Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Quem assistiu a série Street Food na Netflix, com certeza se emocionou com as história da Dona Suzana, do Ré-Restaurante em Salvador. A Liana conta como é a experiência de visitar e comer a comida dessa mulher de garra.
*Por Liana Rangel
Toda vez que viajo, ponto turístico pra mim é restaurante. A cultura alimentar muito me interessa. Nessa última vez que fui pra Salvador fiquei muitos dias, mas quis aproveitá-los ao máximo. Nessas minhas pesquisas e nos aprendizados de viagens que tive, sempre busco lugares que não só tragam os pratos locais, como também a identidade do seu povo. E quando li sobre Dona Suzana, comecei a contar os dias pra visitá-la.
Fui em janeiro, era verão, estava calor, fiquei hospedada no Pelourinho, desci e subi ladeiras, peguei o elevador Lacerda e fui andando até o MAM, museu que fica ao lado da comunidade da Gamboa. Cheguei esbaforida. E claro, esfomeada.
Sou carioca. Na minha cidade, a gente que gosta de transitar fora da bolha aprende a respeitar territórios – entrar numa comunidade é como entrar nas casa das pessoas, num universo de proteção que todos aqueles que moram ali fazem para tornar aquele lugar melhor. Fui andando pelas pequenas vielas, seguindo as indicações dos moradores e dando boa tarde pra todo mundo.
Sim, eu fui sozinha. Hábito comum na minha vida de exploradora de comida.
Chegando lá, confesso que ao olhar aquele lugar, as pessoas comendo, me emocionei. Porque, pra mim, comida não está ligada a frufrus e frescuras, comida é compartilhar amor. E ali, as mesas pela viela, os sorrisos das pessoas, só vi amor.
Casa cheia. Mas logo a Dona Suzana veio me atender, perguntou quantas pessoas e se queria beber algo. Recepção impecável, recebi minha cerveja, um copo e sentei num degrau na escada a espera da mesa.
Fui olhando como ela fazia tudo dentro daquele pequeno grande espaço. Atendia os clientes com sorriso, anotava os pedidos, ia na cozinha e soltava os pratos, servia, fechava a conta. Tratava todos com o maior carinho.
Bom, tinha um casal na minha frente na fila, eles sentaram e tinha um lugar. Dona Suzana sugeriu que sentássemos juntos. Eu topei, o casal também e logo pedimos uma cerveja e 3 moquecas de camarão. Eles eram nordestinos, estavam a passeio em Salvador. E como acho que boas casas atraem boas pessoas, foi um almoço super agradável entre papos, risadas, cerveja e dendê.
Os prato saem rápido. Mesmo com a casa cheia, a moqueca chega bem servida e cremosa, acompanhada de um arroz soltinho, pirão e um feijão fradinho refogado com dendê. Ah, o dendê, ele vem na medida certa pra dar cor e sabor a tudo. Bahia, né mores?! Pura magia.
Depois de comer super bem e ter um almoço muito agradável, desci até a praia que fica aos pés da comunidade, estiquei a canga nas pedras e fiz minha digestão assistindo um por do sol maravilhoso.
Sem dúvida, foi um dia para guardar no potinho dos bons encontros e desfechos surpreendentes e memoráveis. Relembrando, pena que não tirei uma foto com essa grande cozinheira que é a Dona Suzana.
Ré-Restaurante Dona Suzana
Rua da Conceição da Praia, 1294-1490
Comercio, Salvador, BA
Aberto diariamente das 12 às 18h
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Liana Rangel é publicitária esfomeada apaixonada por marcas, consumo, histórias de pessoas e pesquisa. Há 6 anos está à frente do projeto de pesquisa de alimentação chamado Água no Feijão, onde Liana estuda as tendências desse mercado, enchendo o bucho e conhecendo chefs, pesquisadores e pessoas da Gastronomia.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.