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O Vale do Pati, na Chapada Diamantina, é uma viagem não só no espaço, mas também no tempo. É uma volta ao mundo de 100 anos atrás: transporte por mulas, roupa lavada à mão, Wifi inexistente, gente que enriqueceu com ouro. A paisagem humana é tão bonita quanto a natural e conversar com os moradores, tão prazeroso quanto fotografar o trajeto. Assim é o trekking no Vale do Pati, na Chapada Diamantina.
Com área total de 41.751 km² (e 1.520 km² no Parque Nacional), a Chapada Diamantina é enorme. Existem, portanto, muitas rotas: são inúmeras trilhas, diversas cidades e vários pontos de entrada na mesma vila. O objetivo aqui não é esgotar as opções de trajeto, mas te informar sobre o trekking na região.
A porta de entrada para a Chapada Diamantina é a cidade de Lençóis. As coloridas casinhas coloniais que se enfileiram pelas ladeiras de paralelepípedos podem te fazer acreditar que você está em Minas. Mas não se engane: a energia é 100% baiana. Tem vendedora de acarajé na rua, forró na balada, rede na pousada, ensopado de bode no almoço.
O aeroporto mais próximo de Lençóis é o de… Salvador, então você já começará seu trekking com uma baldeação de, no mínimo, cinco horas de estrada nas costas. Não conhecemos as outras bases para visitar o parque, como Mucugê ou Vale do Capão, mas, com 10 mil habitantes e muito bem estruturada para o turismo, recomendamos Lençóis para começar e terminar seu trekking no Vale do Pati.
Fiz o trekking de cinco dias com a Chapada Adventure , que parece ser a maior operadora local (estou ganhando um total de zero reais para divulgá-los aqui). São profissionais, pontuais e oferecem boa infraestrutura.
É possível fazer tudo por conta própria. Você pode entrar em contato com os nativos do Vale para agendar hospedagem e alimentação com eles. Em maio de 2022, o pernoite custava R$80,00 e a hospedagem com pensão completa, R$ 200. Me hospedei na Igrejinha e no seu Jóia e curti ambos.
A diária de um guia no Vale do Pati custa em torno de R$300,00 e cada trecho do transporte de ida e volta para Lençóis sai por volta de R$400,00. Conheci até quem estivesse fazendo as trilhas usando o aplicativo Wikiloc – você se garante? A vantagem de contratar um guia é poder fazer as coisas no seu ritmo. Com um grupo de duas ou três pessoas vale a pena.
Como se preparar para um trekking de cinco dias? Meu grupo proporcionou histórias divertidas: houve gente que amaciou a bota de trekking na esteira na academia e gente que treinou no aparelho de escada carregando a mochila. Acredito que o que prepara para uma atividade outdoor é outra atividade outdoor (e aqui no Chicken or Pasta não faltam sugestões), mas achei essas soluções incríveis – além de proporcionar um excelente entretenimento aos demais frequentadores da academia.
Aproximadamente 12 famílias oferecem hospedagem no Vale do Pati. O luxo está na localização e não nas instalações: há quartos para até 20 pessoas, os chuveiros são frios e o chão é de cimento. Mas as casas fornecem roupa de cama, banho e quantos cobertores forem necessários, há tanque e varais para lavar à mão, a comida é caseira, gostosa e farta. Alguns alojamentos oferecem quartos para casal, mas o banheiro é sempre coletivo.
As hospedagens são compostas por uma construção que abriga os dormitórios dos turistas (os guias têm seu próprio quarto), a casa da família que ali mora, uma área com banheiros e um refeitório, que acaba servindo como área de convívio. Dependendo do dia e do lugar, pode ter fogueira, violão ou até mesmo um trio de forró pé de serra formado pelos filhos dos nativos. Você provavelmente encontrará com outros viajantes, mas não deixe de conversar com os moradores e ampliar sua visão de Brasil.
Nem sempre há tomadas ou energia o suficiente para carregar equipamentos, pois as casas do Vale são movidas a energia solar. Deixe o celular no modo avião e se entretenha com a prosa dos nativos, a fogueira para espantar o frio noturno e um dos céus mais estrelados que você vai ver no Brasil.
As hospedagens normalmente contam com vendinhas de produtos básicos – o que, além do biscoito e da pasta de dentes, inclui uma cachacinha local. Eles também disponibilizam lanches simples, como tapioca e pão com ovo. O pagamento pode ser feito por Pix, mas o ideal é levar dinheiro trocado.
A comida no Vale do Pati e farta e gostosa. Não tenho reclamações, mas tampouco restrições alimentares. Há pouca variedade de alimentos devido à dificuldade de acesso à região e, portanto, veganos e celíacos podem ter mais dificuldade para comer.
Os cafés da manhã e jantares são servidos nas hospedagens normalmente às 7h e às 19h. Não se avexe: a caminhada é pesada e as pessoas formam fila e repetem prato. Há um lanche servido por volta das 13h em algum ponto da trilha. Eu me garantia no café da manhã com ovos mexidos, aipim cozido, tapioca e frutas e para ter uma alimentação mais natural. Há também bolos, pães e sucos.
Por praticidade, os lanches de trilha têm mais produtos industrializados (como pão de forma, atum, barra de cereal, salame, biscoitos e Nutella), mas também frutas e até um cafezinho passado na hora.
