida-livre em um lugar como a Tailândia. Talvez o meu apego e vontade de voltar tem a ver com o agradecimento que eu carrego por tudo que esse lugar me deu e me muniu para me ajudar a atravessar uma pandemia. Mas acho que não foi só isso: o aroma, as cores e as vibrações daquele lugar no mundo são tremendas.
Certo que é um lugar em que você pode gastar fortunas se hospedando em casas de mármore importado na famosa ilha de Phi Phi, mas você também pode ficar acampado em campos de arroz ou casas na árvore em uma comunidade independente em Pai no norte do país pagando 1,8 dólares a noite, assim como qualquer prato de comida, por exemplo. (Ficar na comunidade, inquestionavelmente, foi minha opção).
Se aprende muito sobre o poder da respiração nessa cultura, que vai desde a força da massagem thai ser causada pelo peso natural do corpo quando você respira, até o que te guia no preparo da comida é a inalação dos ingredientes em cada etapa do processo. Só faltou experimentar Muay Thai pra aprender mais a técnica de respiração na luta, mas eu também gosto sempre de deixar algo por fazer, deixar espaço pro desejo, como mais um motivo pra voltar.E enquanto eu não volto, sigo a sonhar com o pôr do sol alaranjado e o vento no rosto promovido pelas andanças de caronas na garupa de motocas pra lá e pra cá.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.