Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
O Bando é um curso multidisciplinar dado pela Perestroika, em São Paulo, que vai acontecer no próximo mês de março.
Eu queria começar com uma dúvida: você troca um sábado livre por um curso? Boa parte das pessoas que conheço torceriam o nariz a uma pergunta dessas. Que diabos de educação é essa que tivemos, que criamos essa crença coletiva de que estudar é antônimo de diversão?
Demorei muito mais tempo do que o aceitável para descobrir que eu realmente gosto de aprender. Hoje, para mim, realizar um curso, visitar um festival ou conferência é tão divertido quanto ir ao cinema. Tanto que passei um ano transitando como aborígene entre aulas que iam de meditação a marcenaria, de cozinhar com PANCs a neurociência…
Quanto menos “tradicionalmente sério” o curso, quanto menos certificados, mais me interesso. E por isso sempre olho com carinho para os cursos da Perestroika – regados sempre com cerveja e uma boa dose de subversão do “normal”. Resolvi encerrar minha temporada de cursos e festivais do ano passado com um curso chamado “O Bando“, que “é muito mais do que um curso”, nas próprias palavras da Perestroika. Trata-se de um “espetáculo que mistura educação, arte, negócios e filosofia”. Ou ainda, “gestão da subjetividade da criatividade” – perdoem-me a chuva de aspas.
Se você não entendeu o que isso quer dizer, não se preocupe – eu mesma precisei ir até a terceira aula para entender. Se trata, principalmente, do desenvolvimento de sua capacidade criativa, e como você lida com coisas tão sutis quanto adquirir conhecimento através dos seus recursos próprios e dos relacionamentos presentes no seu dia a dia. Das principais analogias colocadas logo em uma das primeiras aulas, que reverberou na minha massa cinzenta, fala-se sobre a máxima dessa ideia de “pensar fora da caixa”. A maioria das vezes não é sobre pensar fora da caixa, mas sim como você expande a sua caixa de pensar.
Dica: Pule para o segundo 0:44
Muito mais do que ensinar na velha logística professor-aluno, os bandoleiros (como se tratam) trazem muito dinamismo e colocam o indivíduo no centro de questionamentos filosóficos – daqueles que você não pára pra pensar nos seus afazeres diários. Uma das primeiras indagações trazidas pelo curso é sobre quais são as habilidades necessárias para a nova era. Antes de tudo, é preciso definir sobre o que estamos falando quando tratamos de nova era. Felipe Anghinoni, sócio da escola e uma das cabeças por trás do curso, traz uma tese clara de que estamos em um processo de declínio e crise do que conhecemos hoje por civilização ocidental.
Pra não correr o risco de explicar errado a curadoria dos outros, se tiver dez minutinhos, veja esse vídeo que vale a pena.
Nessa transformação do que entendemos por nossa era, o que faz mais sentido: o CEO que nunca erra, ou aquele que é o primeiro a demonstrar vulnerabilidade? O líder da comunidade que sabe adaptar seu plano inicial mediante as mudanças, ou o que segue com uma ideia até o fim? Quem sabe se comunicar de forma não violenta ou quem vence por medo?
Por causa dessa asserção, as aulas são dadas por pessoas com as mais diversas bagagens sócio-emocionais e contextos culturais. Minha primeira aula foi ministrada por um sensei de Aikidô chamado José Bueno. Falou sobre como o princípios da prática podem ser utilizados dentro das empresas e das nossas relações. Mas vou roubar no jogo para que ele mesmo explique:
A segunda aula foi dada por um palhaço. Isso mesmo. Meu primeiro sentimento foi: “o que um palhaço pode me ensinar sobre as minhas relações pessoais?”. Aí é que vem aquela aula que é um belo soco no estômago quando você está despreparado, aquele que sobe e atinge direto seu superego. Por que um palhaço? Essa criatura representa o nosso lado mais “perdedor”, mais risível, cheio de falhas que a gente nunca gosta de assumir em público. Quando nos permitimos entrar no papel do palhaço, somos exatamente essa pessoa que demonstra a parte mais falha do nosso caráter, e que aceita e acha belo todas as nuances que formam essa coisa magnífica que é ser nós mesmo. E a partir da construção de uma roda de confiança, o Márcio Libar demonstra como construir conexões intensas internas, externas e eternas.
A terceira aula foi sobre improviso, com Márcio Balla. A principal lição é sobre a aceitação do erro. Quanto menos tempo você tem para reagir sobre as coisas, mais você tem que confiar em seus instintos e confiar que a sua reação é a correta, ou ao menos a melhor possível de ter sido feito – quando não existem alternativas. Essa sensação de aceitação sem remorso é uma das habilidades mais necessárias quando a gente fala da aceleração de um tempo no qual a adaptabilidade é condição primal da aprendizagem. Mais tempo para construir coisas e menos tempo para viver remorsos sobre suas decisões.
A quarta e última aula foi com a Tânia Mujica, uma artista de rua – mais especificamente uma estátua-viva de rua. Foi uma aula muito mais biográfica do que qualquer outra coisa. Se eu pudesse resumir numa palavra a habilidade que ela demonstrou seria resiliência. Ela veio pro Brasil com 5 reais no bolso e um filho na barriga, e aprendeu a viver segundo as regras das ruas – famoso street smarts – e como viver a partir da arte da forma mais orgânica e visceral possível: navegando o caos.
Vulnerabilidade, adaptabilidade, resiliência, navegar o caos. São algumas das habilidades que eu mesma, que trabalho também com educação, sempre comento com clientes. Mas o que o Bando faz com maestria é sair do processo mental, e aprender com o coração. São menos bullet points e mais sensações. Tangibilizar o intangível.
E por que estou falando disso agora, em janeiro, se o curso foi em setembro? Porque a próxima edição d’O Bando começa em março, e as pessoas que o fazem – Gabi, Felipe, Mica, Helena – são realmente muito especiais, então achei que valia registrar aqui a recomendação. Aliás, pode escrever pra mim aí embaixo com qualquer dúvida que respondo pessoalmente. Aqui vai o caminho das pedras:
https://www.obando.perestroika.com.br/
Porque, contrariando as doces palavras da professora Eumiko da 3ªE, diversão não é só na hora do recreio.
Foto destaque: O Bando
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os postsÉ cada novidade para as pessoas pagarem aquele “mico”!!!!!!
Ridículo!!!!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.