Os jantares eram compostos por carnes brancas, palma e godó de banana (comidas típicas de lá), saladas, massas e uma porção individual de sobremesa.
É possível abastecer sua garrafa de água nos filtros das hospedagens, onde também são vendidas garrafas de água mineral. Há um ou mais pontos de coleta de água todos os dias na trilha. Não passei mal ou fiquei com sede, mas é claro, pastilhas para purificar a água de nascentes foram inventadas por um motivo.
– Começo com a resposta óbvia, mas que muita gente ignora: um par de tênis/botas apropriados para trilha. Não, os tênis da academia ou da corrida não servem, pois são leves e seu solado têm pouca aderência. Não se esqueça de amaciá-los com caminhadas mais curtas antes de colocá-los pra jogo.
– Um par de meias por dia. Meias de trekking são mais grossas, portanto pode não dar tempo de secar de um dia para o outro. Meias de trekking devem ser mais longas que a bota, para evitar o atrito do calçado com as canelas.
– Calças compridas para proteger as pernas dos arranhões (a Luciana do passado adoraria não ter pensado só no calor e ter lido isso antes).
– Camisas e chapéus com proteção solar e dry fit, que secam rápido. Levei três mudas de roupa: duas delas eu usei e lavei em dias alternados e a terceira usei à noite, depois do banho. Essa muda “limpa” poderia ou não ser a roupa do último dia.
– Chinelos para usar nas hospedagens. Teve gente que usou papetes ou sandálias de trekking. Eu cometia o crime fashion de usar Havaianas com meia para carregar menos peso no total. Não era a mais gata do rolé, mas ao menos estava confortável e andava leve.
– Chapéu/boné com abas que também protejam o pescoço do sol, de preferência com proteção solar.
– Uma capa de chuva para você e outra para a mochila – ou, na pior das hipóteses, sacos para guardar seus pertences dentro da mochila.
– Agasalho leve.
– Repelente, filtro solar e remédios de rotina.
– Bastões de caminhada – fazem TODA a diferença no rolé.
– Mochila de trekking com ajustes no peito e na cintura (a minha foi de 32 litros e sobrou espaço) e mochila de ataque, caso pernoite mais de um dia na mesma casa.
– O life hack de milhões: carregador com três entradas USB. Mesmo num cenário de escassez de tomadas, carregava câmera portátil, celular e relógio multiesportivo de uma tacada só.
Esse foi o roteiro que a agência fez. Alternou subidas puxadas, momentos de contemplação, caminhadas longas, banhos revigorantes, escalaminhadas sofridas e mirantes belíssimos. Talvez a maioria das agencias siga algo parecido. Mas que, ao menos, meu roteiro sirva de ponto de partida para o seu:
Dia1: Mirante do Vale do Pati e Gerais do Rio Preto
Três horas depois de sairmos de Lençóis, a aventura começou com uma subidinha para chegar nos lindos campos de altitude dos Gerais do Rio Preto, rumo ao Mirante do Vale do Pati. Há vários trechos de subida e descida (a última bem chatinha), uma travessia do Rio Preto e 12 km de caminhada.
Dia 2: Morro do Castelo e Cachoeira dos Funis
O trecho mais difícil do trekking é hoje, com a subida ao Morro do Castelo. É uma trilha íngreme e de escalaminhada que deixou alguns pelo caminho. Mas é lindo: atravessamos uma gruta que corta o morro e almoçamos num mirante que nos deu uma visão de parte do percurso a ser feito nos próximos dias. Esse é o ponto mais alto desta expedição, com 1600 metros. Na descida, há uma parada na cachoeira dos Funis para um banho especial (a água na Chapada é energizante, não gelada). São 9km, mas você preferiria caminhar 15km no plano.
Dia 3: Cachoeirão por cima
Uma das paisagens mais conhecidas da Chapada, o Cachoeirão vale a pena o esforço. As subidas e descidas são moderadas, mas o corpo já está castigado. Foi um bate e volta de 16km, portanto possível de ir apenas com a mochila de ataque.
Dia 4: Poço da Árvore
Finalmente os humilhados foram exaltados. Caminhada linda, tranquila e plana de 12km. Há uma longa e gostosa parada para banho no Poço da Árvore e a vista do Castelo de frente.
Dia 5: Subida do Império/Antiga Estrada Real
Todo carnaval tem seu fim e no quinto dia, caminhamos em direção à Andaraí. Essa cidade é a tradicional saída do Vale do Pati, por onde era escoado o café produzido na região.
A caminhada começa mais cedo, porque o sol castiga na subida do Império. Há uma grande variedade de paisagens – escarpas se transformam em planaltos que se transforam em… cidade. Avistam-se casas, ruas, bairros, antenas e chegamos no centro de Andaraí na hora do almoço.
Cansados, com fome e calor, só enxergamos um destino possível na cidade: a sorveteria Apollo. Depois de duas bolas de tapioca e 30 minutos checando as mensagens da civilização, estamos prontos para voltar à Lençóis.
Carioca da Zona Norte, hoje mora na Zona Sul. Já foi da noite, da balada e da vida urbana. Hoje é do dia, da tranquilidade e da natureza. Prefere o slow travel, andar a pé, mala de mão e aluguel de apartamento. Se a comida do destino for boa, já vale a passagem.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.