Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Mais uma vez o Popload Festival foi um sucesso, levando cerca de 15 mil pessoas ao Memorial da América Latina, com uma escalação de atrações que priorizava quem já passou dos 30 anos e não tem vergonha de fazer air guitar nem de dançar como se fosse 2004. Uma bela alternativa aos grandes festivais que priorizam as últimas novidades e a galera geração Z.
Com alguns problemas habituais de grandes festivais como fila para banheiros e o som embolado ou baixo em algumas passagens, o saldo geral do festival foi bastante positivo, com bandas inéditas por aqui, revivals certeiros e uma estrela de primeira grandeza como atração principal.
Vamo ver como foi?
Como o feriado começou feio e chuvoso, não foi fácil sair cedo de casa para pegar os primeiros shows do festival, ainda mais com a notícia do atraso do voo do Ilê Aiyê, que não conseguiu chegar a tempo de tocar no palco principal e acabou tocando no intervalo entre os shows. Pela transmissão ao vivo do UOL, deu pra sacar o bonito show da Luedji Luna, ainda com pouca gente presente e também o rap inglês da Little Simz, que juntou a maior parte do público mais jovem do festival, em show bastante divertido.
Entrando no palco pontualmente às 13:15h, o trio texano Khruangbin impressionou quem não conhecia a banda e hipnotizou os já iniciados, com sua mistura simples porém certeira de soul instrumental, grooves malemolentes e uma dose boa de dub e música latina. Cool até a medula, o power trio tem como centro das atenções a baixista Laura Lee, com visual elegantérrimo, charme tímido e potentes linhas de baixo, que ditavam o ritmo para os solos psicodélicos do guitarrista Mark Speer. O clima era tão good vibes que até o sol fez uma pontinha no show da banda. Só faltou o famoso hip hop medley, ponto alto dos seus shows e que rolou dois dias antes, no show do Rio de Janeiro.
A sueca Tove Lo veio logo em seguida, retornando ao Brasil depois de dois anos e mostrando que o país é uma grande influência em seu trabalho atual. Seu eletro-pop ganhou corpo com batidões e graves mais pesados, ela arriscou um twerk com jeitinho sueco e inclusive chamou para o palco o funkeiro MC Zaac, repetindo ao vivo a parceria registrada em disco na música “Are U Gonna Tell Her”. A energia e entusiasmo da cantora era tanto que rolou até um replay dos peitinhos à mostra, tal como no Lollapalooza de 2017.
Hora de ligar a máquina do tempo e voltar para 2004, com o retorno aos palcos do CSS. Visivelmente felizes, as garotas – e um baterista no lugar do membro fundador Adriano Cintra – fizeram ao vivo tudo que se esperava delas. Tanto quem ainda tem alguma lembrança de 15 anos atrás ou quem nunca teve a oportunidade de vê-las ao vivo conseguiu se divertir. Dedicando o show à “galera da Santa Cecília e da Vila Buarque” e com uma pegada bem mais politizada, Lovefoxx comandou a festa revivendo os hits “Alala”, “Superafim” e “Bezzi”. Vestida de vermelho com MST estampado, ela rolou no palco, deu uma choradinha de emoção e deixou no ar se a banda vai continuar em turnê – a gente acha que devia.
Com o clima de pistinha circa anos 2000 estabelecido, era hora do Hot Chip encher o palco do Popload Festival com sintetizadores antigos, beats eletrônicos e instrumentos orgânicos, uma combinação que, quando ligada na tomada e dada a largada, é garantia de diversão. A transição entre o lusco fusco cinzento e o início da noite deu o tom do show, com a banda abrindo a apresentação com músicas mais novas e esperando a luz natural baixar para lançar as brabas “Over And Over” e “Ready For The Floor”, quando a pista do Popload Festival ferveu de vez. Encerrando o show, a banda ainda mandou uma cover divertida do hit máximo dos Beastie Boys, “Sabotage”.
Na contramão do Hot Chip, o Raconteurs subiu ao palco do Popload Festival com cara de poucos amigos, enfiando guitarras sujas, vocais viscerais e peso considerável, para delírio da boa parte do público que esperava pelo bom e velho rock n’ roll. Homem de poucas palavras, Jack White prefere falar através de riffs e de suas letras, às vezes fazendo tabelinha com seu parça Brendan Benson, com quem divide alguns vocais. Com repertório centrado em seu disco mais recente, lançado este ano, a banda só tocou seu (único?) hit no final do show, a ótima “Steady As She Goes”.
Enfim Patti Smith. Estrela máxima desta edição do festival e figura lendária do rock, Patti tem noção de sua importância mas não faz a menor questão de se exibir por conta disso. Ao contrário, como uma sábia professora, ela quer compartilhar com os seus espectadores toda sua bagagem, suas influências, ídolos e seu repertório primoroso. Abrindo com o grito de guerra “People Have The Power”, ela passeou por hits próprios como “Pissing In The River”, “Free Money” e “Dancing Barefoot” e pinçou a dedo covers de Rolling Stones (“I’m Free”, cantada pelo mítico Lenny Kaye), Lou Reed (“Walk On The Wild Side”), Midnight Oil (“Beds Are Burning”) e a versão definitiva da já maravilhosa “After The Gold Rush” do Neil Young. O final apoteótico com “Because The Night” cantada em uníssono e uma furiosa versão de “Gloria” com a cantora esmerilhando as cordas da guitarra foi a lavada de alma que só uma figura iluminada como Patti Smith pode nos proporcionar.
Tavapassando e cliquei. Danilo Cabral e Flavia Lacerda registram seu dia a dia e todos os lugares por onde estão passando, em um mini-guia de shows, restaurantes, ruas e pixos no Instagram.
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