Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
O MWC – que até o ano passado se chamava Mobile World Congress – encerrou sua última edição em Barcelona com uma grande afirmação: o 5G já está entre nós e a tecnologia será a “gasolina” da próxima revolução digital. Durante toda a semana do evento, o assunto (além dos famosos telefones dobráveis que estavam hermeticamente protegidos dentro de caixas de vidro) dominou palestras, conversas e manchetes.
O 5G só chegará ao mundo real a partir do ano que vem em alguns países, mas foi possível ver a toda poderosa tecnologia – 100 vezes mais rápida que o 4G e com o poder de conectar muitos mais dispositivos à rede – em ação em diversos momentos (em uma cirurgia guiada à distância por um médico presente no recinto do evento, por exemplo) e conhecer os produtos e serviços que nos levarão à nova era digital, como os carros autônomos, táxis aéreos 5G e casas hiperconectadas através da internet das coisas.
Uma (longa) volta pelos 120 mil metros quadrados dos pavilhões de exposições deixava claro que o 5G já é uma realidade entre os fabricantes e uma sentença de morte para os que não subiram ao barco. Todas as principais novidades da feira, das novas HoloLens da Microsoft (que tinham fila de 2h para a demo) ao Minimó, o novo carro elétrico 5g da SEAT, nascem em um contexto no qual o 5G já faz parte da vida da maioria das pessoas.
Falando em produtos, o cabeça do lineup do MWC foi, sem margem para dúvidas, o tão comentado telefone dobrável. Mas, por mais empolgados que possamos estar com a ideia, os modelos apresentados no evento eram apenas o protótipo do que chegará ao mercado e estavam protegidos dentro de caixas de vidro. Pouquíssimos jornalistas conseguiram tocar um telefone dobrável e manuseá-lo sob o olhar desesperado dos assessores das marcas, morrendo de medo de um movimento exagerado quebrar a tela. O Galaxy Fold, da Samsung, e o Mate X, da Huawei, atraíram olhares de todos os lados mas ficou difícil saber e sentir como será o futuro dos smartphones com os dois produtos trancados dentro de uma gaiola.
Outros mil modelos de smartphones foram apresentados durante a semana, mas o volume de informação e a velocidade das novidades fazem tudo o que não é gigantesco se perder no tsunami tecnológico. Em comum, todas as novidades traziam ainda mais câmeras e mais resolução para fotos cada vez mais produzidas, em uma realidade que parece ser cada vez menos autêntica. Agarrando-se à sua singularidade, a Blackberry segue sem cair na vala dos lançamentos desenfreados e ainda se mantém fiel ao teclado que fez seus telefones famosos lá no começo do milênio.
A realidade virtual e aumentada estava por todas as partes para contar que no futuro sua casa vai poder virar sala de aula e sua sala de TV, o estádio do Barça. Em um estande, você podia jogar futebol diante de um estádio lotado; em outro, fazer um tour pela Arábia Saudita ou se ver refletida em uma tela que predizia sua idade e seu estado de espírito. O sistema errou a minha idade dizendo que tinha 30 anos, mas acertou dizendo que eu estava com cara de cansada. A maioria dos estandes tinha seu cantinho de gente com capacete de VR fazendo gestos estranhíssimos para os que continuavam aqui nesse plano.
Os carros conectados foram outro hit. Do Google a empresas chinesas de telecom, todos deram seu pitaco virtual em como vamos dirigir nossos carros no futuro. O seu painel vai te dar toda a informação do carro em tempo real e cruzará dados com todos os outros dispositivos conectados ao 5G para que você evite engarrafamentos, desvie de acidentes, abra caminho para ambulâncias e evite atropelamentos. Em um futuro um pouco mais distante, você não se preocupará com nada disso e será apenas o passageiro.
O lugar mais visitado da área de exposições foi a Android Avenue, uma área externa imensa onde o Google criou um tour com passaporte e tudo por ambientes tunados pelo Android: uma casa, um carro, um loja de roupa, uma loja de discos, um café, uma casa de sucos, um quiosque de games e um jardim de selfies. Em cada ambiente era possível explorar o espaço utilizando os recursos do sistema, como o GoogleLens, GooglePlay, Live Transcribe, Google Assistant, Google Photos, Google Pay. Para cada ambiente visitado, um carimbo diferente no “passaporte”. Com mais de seis carimbos, os visitantes podiam ganhar prêmios.
Se no campo dos produtos o 5G é a realidade dominante, nas palestras e conferências do MWC, o futuro dá passos ainda mais largos. Nesse futuro, você poderá fazer o download do seu cérebro ou melhorar suas habilidades matemáticas com estimulação cerebral. Seu empregadores lerão seu código e não as experiências do seu curriculum. Pacientes com Alzheimer usarão realidade virtual para reviver cenas do seu passado. Em uma conferência com ares distópicos sobre conteúdo imersivo na qual apresentou o sistema de realidade virtual de sua empresa, Cher Wang, Fundadora e CEO da HTC, disse que a inteligência artificial interpretará nossos dados de maneira a “humanizar a tecnologia” e que seus produtos iriam “liberar a imaginação das fronteiras da realidade”. Sinistro?
Divididas por temáticas como Inteligência Artificial, Confiança Digital, Conteúdo Imersivo, Indústria 4.0 e Bem-Estar Digital, as conferências cobriram diferentes aspectos do nosso futuro e enfatizaram a importância de reconquistar a confiança dos usuários (o Trust Barometer da Edelman foi citado inúmeras vezes), garantir a segurança dos dados e criar da tecnologia um recurso inclusivo para todas as sociedades. A Secretária Geral Adjunta da ONU, Amina J. Mohammed, disse que essa é a responsabilidade mais urgente da indústria da tecnologia e fez um chamado às mulheres presentes, dizendo que elas seriam a disrupção do futuro digital.
A revolução tecnológica das sociedades emergentes também esteve presente nas discussões. Esse outro levante é bem menos faraônico, sem 5G ou realidade virtual: aplicativos de fintech e de assistência médica com vídeo consulta tem melhorado a qualidade de vida e a economia de países como Índia, África do Sul, Mianmar e Paquistão.
Four Years From Now é o nome do evento de startups do MWC e fala por si só: nele, startups de todo mundo se encontram para mostrar tudo o que veremos em quatro anos. Diferente do evento principal, o 4YFN é feito de jovens de tênis e camiseta em um ambiente muito mais relaxado. Tudo parece ser voltado ao mindset desse público: o formato das conferências é mais dinâmico e mais curto, os espaços são menos ostensivos e o conteúdo é mais amigável. O ponto alto do evento é o 4YFN Awards, a premiação oferecida cada ano a uma startup. A campeã de 2019 foi uma startup de tecnologia de segurança low-cost para dispositivos edge conectados.
Neste dias de MWC, o que deu para sentir é que todo mundo já subiu no ônibus 5G mesmo sem ele nem ter saído da garagem ainda. Quando sair, vai trazer na rabeira a revolução tecnológica que vai nos deixar um passinho mais perto dos Jetsons (sendo otimista). Nossa responsabilidade enquanto sociedade é cobrar da indústria da tecnologia que essa nova era seja mais transparente, mais segura e mais inclusiva.
Jornalista paulistana hiperativa que às vezes puxa o R lá do interior. Viciada em música, açúcar, livros e praia. É mais feliz no verão, acredita nos reviews do Foursquare e sempre dorme no meio filme. Há 5 anos, vive um caso de amor (correspondido) com Barcelona.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.